A Mais Bela
Noite do Mundo
Hoje,
será o fim!
Hoje
nem este
falso silêncio
dos meus
gestos malogrados
debruçando-se
sobre os
meus ombros nus
e esmagados!
Nem o luar,
pano baço de cenário velho,
escutando
a minha
prisão de viver
a lição que
me ditavam:
- Menino!
acende uma vela na tua vida,
que o sol, a
luz e o ar
são perfumes
de pecado.
Tem braços
longos e tentadores - o dia!
- Menino!
recolhe-te na sombra do meu regaço
que teus pés
são feitos
de barro e cansaço!
(Era esta a
voz do papão
pintado de
belo
na máscara
de papelão).
Eram inúteis
e magoadas as noites da minha rua...
Noites de
lua
que
lembravam as grilhetas
da minha
vida parada.
- Amanhã,
terás os
mestres, as aulas, os amigos e os livros
e o
espectáculo da morgue
morando
durante dias
nos teus
sentidos gorados.
Amanhã,
será o
ultrapassar outra curva
no teu
caminho destinado.
(Era esta a
voz do papão
que acendia
a vela, tinha regaço de sombra
e velava
as noites da
minha rua e a minha vida
e pintava-se
de belo
na máscara
de papelão).
Hoje,
será o fim!
Hoje,
nem a sombra
do que há-de vir,
nem os
mestres, nem os amigos, nem os livros,
nem a
fragilidade dos meus pés
feitos de
barro e cansaço!
Todas as
minhas revoltas domadas,
todos os
meus gestos em meio
e as minhas
palavras sufocadas
terão a sua
hora de viver e amar!
Hoje,
nem o
cadáver a sorrir na morgue,
nem as mãos
que ficaram angustiosas,
arrepiadas
no seu medo
de findar!
Hoje,
será a mais
bela noite do mundo!
(Fernando
Namora faleceu faz hoje 26 anos)
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