Ode órfica
(excertos)
Era tão
clara a tua voz, e tão
limpo o teu
canto inaugural, ó noite,
que o tempo
adormecia em tuas mãos!
De início,
rejeitamos teus conselhos
dissimulados.
Nautas fugitivos,
eis que a
nave de Orfeu, que pilotávamos,
não nos
pertence mais, pois a ofertamos
àqueles que
hão de vir colher connosco
a treva e o
medo, embora eles, no lago,
com a vida e
as águas entre os braços, nos
surpreendam
no triângulo da morte,
os olhos
florescendo como peixes
que o teu
milagre, ó noite, fecundou!
Transportamos
pirâmides nos ombros,
para, sobre
elas, construir o mundo
que nós, por
sermos livres, sugerimos.
De música
fizemos nossos mares,
para conter
o céu que nos persegue.
Mas somos
frágeis para suportar
a cabeça do
Eterno, que se inclina
sonhando
sobre nós, enquanto vamos,
ladrões
famintos, carregando sombras.
Morrer? Não
era a morte o que sonhávamos.
Somos pobres
demais para morrer
com tanto
ouro nas mãos, tanto arco-íris
nos olhos
desta aurora que engendramos.
(poeta
sergipiano nascido faz hoje faz 96 anos)
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