How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
quarta-feira, janeiro 31, 2007
Qualquer semelhança entre este desenho e a campanha do referendo não é pura coincidência.
Amável oferta do autor
terça-feira, janeiro 30, 2007
segunda-feira, janeiro 29, 2007
domingo, janeiro 28, 2007
sábado, janeiro 27, 2007
quarta-feira, janeiro 24, 2007
terça-feira, janeiro 23, 2007
segunda-feira, janeiro 22, 2007
domingo, janeiro 21, 2007
sábado, janeiro 20, 2007
sexta-feira, janeiro 19, 2007
quinta-feira, janeiro 18, 2007
...das declarações de Gentil Martins...
(Amável oferta do autor)
... e de outros defensores do "não".
Cumprem-se hoje 23 anos sobre a morte daquele que ficou conhecido como o poeta de Abril, de seu nome José Carlos Ary dos Santos.
A mão implacável da morte não permitiu que ele continuasse a encher-nos com a sua poesia de amor, paixão e sarcasmo e a maravilhar-nos com a sua qualidade de dizer.
Por mero acaso, consegui encontrar há uns anos, perdido numa grande superfície, uma CD com o Sermão de Santo António aos Peixes, do Padre António Vieira, dito pelo Zé Carlos. Sublime.
De um humilde admirador que, apesar dos escasso convívio, teve o privilégio de o conhecer ainda antes de Abril, aqui fica uma singela homenagem.
Poeta Castrado, Não!
Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!
Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.
Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:
Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?
Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?
E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!
Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!
José Carlos Ary dos Santos
quarta-feira, janeiro 17, 2007
O crânio descoberto em 1952 perto da cidade de Hofmeyr, na África do Sul dá nova força à teoria de que os humanos migraram há uns milhares de anos da África para a Eurásia.
Um grupo de investigadores declarou que a idade do crânio Sul Africano, que dataram de há cerca de 36.000 anos, coincidia com a idade de crânios de humanos que nessa altura viviam na Europa, no extremo oriente e mesmo na Austrália e tinha estreitas semelhanças com os destes humanos.
Numa comunicação publicada na edição do dia 12 de Janeiro da revista Science, uma equipa de investigação liderada por Frederick E. Grine, da Universidade Estadual de Nova Iorque, em Stony Brook, concluiu que o crânio Sul Africano forneceu uma confirmação decisiva das provas arqueológicas e genéticas que indiciam que os humanos, na sua forma moderna, tiveram origem na África Sub-Sahariana e migraram, quase inalterados, para povoar a Europa e a Ásia. O Dr. Grine e os seus colegas disseram, ao anunciar a descoberta, que o crânio é a primeira prova fóssil que “está de acordo com a Teoria da Migração, que preconiza que humanos semelhantes aos que habitaram a Eurásia deviam encontrar-se na África Sub-Sahariana há cerca de 36.000 anos".
Por ocasião da sua descoberta, há 54 anos, o crânio estava praticamente completo, mas os ossos estavam degradados e não sobrava carbono suficiente para que os cientistas, nessa altura, pudessem proceder a uma datação por radiocarbono.
Usando uma nova tecnologia, Richard Bailey e outros investigadores da Universidade de Oxford mediram o montante da radiação que foi absorvida pelos grãos de areia que encheram a caixa craniana desde o seu enterro. Calcularam a taxa anual à qual a radiação foi absorvida pela areia e compararam-na com os resultados de uma Tomografia Axial Computorizada do osso. E, assim, determinaram que o crânio de Hofmeyr pertenceu a um humano que viveu há 36.000 anos, com uma variação até 3.000 para mais ou para menos.
Uma nova machadada da ciência no criacionismo da “terra jovem”.
Mais informação aqui e aqui
terça-feira, janeiro 16, 2007
"Um bombeiro tinha acabado de salvar uma Dobermann prenha de um incêndio em sua casa, resgatando-a e levando-a para o relvado da frente. O bombeiro teve medo dela no início, pois nunca antes tinha resgatado um dobermann.
Depois de a ter largado, voltou para combater as chamas. Quando finalmente o fogo foi extinto, o bombeiro sentou-se na relva para recuperar o fôlego e descansar. Um fotografo do jornal "The Observer", de Charlotte, Carolina do Norte, notou a dobermann olhando para o bombeiro. Ele viu-a andar na direcção dele e perguntou-se o que a cachorra ia fazer.
Enquanto o fotógrafo levantava a câmara, ela aproximou-se do bombeiro que tinha salvo a sua vida e as dos seus filhos e beijou-o.
