O Que Disse
o Trovão
Após o rubor
do archote no suor dos rostos
Após o
silêncio gelado nos jardins
Após a
agonia em terras pedregosas
Os brados e
os gritos
Da prisão e
do palácio e da ressonância
Do trovão
primaveril em montanhas distantes
Ele que era
vivo agora está morto
Nós que
éramos vivos agora vamos morrendo
Com alguma
paciência
Não há água
aqui mas apenas pedras
Só pedras
sem água e a estrada arenosa
Serpeante no
alto por entre as montanhas
Que são
montanhas de pedras e sem água
Se houvesse
água íamos parar e beber
Não se pode
entre as pedras parar ou pensar
O suor seco
e os pés na areia
Se ao menos
houvesse água entre as pedras
Boca cariada
de montanha morta incapaz de cuspir
Ninguém se
pode aqui erguer nem sentar nem deitar
Nem sequer
há silêncio nas montanhas
Só o trovão
seco e estéril e sem chuva
Nem sequer
há solidão nas montanhas
Mas rostos
vermelhos e ruins zombam e rosnam
Às portas de
casas de lama ressequida
Se houvesse água
E nenhumas
pedras
Se houvesse
pedras
E água
também
E água
(T.S. Eliot
faleceu a 4 de Janeiro de 1965)
Tradução de
Gualter Cunha
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