E para a meia noite...
...uma grande facado na dieta da diabetes, com autorização especial do médico de família.
Para acompanhar, um Veuve Clicquot Ponsardin Brut, extravagância a que me habituei quando ia todos os meses a Paris.
Imagem da minha fotógrafa privativa
How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
quarta-feira, dezembro 30, 2009
Grande nódoa
Embora demasiado conservador para o meu gosto, considerava o Times de Londres um jornal digno de crédito.
No passado dia 16 de Dezembro publicou uma notícia bombástica afirmando que tinha obtido um documento confidencial de uns serviços secretos (não identificados) que mostrava que o Irão estava a trabalhar no teste de uma componente chave final de uma bomba nuclear, publicando, até, uma tradução para inglês da alegada prova.
De imediato se ouviram as vozes habituais de Israel e dos europeus e estado-unidenses a mando do lóbi nazi-sionista reclamarem o bombardeamento do Irão, inclusive com armas nucleares.
Mas, como se apanha mais depressa um mentiroso do que um coxo, bastaram escassos 11 dias para a CIA concluir que se tratava de uma falsificação. Mais disse a fonte da CIA que os Estados Unidos não têm nada a ver com a falsificação do documento e que Israel é o principal suspeito, embora não se possa pôr de parte o papel da Inglaterra. Gareth Porter, historiador, jornalista de investigação e analista de política externa e militar dos Estados Unidos, revela aqui toda a tramóia.
Afinal, a quem interessa que milhões de iranianos sejam as vítimas da terceira (e seguintes) bomba atómica?
terça-feira, dezembro 29, 2009
Vida
Vivo a minha vida em círculos cada vez maiores
que se estendem sobre as coisas.
Talvez não possa acabar o último,
mas quero tentar.
Rainer Maria Rilke
Vivo a minha vida em círculos cada vez maiores
que se estendem sobre as coisas.
Talvez não possa acabar o último,
mas quero tentar.
Rainer Maria Rilke
Exemplo de luta
Chama-se Hedy Epstein, tem 85 anos, é judia estado-unidense sobrevivente do Holocausto, acha que houve crimes de guerra em Gaza e está em greve de fome no Cairo, juntamente com várias avós, para protestar contra o Egipto por não deixar entrar na Faixa de Gaza a Marcha pela Liberdade de Gaza, na qual participa. Anti-semita, está-se mesmo a ver!
Chama-se Hedy Epstein, tem 85 anos, é judia estado-unidense sobrevivente do Holocausto, acha que houve crimes de guerra em Gaza e está em greve de fome no Cairo, juntamente com várias avós, para protestar contra o Egipto por não deixar entrar na Faixa de Gaza a Marcha pela Liberdade de Gaza, na qual participa. Anti-semita, está-se mesmo a ver!
segunda-feira, dezembro 28, 2009
Acorde noturno
O acorde da noite
mais uma vez tombou
sobre meu corpo migrante,
e, sendo a música a vastidão no instante,
deixei-me sonhar em volta dela.
Ela que me tocou na noite,
na correnteza de músicas estranhas,
como mar revolto entre as sombras dos naufrágios.
E navegamos,
sacrificando o mar, multiplicando as margens,
a infinita música dos presságios,
exilados nessa travessia,
onde somente as estrelas morrem por nós.
Felipe Stefani*
*poeta brasileiro
O acorde da noite
mais uma vez tombou
sobre meu corpo migrante,
e, sendo a música a vastidão no instante,
deixei-me sonhar em volta dela.
Ela que me tocou na noite,
na correnteza de músicas estranhas,
como mar revolto entre as sombras dos naufrágios.
E navegamos,
sacrificando o mar, multiplicando as margens,
a infinita música dos presságios,
exilados nessa travessia,
onde somente as estrelas morrem por nós.