Este é o verdadeiro gesto de gratidão e carinho...depois dizem que os animais são irracionais.... "
Desta vez decidi tirar tudo a limpo. Uma pesquisa no Google a Doberman + Fireman + Charlotte deu mais de 25.000 respostas, as primeiras das quais dizem que a fotografia é verdadeira mas a noticia está incorrecta, como se pode ver pela seguinte transcrição:
"The scene pictured above was captured by Charlotte Observer Patrick Schneider during a house fire in July 1999 and shows firefighter Jeff Clark receiving a doggie greeting from a pregnant red Doberman named Cinnamon. As the Observer described the circumstances behind the photograph in an April 2005 retrospective: Charlotte firefighter Jeff Clark and Cinnamon, a pregnant red Doberman, gained international exposure with this photograph snapped by the Observer's Patrick Schneider during a July 1999 house fire. Seen through wire services and the Internet, the picture has moved people around the world and is still a top reprint seller. As Clark himself explained, he didn't rescue the dog, and his encounter with her was pure happenstance: We didn't do anything (special) to save Cinnamon. When we have a house fire, we have to do a primary search. There could be people home and inside. Our first major concern is life safety. That house was full of smoke and we couldn't see it very well. All I saw was a dog run out, and one was (already) in the backyard. I think Cinnamon got out the door herself.
The dog approached me. As soon as I knelt down and took my mask off, Patrick was coming around the corner of the house and took the picture. Jeff Clark is still with the Charlotte Fire Department. Cinnamon eventually gave birth to five puppies and lived for several more years until she passed away in January 2005.
Antes de se reencaminharem as mensagens, não custa nada confirmar. O boato é uma coisa muito perigosa. Desta mensagem específica, não vem mal nenhum a ninguém. Mas outras podem acarretar danos irreparáveis, pelo que todo o cuidado é pouco.
segunda-feira, janeiro 15, 2007
domingo, janeiro 14, 2007
Há quem diga que é pouco convencional. Há mesmo quem se vanglorie de viver contra todas as convenções. Mas será isso possível? O filósofo Ludwig Wittgenstein ensinava que nossa comunicação não passa de um grande jogo de palavras. Não há relação direta entre palavras e coisas. Palavras são inventadas arbitrariamente. Seu sentido é fruto de uma convenção e tudo depende do uso que fazemos delas. Estabelecem-se, pois, convenções, a partir de algo arbitrário. Há anos numa aula de filosofia em Munique escutei a seguinte história que faz pensar. Havia um professor que após a aposentadoria se entediava muito porque tudo lhe parecia chato e sem graça A mesa era sempre mesa, as cadeiras, cadeiras, a cama, cama, o quadro, quadro. Por que não poderia ser diferente? Os brasileiros chamam a casa de casa, os franceses de maison, os alemães de Haus e os ingleses de home. E resolveu dar outros nomes às coisas já que tudo nessa área é mesmo arbitrário. Assim chamou à cama de quadro, a mesa de tapete, a cadeira de despertador, o jornal de cama, o espelho de cadeira, o despertador de álbum de fotografias, o armário de jornal, o tapete de armário, o quadro de mesa e o álbum de fotografias de espelho. Portanto: o homem ficava bastante tempo no quadro, às nove tocava o álbum de fotografias, se levantava e punha-se em cima do armário para não apanhar frio nos pés, depois tirava a roupa do jornal, vestia-se, olhava para a cadeira na parede, sentava-se no despertador junto ao tapete e folheava no espelho até encontrar a mesa da filha. O homem achava tudo aquilo muito engraçado. As coisas começaram de fato a mudar. Treinava o dia inteiro para guardar as significações novas que dava às palavras. Tudo se chamava de outra maneira. Ele já não era um homem mas um pé, e o pé era uma manhã e a manhã um homem. E continuou a dar significações diferentes às palavras: tocar a campainha diz-se pôr, ter frio diz-se olhar, estar deitado diz-se tocar, estar de pé diz-se ter frio e pôr diz-se folhear. E a coisa ficou então assim: Pelo homem, o pé ficou bastante tempo tocando no quadro, às nove pôs o álbum de fotografias, o pé teve frio e folheou-se no armário para não olhar para a manhã. E o aposentado se divertia com as novas designações que atribuía às palavras. Fez tanto que acabou realmente esquecendo a linguagem comum com a qual as pessoas se comunicam entre si. Quando conversava com os outros tinha que fazer muito esforço porque somente lhe vinham à mente os sentidos que havia dado às palavras. Ao quadro dele, as pessoas chamavam de cama, ao tapete de mesa, ao despertador de cadeira, à cama de jornal, a mesa de quadro e ao espelho de álbum de fotografias. Ria muito quando ouvia as pessoas falarem:"hoje vou assistir o jogo de abertura da copa mundial de futebol" ou "como faz frio hoje". Ria porque não entendia mais nada. Mas o triste da história é que ninguém mais o entendia e ele também não entendia mais ninguém.
