Cedendo ao
sono químico
Cedendo ao
sono químico o domínio da noite e o começo do dia,
doenças das
agências noticiosas da pequena cultura, as mesmas
que nos
disseram que os grandes livros ainda não foram escritos,
são a nossa
grande conversa de restaurante, com vários poetas
à beira da
homenagem, porque velhos, porque mortos, porque
com altas
qualidades em que, outrora, ninguém reparara.
Mas o
excelente arroz de pato desossado e o vinho muito bom
para o preço
mudaram o teor das tuas críticas. Fizeste mal isto,
e isto, e
mais isto, além disso é mentira que nietzsche tenha dito
uma coisa
daquelas. Baixo a cabeça como quando me obrigavam
a baixar
para apanhar um caldo, o boné voava e os calmeirões
riam-se
muito. Não fiques triste por eu te descobrir a careca.
Até
ideologia me punhas a estudar, as vertentes exactas das encostas
pobres, o
limite do desgosto amoroso. Sempre com um chicote,
sempre com
uma raiva que parecia renascer todos os dias.
Era como se
ao ousar escrever o meu pé tivesse tocado terra
sagrada e a
marca do choque, a flor em fogo, fizessem de mim
para sempre
um escravo, atado ao veneno que em doses bebia.
(poeta
setubalense que hoje faz 66 anos)
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