Felipe Stefani*
*poeta brasileiro
domingo, dezembro 27, 2009
sábado, dezembro 26, 2009
Quem pensa na casa
Morar numa casa. Numa casa com asas. Voar lá dentro, para fora. A casa em que você mora, em que você ri e chora, em que você ama e dorme, come e brinca, lê e escreve, pensa e morre. A casa para a qual você corre no fim do dia. Na casa, teto e paredes, escada e jardim, banheiro e cozinha, quintal e copa, sala e quartos, janelas e portas.
Na casa, você conversa com aqueles que ama e admira. Você faz versos. Você se veste e se despe. Você recepciona e se despede. Na casa, você anda descalço, toma remédio, toma café, troca lâmpada, lava louça, tira soneca, vê TV, xinga político, beija filhos, faz de tudo um pouco.
Não há casas perfeitas. Em toda casa falta um copo, falta uma linha, um motivo a mais de segurança. Em toda casa há um fantasma, pequeno que seja, num canto, gemendo, assombrando nossa imaginação.
Quem pensa na casa já está morando ali. Quem pensa na casa leva o pensamento longe demais. A casa voadora atravessa o tempo, bebe do passado, afugenta o presente, pisca um olho para o futuro.
Minha casa não é esta ou aquela. A casa definitiva não se deve construir no meio da ponte. A vida é ponte que nos leva para além do poente. Mas enquanto estamos a caminho, é bom ter uma casa onde possamos entrar para descansar as pernas.
A casa possível jamais será a casa ideal. A ideal não tem nada de mau. A casa ideal já existe. Eu é que ainda não recebi as chaves. A casa ideal foi edificada com materiais eternos. A casa ideal flutua divinamente.
Por enquanto, preciso da casa possível. A imperfeita casa, na qual baratas entrarão. Na qual encontrarei rachaduras. Na qual sentirei por vezes calor excessivo, frio, tédio, medo, solidão, angústia.
Casa, casinha, casarão. Casa pedindo reforma. Casa vulnerável. Casa aconchegante. Casa que um dia cairá, casa à mercê da podridão, à mercê da maldade humana.
Estou pensando na casa, cheia de luz, livros, crianças, quadros, cores, sabores, perfumes, palavras, silêncios, verdades.
A casa também pensa em nós. Está aberta e trancada, vigiada e inocente, na rua movimentada, no beco, necessitada e indiferente, cercada de flores, no meio do deserto, habitada por segredos, cobiçada e desprezada, imagem perdida e reencontrada no horizonte.
*professor e escritor
sexta-feira, dezembro 25, 2009
NATAL CHIQUE
Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.
Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.
Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo.
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo.
Vitorino Nemésio
quinta-feira, dezembro 24, 2009
Poema de Natal
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinícius de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinícius de Moraes
A Virgem
A família comia tranquila quando, de repente, a filha de 10 anos comenta tristemente:
- Tenho uma má notícia... Já não sou virgem!
E começa a chorar visivelmente alterada, com as mãos no rosto e um ar de vergonha. Um silêncio sepulcral. E os pais começam a trocar acusações mútuas...
- Tu, sua grande ordinária! – diz o pai dirigindo-se à esposa - isto é por tu seres como és! Por te vestires como puta barata e te arreganhares para o primeiro imbecil que chega cá a casa. Claro, com este exemplo que a menina vê todos os dias... E tu - apontando para a filha de 25 anos - que ficas toda agarradinha no sofá a lamber aquele filho duma vaca do teu namorado que tem ar de maricas. Tudo na frente da menina!
A mãe não aguenta mais e responde, aos gritos:
- Aaaahhhhhhh, é isso? E quem é o imbecil que gasta metade do salário com prostitutas e se despede delas mesmo à porta da nossa casa? Pensas que eu e as meninas somos cegas? E, além disso, que exemplo podes dar se, desde que assinaste esta maldita TV Cabo, passas todos os fins de semana a ver filmes pornográficos de quinta categoria?
Desconsolada e à beira de um colapso, a mãe, com os olhos cheios de lágrimas e voz trémula, pega ternamente na mão da filhinha e pergunta baixinho:
- Como foi que isso aconteceu, filhinha? Fizeram-te mal? Forçaram-te? Bateram-te?
