Corpo
Habitado
Corpo num
horizonte de água,
corpo aberto
à lenta
embriaguez dos dedos,
corpo
defendido
pelo fulgor
das maçãs,
rendido de
colina em colina,
corpo
amorosamente humedecido
pelo sol
dócil da língua.
Corpo com
gosto a erva rasa
de secreto
jardim,
corpo onde
me deito
para sugar o
silêncio,
ouvir
o rumor das
espigas,
respirar
a doçura
escuríssima das silvas.
Corpo de mil
bocas,
e todas
fulvas de alegria,
todas para
sorver,
todas para
morder até que um grito
irrompa das
entranhas,
e suba às
torres,
e suplique
um punhal.
Corpo para
entregar às lágrimas.
Corpo para
morrer.
Corpo para
beber até ao fim –
meu oceano
breve
e branco,
minha
secreta embarcação,
meu vento
favorável,
minha vária,
sempre incerta
navegação.
(Eugénio de
Andrade nasceu faz hoje 92 anos
1 comentário:
Eugénio. Único, total e inteiro.
Abraço
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