Texto publicado no site do autor em 9 de Junho de 2006 e aqui afixado com sua autorização
sábado, janeiro 13, 2007
Para quem tem televisão por cabo, o canal AXN é, cada vez mais, uma excelente alternativa à pasmaceira pacóvia dos três canais generalistas nacionais.
Excelentes séries, transmitidas a horas em que o cidadão comum as possa ver calmamente, e filmes, quase sempre muito bons.
Foi graças ao AXN que ontem vi, pela primeira vez, o filme "Em nome do pai". Realizado por Jim Sheridam em 1993, mostra-nos os dois lados da justiça Britânica.
Uma face negra, muito negra, pontuada por investigadores, brutais no espancamento e tortura psicológica dos presos, especialistas forenses sem quaiquer escrúpulos em fabricar provas condenatórias e sonegar à defesa provas ilibatórias, e um um arremedo de juiz que tem esta frase lapidar que cito de cor: "estou surpreendido por não ter sido acusado de traição à coroa; nesse caso, a sentença poderia ser a pena de morte por enforcamento que, nas actuais circunstâncias, não teria quaisquer dúvidas em aplicar". Como resultados, vários inocentes, entre os quais crianças, são condenados a severas penas de prisão, perpétua em alguns casos, por causa de um atentado do IRA que não cometeram.
E uma face preocupada em fazer justiça, protuganizada por uma advogada incansável na busca da verdade e por um juiz que, 15 anos depois, não se atemoriza com a conversa dos investigadores fraudulentos e encerra todos os casos com a respectiva absolvição.
Caso verídico passado no início dos anos setenta, este episódio mostra-nos o que pode acontecer quando se concede à polícia carta branca para, em situações de crise, prender e interrogar, durante dias e sem qualquer controlo judicial, quem muito bem entendam. Estanhas coincidências com o que se passa nos dias actuais.
sexta-feira, janeiro 12, 2007
Foi aprovada no Congresso uma nova lei destinada a reverter a decisão de Bush, tomada em Agosto de 2001, de vedar o financiamento público à investigação em células estaminais embrionárias. Na sequência dessa decisão, somente puderam continuar a ser financiadas pelo orçamento federal as linhas de células já derivadas nessa altura, cerca de duas dezenas.
Em tudo semelhante à lei que foi vetada há poucos meses por Bush, a nova lei teve um apoio esmagador (253 votos a favor - 37 dos quais republicanos - e 174 contra) e tem a sua aprovação no Senado praticamente garantida. No entanto, corre o risco de voltar a ser vetada, dado que só com 290 votos ou mais a favor o presidente seria obrigado a arrepiar caminho.
Enfrentando uma grande oposição da opinião pública e dos politícos e o cepticismo da maioria do Congresso sobre o reforço do envolvimento no atoleiro do Iraque, e sob ameaça dos democratas de não aprovarem o financiamento da deslocação de mais tropas, veremos como reage a este novo desafio o guerreiro que diz ter sido guiado por Deus para defender os campos petrolíferos do Médio Oriente.
Na imagem a Representatante Diana DeGette, Democrata do Colorado, e membros do seu pessoal de apoio brindam à aprovação da lei.
(fotografia de Jamie Rose para The New York Times)
quinta-feira, janeiro 11, 2007
Tenho recebido de várias proveniências, mensagens segundo as quais a GNR pode interpelar os condutores por causa de CDs não-originais que tenham no carro.
Por cortesia do Carlos Medina Ribeiro, do Sorumbático, que afirma ter recebido a informação de fonte segura e fiável e autoriza a sua reprodução, aqui fica:
"Isto é uma coisa sem pés nem cabeça, fruto de algum inventor (de que este mundo da Internet é alfobre), ou da parvoíce de algum GNR, que se armou em esperto.
É perfeitamente legal que o cidadão faça uma cópia dos seus CDs para usar no carro, ou para o IPOD, ou para qualquer outro sistema de escuta.
É a chamada cópia privada, contemplada na lei. O automóvel não é um espaço público, onde a difusão e utilização da música já tem de ser feita a partir de suportes legais, ou eventualmente de outros (disco rígido do computador, por exemplo), tendo nesse caso de ter os CDs legais junto a si".