Entre soluços a menina respondeu:
- Não mãe! Aconteceu que a professora tirou-me do presépio! E a virgem, agora, vai ser a Andreia...
A família comia tranquila quando, de repente, a filha de 10 anos comenta tristemente:
- Tenho uma má notícia... Já não sou virgem!
E começa a chorar visivelmente alterada, com as mãos no rosto e um ar de vergonha. Um silêncio sepulcral. E os pais começam a trocar acusações mútuas...
- Tu, sua grande ordinária! – diz o pai dirigindo-se à esposa - isto é por tu seres como és! Por te vestires como puta barata e te arreganhares para o primeiro imbecil que chega cá a casa. Claro, com este exemplo que a menina vê todos os dias... E tu - apontando para a filha de 25 anos - que ficas toda agarradinha no sofá a lamber aquele filho duma vaca do teu namorado que tem ar de maricas. Tudo na frente da menina!
A mãe não aguenta mais e responde, aos gritos:
- Aaaahhhhhhh, é isso? E quem é o imbecil que gasta metade do salário com prostitutas e se despede delas mesmo à porta da nossa casa? Pensas que eu e as meninas somos cegas? E, além disso, que exemplo podes dar se, desde que assinaste esta maldita TV Cabo, passas todos os fins de semana a ver filmes pornográficos de quinta categoria?
Desconsolada e à beira de um colapso, a mãe, com os olhos cheios de lágrimas e voz trémula, pega ternamente na mão da filhinha e pergunta baixinho:
- Como foi que isso aconteceu, filhinha? Fizeram-te mal? Forçaram-te? Bateram-te?
Entre soluços a menina respondeu:
- Não mãe! Aconteceu que a professora tirou-me do presépio! E a virgem, agora, vai ser a Andreia...
quarta-feira, dezembro 23, 2009
Ainda Copenhaga
O autor, jornalista e activista ambiental inglês Mark Lynas estava presente, na qualidade de conselheiro do presidente das Maldivas, na restrita reunião à porta fechada que juntou, na última sexta feira à noite, altos representantes de duas dúzias de países, a maioria presidentes ou primeiros ministros, para tentarem salvar a COP15. O artigo por si assinado na versão digital do Guardian revela, em toda a sua crueza, o que motivou o fracasso da cimeira.
O autor, jornalista e activista ambiental inglês Mark Lynas estava presente, na qualidade de conselheiro do presidente das Maldivas, na restrita reunião à porta fechada que juntou, na última sexta feira à noite, altos representantes de duas dúzias de países, a maioria presidentes ou primeiros ministros, para tentarem salvar a COP15. O artigo por si assinado na versão digital do Guardian revela, em toda a sua crueza, o que motivou o fracasso da cimeira.
terça-feira, dezembro 22, 2009
Tudo mudo
A vida muda, muda o ano,
o som, as cores... mudam
e eu aqui, inteiramente mudo,
a contemplar essa mudança,
e mudo eu, nessa mudança,
e muda o mundo, e muda a vida.
Tudo muda, tudo mudo.
Paulo Camelo*
*poeta brasileiro (que hoje completa 62 anos)
A vida muda, muda o ano,
o som, as cores... mudam
e eu aqui, inteiramente mudo,
a contemplar essa mudança,
e mudo eu, nessa mudança,
e muda o mundo, e muda a vida.
Tudo muda, tudo mudo.
Paulo Camelo*
*poeta brasileiro (que hoje completa 62 anos)
segunda-feira, dezembro 21, 2009
Mau, Maria!
Depois de ser mostrar muito preocupado com aquilo a que chamou de inverno demográfico, o homem disse esperar que 2010 fique marcado por frutuosos entendimentos interpartidários na Assembleia da República. Estaria a insinuar que espera muitos jotinhas transpartidários?
