sexta-feira, janeiro 02, 2015

Triângulo cabalístico

Eu sei que as túlipas
são os olhos de todos os aviões perdidos

Eu sei que as cidades
são os esqueletos das aves de rapina

Eu sei que os candeeiros ardendo de noite
são os pulmões dos peixes-voadores

Eu sei que o mistério
é uma dentadura abandonada

Eu sei que a loucura
é um braço solitário sorrindo eternamente

Eu sei que os meus olhos
são as tuas pernas frementes

Eu sei que os teus cabelos
são o meu acendedor de pirilampos

Eu sei que a tua boca
é o meu uivo solar

Eu sei que o teu peito e o teu sexo
são a minha água profundamente azul
onde se encontram todos os fantasmas
já perdidos há séculos.


(Mário Henrique Leiria nasceu faz hoje 92 anos)

2 comentários:

tulipa disse...

Lino
Cheirou-me que nesta poesia
havia a palavra "tulipa"
e vim marcar presença.

Transcrevo a resposta que deixei num dos meus blogues:

EU QUIS TERMINAR O ANO com espírito positivo daí que só podia pensar numa coisa completamente FABULOSA e LOUCA...
Acreditem que é mesmo o que eu gostaria de fazer, caso tivesse dinheiro.

LINO - é isso mesmo, já que não posso fazer, vamos sonhando!!!

XAMUAR ZÉ - O teu comentário diz tudo: "...De volta a este espaço que visito com prazer, passo para registar o optimismo e o bom gosto na fantasia em que também eu gostaria de embarcar..."
Obrigado por me compreenderes, sempre optimismo e fantasia ajudam muito, nos dias menos bons que vivemos.

E já estamos em 2015.

jrd disse...

Um poema admirável de um grande poeta.

Abraço