Cartune do Sergei, retidado da sua página
Pedro Galvão é licenciado e mestre em Filosofia pela Universidade de Lisboa, onde prepara o doutoramento em Ética. É autor de artigos de ética normativa, tem publicado traduções de obras filosóficas e edita a Trolei, uma revista electrónica de filosofia moral e política.
Para o livro “A ética do aborto”, editado em 2005 pela Dinalivro, seleccionou, traduziu e organizou seis textos marcantes sobre as implicações éticas do aborto, três que o defendem e três que o condenam. Mas todos colocam o debate num nível elevado e de grande sofisticação.
Falta exactamente um mês para que nos possamos pronunciar em referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, até às 10 semanas de gestação, a pedido da mulher.
Este livro de 199 páginas, com uma excelente introdução do tradutor e organizador, lê-se de um fôlego. Fazê-lo, ajudará a limpar a mente dos argumentos maus e falaciosos que têm sido esgrimidos na autêntica batalha campal que tem sido o pseudo debate a que assistimos diariamente.
quarta-feira, janeiro 10, 2007
terça-feira, janeiro 09, 2007
domingo, janeiro 07, 2007
Cerca de 30 horas depois de eu ter aqui afixado um post sobre a pequena Ashley, a RTP1 abordou a questão.
E o que fez? Durante os mais de dois minutos que durou a reportagem, passou várias das fotografias que constam do blogue dos pais da menina, deu a conhecer alguns dos motivos dos pais e entrevistou um "especialista", Daniel Serrão.
Isso mesmo. Um professor catedrático de medicina de 78 anos de idade, que representa o que de mais retrógrado existe na área da bioética médica. Que subscreveu a petição para que se fizesse um referendo sobre a Procriação Medicamente Assistida e sobre a utilização de embriões excedentários na Investigação em Células Estaminais Embrionárias. Que, entre outras organizações, é membro da Academia Pontifícia para a Vida, grupo de aconselhamento do Papa para as questões ligadas à vida.
O que se esperava de uma pessoa destas? Claro que só podia ser uma posição frontalmente contra, com acusações de falta de ética aos médicos que lidaram com a situação e a condenação liminar dos pais da menina.
É esta a televisão de serviço público que temos. Quem tiver uma visão diferente da da casa, não é ouvido.
Se alguém tiver alguma dúvida, leia o Parecer sobre investigação em células estaminais, do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vída (47/CNECV/2005) e a declaração de voto do venerando professor.
sábado, janeiro 06, 2007
Ashley é uma menina que será menina até à morte.
Nasceu em Seattle, nos Estados Unidos, de parto normal em 1995. Logo após o nascimento foi-lhe diagnosticada uma doença cerebral de causas desconhecidas e as suas faculdades mentais e motoras nunca se desenvolveram.
Ao longo dos anos, neurologistas, geneticistas e outros especialistas realizaram todos os testes tradicionais e experimentais conhecidos, mas não conseguiram ainda determinar uma causa ou fazer um diagnóstico da doença, pelo que a apelidaram de “encefalopatia estática de etiologia desconhecida”.
Tem o mesmo nível de desenvolvimento mental desde os três meses de idade e nunca poderá andar, falar ou sentar-se e é alimentada por um tubo.
Há três anos começou a mostrar sinais de puberdade precoce, o que aumentou a ansiedade dos pais quanto ao impacto da fertilidade e do rápido crescimento do peso e altura da menina na sua qualidade de vida. Em discussões com os médicos do Hospital Pediátrico de Seattle foi idealizado o tratamento: parar o crescimento físico (uma vez que o mental tinha parado aos 3 meses de idade). Através de cirurgias e da administração de elevadas doses de estrogéneo, em 2004 o crescimento físico foi “congelado” nos 9 anos de idade.
Com uma esperança de vida normal, Ashley ficará até ao fim dos seus dias com uma mente de 3 meses de idade, uma altura de 130 cm, em vez dos esperados 168 cm, e com um peso de 34 kg , em vez dos previsíveis 57 kg.
Quando a notícia foi conhecida, a reacção foi violenta . Nas salas de conversação ouviram-se comentários de “isto faz lembrar eugenia”, “isto cheira mal” e quejandos. Também organizações que representam deficientes manifestaram o seu “horror”. Os pais dizem que só tomaram essa decisão por amor, que assim poderão ter ao colo a sua “Pillow Angel”, como lhe chamam, tratar bem dela, levá-la em viagem e fazer com que ela tenha uma vida mais digna e confortável, evitando os ferimentos que, se fosse mais pesada, lhe seriam provocados pelo facto de estar quase sempre imóvel.