Depois de ser mostrar muito preocupado com aquilo a que chamou de inverno demográfico, o homem disse esperar que 2010 fique marcado por frutuosos entendimentos interpartidários na Assembleia da República. Estaria a insinuar que espera muitos jotinhas transpartidários?
Solidão
Solidão não é a falta de gente para conversar,
namorar, passear ou fazer sexo...
isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos
pela ausência de entes queridos que não podem
mais voltar...
isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente
se impõe às vezes, para realinhar os pensamentos...
isto é equilíbrio.
Tampouco é a pausa involuntária que o destino
nos impõe compulsoriamente, para que revejamos a
nossa vida...
isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
isto é circunstância.
Solidão é muito mais que isto...
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos
e procuramos em vão, pela nossa Alma!
Fátima Irene Pinto*
*poetisa brasileira
Solidão não é a falta de gente para conversar,
namorar, passear ou fazer sexo...
isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos
pela ausência de entes queridos que não podem
mais voltar...
isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente
se impõe às vezes, para realinhar os pensamentos...
isto é equilíbrio.
Tampouco é a pausa involuntária que o destino
nos impõe compulsoriamente, para que revejamos a
nossa vida...
isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
isto é circunstância.
Solidão é muito mais que isto...
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos
e procuramos em vão, pela nossa Alma!
Fátima Irene Pinto*
*poetisa brasileira
domingo, dezembro 20, 2009
sábado, dezembro 19, 2009
Toca a zucratrucar
O eucalipto plantado há quase quatro anos em frente à Praça do Império está preocupado com o inverno demográfico. Com o frio que está, toca a zucratrucar à vontade, seja para fazer filhes ou para criar cadilhes. Os mais necessitados podem limar os assessores para entrega de viagra num café da Av. de Roma, com direito a reportagem em directo no pasquim do merceeiro mor.
O eucalipto plantado há quase quatro anos em frente à Praça do Império está preocupado com o inverno demográfico. Com o frio que está, toca a zucratrucar à vontade, seja para fazer filhes ou para criar cadilhes. Os mais necessitados podem limar os assessores para entrega de viagra num café da Av. de Roma, com direito a reportagem em directo no pasquim do merceeiro mor.
Fraldiqueiros
(a propósito do manifesto fracasso da COP15 e do 85º aniversário do nascimento do Alexandre O'Neill)
Coitarados!
Meninos, tiveram pouca mamã.
Carências afectivas afunilaram-nos psiquicamente
desde a impoética infância até este corrimento sentimental
em que, grandinhos, se compensam, comprazem.
Continuam a gotejar.
Coitarados!
Gulosos de pontas de dedos,
perdem-se em beijoqueirices, diminutivas ternurinhas.
Têm sempre rebuçadinhos d'alma para as mulheres.
Falam freud ao colo das amigas.
Fraldiqueiros. . .
Vai levar-lhes isso a nojo, machão?
MuIheres gostam. Riem, prazidas.
«Venha cá à mamã!»
O golpe do coitadinho (não confundir com o golpe
do irmãozinho, esse na base do esquema da alma gémea)
é o que estás a ver: saltar para o regaço e pedir nhém nhém
em nome do Sigismundo, daquele que dizia, salvo erro:
A alma? Geme-a...
Fraldiqueiros
a mandarem beijinhos por teleférico! de saliva
Engatinhantes, tiram do estojo complexos em forma de saxofone
e tocantam-lhes a pingona freudista canção do bandido
Fraldiqueiros. . .
Mulheres gostam. Até onde?
Alexandre O´Neill - Poesias Completas 1951/1981
(a propósito do manifesto fracasso da COP15 e do 85º aniversário do nascimento do Alexandre O'Neill)
Coitarados!
Meninos, tiveram pouca mamã.
Carências afectivas afunilaram-nos psiquicamente
desde a impoética infância até este corrimento sentimental
em que, grandinhos, se compensam, comprazem.
Continuam a gotejar.
Coitarados!
