domingo, fevereiro 09, 2014

O caldeirão

Aos sessenta anos-sonhos de tua vida (portas
que se abrem e fecham
fecham e abrem
carcomidas)
                       ferve

a gordura e as unhas das palavras
seu licor umbroso, teus remorsos-pêlos
                                                           Ferve

e entorna o caldo, quebra o caldeirão
                                                       e enterra
teu faisão de jade do futuro
teu mavioso osso do passado

Agora que a madeira e o fogo de novo se combinam
e o inimigo nº 1 já não te enxerga
                                                   ou vai-se embora
varre a tua cabana e expõe ao sol tua língua
tua esperança tíbia
                              o tigre da Coréia da parede

É lícito tomar agora a concubina
E despentear na cama a lua escura, o ideograma


(poeta paraense falecido faz hoje 5 anos)

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