How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
sábado, junho 08, 2013
Um Pouco
Mais de Nós
Podes dar
uma centelha de lua,
um colar de
pétalas breves
ou um
farrapo de nuvem;
podes dar
mais uma asa
a quem tem
sede de voar
ou apenas o
tesouro sem preço
do teu tempo
em qualquer lugar;
podes dar o
que és e o que sentes
sem que te
perguntem
nome, sexo
ou endereço;
podes dar em
suma, com emoção,
tudo aquilo
que, em silêncio,
te segreda o
coração;
podes dar a
rima sem rima
de uma
música só tua
a quem sofre
a miséria dos dias
na noite sem
tecto de uma rua;
podes juntar
o diamante da dádiva
ao húmus de
uma crença forte e antiga,
sob a forma
de poema ou de cantiga;
podes ser o
livro, o sonho, o ponteiro
do relógio
da vida sem atraso,
e sendo tudo
isso serás ainda mais,
anónimo,
pleno e livre,
nau sempre
aparelhada para deixar o cais,
porque o que
conta, vendo bem,
é dar sempre
um pouco mais,
sem factura,
sem fama, sem horário,
que a máxima
recompensa de quem dá
é o júbilo
de um gesto voluntário.
E, afinal,
tudo isso quanto vale ?
Vale o nada
que é tudo
sempre que
damos de nós
o que, sendo
acto amor, ganha voz
e se torna
eterno por ser único e total.
(José Jorge
Letria faz hoje 62 anos)
sexta-feira, junho 07, 2013
DESAPARIÇÃO
Sereno, à
flor do tempo,
recomponho o
desejo
de estar
vivo. Vejo
entrar pela
janela
o mesmo sol
de sempre;
finjo que
não conheço
seu calor,
sua máscara
amarela,
hepática.
Sei mais da
natureza
das nuvens,
e do vácuo
entre as
estrelas, negra
matéria; no
entanto,
quando me
entrego ao sol,
integro-me
ao ser sol:
narciso mais
que cego,
narciso
cegaluz.
(poeta
gaúcho que hoje faz 40 anos)
quinta-feira, junho 06, 2013
Germinal
Passou. A
vida é assim: é o temporal que chega,
Ruge,
esbraveja e passa, ecoando, serra a serra,
No furioso
raivar da indômita refrega
Que as montanhas
abala e os troncos desenterra.
Mas o
pranto, afinal, que essa cólera encerra
Tomba: é a
chuva que cai e que a planície rega;
E a cada
gota, ali, cada gérmen se apega
Fecundando,
a minar, toda a alagada terra.
Também o
coração do convulsivo aperto
Da dor e das
paixões, das angústias supremas,
Sente-se
livre, após, a um grande choro aberto.
Alma! já que
não é mister que ansiosa gemas,
Alma!
fecunda enfim nas lágrimas que verto,
Possas tu
germinar e florescer em Poemas!
(poeta
brasileiro falecido faz hoje 95 anos)
quarta-feira, junho 05, 2013
Identidade
Preciso ser
um outro
para ser eu
mesmo
Sou grão de
rocha
Sou o vento
que a desgasta
Sou pólen
sem insecto
Sou areia
sustentando
o sexo das
árvores
Existo onde
me desconheço
aguardando
pelo meu passado
ansiando a
esperança do futuro
No mundo que
combato morro
no mundo por
que luto nasço
(Mia Couto
faz hoje 58 anos)
Ruína
Sem
encontrar-se.
Viajante
pelo seu próprio torso branco.
Assim ia o
ar.
Logo se viu
que a lua
era uma
caveira de cavalo
e o ar uma
maçã escura.
Detrás da
janela,
com látegos
e luzes se sentia
a luta da
areia contra a água.
Eu vi
chegarem as ervas
e lhes
lancei um cordeiro que balia
sob seus
dentezinhos e lancetas.
Voava dentro
de uma gota
a casca de
pluma e celulóide
da primeira
pomba.
As nuvens,
em manada,
ficaram
adormecidas contemplando
o duelo das
rochas contra a aurora.
Vêm as
ervas, filho;
já soam suas
espadas de saliva
pelo céu
vazio.
Minha mão, amor.
As ervas!
Pelos
cristais partidos da morada
o sangue
desatou suas cabeleiras.
Tu somente e
eu ficamos;
prepara teu
esqueleto para o ar.
Eu só e tu
ficamos.
Prepara teu
esqueleto;
é preciso ir
buscar depressa, amor, depressa,
nosso perfil
sem sonho.
(poeta
andaluz nascido faz hoje 115 anos)
terça-feira, junho 04, 2013
Panfleto
Fere-me esta
idolatria mais do que todos os crimes:
Tanto fervor
desviado e perdido!
Tanta gente
ajoelhando à passagem do tempo
e tão poucos
lutando para lhe abrir caminho!
Há uma vida
inteira a jogar e gastar
no pano
verde imenso das campinas do mundo.
Há desertos
cativos de uma ausência dos povos.
Há uma
guerra devastando a vida,
enquanto a
supuserem redimida!
E em nós a
redenção quase perdida!...
Vamos
rasgar, ó poetas, esta mentira da alma,
vamos gritar
aos homens que os enganam,
que não é a
força, que não é a glória,
que não é o
sol nem a lua nem as estrelas,
nem os lares
nem os filhos, nem os mares floridos,
nem o prazer
nem a dor nem a amizade,
nem o
indivíduo só compreendendo as causas,
nem os
livros nem os poemas, nem as audácias heróicas,
— a redenção
sou eu, se formos nós sem forma,
sem
liberdade ou corpo, sem programas ou escolas!
Aqui está a
redenção. Tomai-a toda.
E se é
verdade a fome,
se é verdade
o abismo,
se é verdade
o pensamento úmido
que
pestaneja ansioso nos cortejos públicos,
se são
verdade as redenções que mentem:
Matem essa
gente para salvar a Vida!
E matem-me
com elas para que as queime ainda!
(Jorge de
Sena faleceu faz hoje 35 anos)
segunda-feira, junho 03, 2013
Olhas o
amanhecer
Olhas o
amanhecer,
vives o
amanhecer como o único instante
em que o céu
é entreaberto segredo de um deus mudo.
Espera: algo
vai se revelar e deves estar pronto
para
mergulhar teu sonho num poço de luz casta.
O intocado
te espera. E amanhece. E te iluminas
como se
trincasses com os dentes a polpa do absoluto.
(poeta
mineiro nascido faz hoje 95 anos)
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