Os pais da Ashley escolheram manter o anonimato. Sabe-se apenas que são profissionais com educação universitária e que residem algures em Washington DC. Mas afixaram num blogue um extenso esclarecimento sobre o seu desejo de parar o crescimento da filha.
É claro que para cada inovação médica se levanta uma nova questão ética. E creio que aqui a questão ética é sobre o que mantém esta família unida; é sobre o senso comum e a decência humana; é sobre os pais de uma criança deficiente – que afinal de contas, também têm direito à existência em condições de dignidade – e os limites da sua resistência física e mental. E, para mim, a atitude destes pais foi um enorme acto de amor.
quinta-feira, janeiro 04, 2007
terça-feira, janeiro 02, 2007
Não costumo ouvir as mensagens de Ano Novo. Por isso fiquei incrédulo quando ouvi que Bento XVI teria comparado o aborto, a investigação em células estaminais embrionárias e a eutanásia ao terrorismo. Seria mesmo assim?
Decidi, pois, consultar a fonte. E lá está, no ponto 5 da Mensagem para a Celebração do Dia Mundial da Paz : “Quanto ao direito à vida, cabe denunciar o destroço de que é objecto na nossa sociedade: junto às vítimas dos conflitos armados, do terrorismo e das mais diversas formas de violência, temos as mortes silenciosas provocadas pela fome, pelo aborto, pelas pesquisas sobre os embriões e pela eutanásia. Como não ver nisto tudo um atentado à paz?”
Ainda atordoado, verifiquei a versão inglesa, não fosse haver algum erro de tradução. Mas não, pois também lá consta: “As far as the right to life is concerned, we must denounce its widespread violation in our society: alongside the victims of armed conflicts, terrorism and the different forms of violence, there are the silent deaths caused by hunger, abortion, experimentation on human embryos and euthanasia. How can we fail to see in all this an attack on peace?”
Nas versões francesa, espanhola e italiana (que presumo ter sido a original), o significado é o mesmo, mais ponto menos vírgula. Então uma mulher que decide abortar e os profissionais de saúde que lhe dão apoio são terroristas ou equivalentes? E os cientistas que fazem investigação em embriões, também?
Não posso aceitar tal qualificativo. Tenho lá em casa uma mestranda em biologia molecular e genética que, se tiver sorte, tem grandes possibilidade de vir a fazer investigação nessa área. E nunca será uma terrorista por isso. Nem para mim nem para qualquer pessoa de boa fé, pois:
Terrorismo é negar o funeral religioso a Piergiorgio Welbi, que desejou morrer, e concedê-lo a um carniceiro como o Pinochet;
Terrorismo é condenar à morte milhões de seres em África, ao considerar pecaminoso o uso do preservativo, ao enganar o povo ignorante dizendo que não protege do vírus da Sida e ao patrocinar a destruição de centenas de milhares de unidades para lá enviadas pelos países desenvolvidos;
Terrorismo é proibir a interrupção voluntária da gravidez quanto o embrião tem anomalias graves e exigir, como se faz no cânone 241 § 1, que apenas sejam admitidos no seminário maior aqueles que, atendendo (...) à sua saúde física e ao seu equilíbrio psíquico, (...), sejam considerados capazes de dedicar-se aos sagrados ministérios de maneira perpétua;
Terrorismo é querer intervir na relação íntima do casal;
Terrorismo é obrigar ao nascimento de filhos indesejados que irão, muitos deles, engrossar o exército dos mal tratados e dos miseráveis;
Terrorismo é fazer das mulheres cristãos de segunda, ao impedir o seu acesso ao sacerdócio;
Terrorismo é negar o acesso aos sacramentos a um casal cujo casamento não resultou e resolveu separar-se e refazer a vida com outros companheiros;
Terrorismo é estigmatizar os crentes homossexuais;
Terrorismo é pôr entraves ao desenvolvimento da ciência e à cura de incontáveis doenças, ao não admitir a investigação em células estaminais embrionárias.
Terrorismo é impedir um casal de ser feliz, ao reprovar o recurso à Procriação Medicamente Assistida;
Terrorismo, o mais hediondo terrorismo, é dar cobertura a padres pedófilos, subtraindo-os à justiça civil e mudando-os de paróquia.
É tempo de mais crentes dizerem basta. Afinal, a igreja somos nós.











