sábado, agosto 03, 2013

Canção do lago secando

Pela noite da minha trágica aventura,
Meu sofrimento é o achado que afago,
Se acordado, sofrendo,
E se a dormir, sonhando
Que sou lago.

Adeus, ó canas, cá me vou secando!
À míngua de nascente eu parto evaporado
Sem me ver partir!

Ainda se os que passam pudessem beber-me
Sem tornarem a passar
Pra maldizer-me...

Ainda se a menina reclinada à minha beira,
Que tanto e tanto me seduz ainda,
Viesse banhar-se
E depois se afogasse em mim, violada e linda...

Ainda se eu,
Profundo e vasto e longo,
Pudesse ter no mapa mancha azul e portos
E ser útil à navegação...

Finando-me abriria a justa e verdadeira causa
À minha sede e à minha direcção.


(poeta ansianense falecido faz hoje 74 anos)

2 comentários:

São disse...

Conhecia o nome do escritor, mas nunca lera este excelente poema.

Um abraço, meu amigo.

Sensualidades disse...

adorei

Bjinhos
Paula