Gulosos de pontas de dedos,
perdem-se em beijoqueirices, diminutivas ternurinhas.
Têm sempre rebuçadinhos d'alma para as mulheres.
Falam freud ao colo das amigas.
Fraldiqueiros. . .
Vai levar-lhes isso a nojo, machão?
MuIheres gostam. Riem, prazidas.
«Venha cá à mamã!»
O golpe do coitadinho (não confundir com o golpe
do irmãozinho, esse na base do esquema da alma gémea)
é o que estás a ver: saltar para o regaço e pedir nhém nhém
em nome do Sigismundo, daquele que dizia, salvo erro:
A alma? Geme-a...
Fraldiqueiros
a mandarem beijinhos por teleférico! de saliva
Engatinhantes, tiram do estojo complexos em forma de saxofone
e tocantam-lhes a pingona freudista canção do bandido
Fraldiqueiros. . .
Mulheres gostam. Até onde?
Alexandre O´Neill - Poesias Completas 1951/1981
sexta-feira, dezembro 18, 2009
Grande Lisboa - água ensanguentada
Lê-se e não se acredita: a EPAL, empresa pública que fornece água a Lisboa e a parte dos municípios da respectiva área metropolitana, entre os quais aquele em que moro, estabeleceu um acordo com a nazi-sionista Mekorot, a empresa nacional da água de Israel que se alimenta do sangue do povo palestino, morto à fome e à sede. Acordo celebrado quando à frente da cidade já se encontrava António Costa, figura cimeira do partido do governo da república, que põe na mão de terroristas a segurança dum abastecimento vital para uma significativa parte dos portugueses. E, para cúmulo, o convite partiu de cá.
Lê-se e não se acredita: a EPAL, empresa pública que fornece água a Lisboa e a parte dos municípios da respectiva área metropolitana, entre os quais aquele em que moro, estabeleceu um acordo com a nazi-sionista Mekorot, a empresa nacional da água de Israel que se alimenta do sangue do povo palestino, morto à fome e à sede. Acordo celebrado quando à frente da cidade já se encontrava António Costa, figura cimeira do partido do governo da república, que põe na mão de terroristas a segurança dum abastecimento vital para uma significativa parte dos portugueses. E, para cúmulo, o convite partiu de cá.
quinta-feira, dezembro 17, 2009
Ecos de Copenhaga
A humanidade já não está dividida entre conservadores e liberais, reaccionários e progressistas, embora ambos os lados sejam influenciados pela antigas políticas. Hoje, as linhas de combate são traçadas entre expansionistas e restricionistas; aqueles que acreditam que não devia haver impedimentos e aqueles que acreditam que temos de viver dentro de limites. As ferozes batalhas que temos visto até agora entre verdes e negacionistas das alterações climáticas, os activistas da segurança rodoviária e os monstros da velocidade, os genuínos grupos de base e os impostores patrocinados pelas corporações, são apenas o início. Esta guerra tornar-se-á muito mais feia à medida que as pessoas escoiceiam contra os limites que a decência exige.
Uma útil reflexão do escritor, académico, jornalista e activista George Monbiot nas vésperas do encerramento da cimeira de Copenhaga e quando negacionistas de quadrantes políticos opostos continuam a fechar os olhos ao óbvio. Uns, como Sarah Palin, Rush Limbaugh, Glenn Beck e afins, por ignorância e porque obedecem à voz dos lóbis do petróleo e do carvão. Os outros, não sendo ignorantes, vivem há várias décadas numa cegueira ideológica que os faz confundir ciência com o oportunismo de indivíduos como Al Gore e uma mão cheia de burocratas; afadigam-se, por isso, a defender teses com quase uma década, dando todo o crédito a alguns dos poucos cientistas que negam as alterações climáticas, incluindo quem já não se encontra por cá, e desprezando as dezenas, senão mesmo centenas de milhares que pensam exactamente o contrário, como o demonstra a posição oficial da AAAS, a maior organização mundial de cientistas que, por si só, conta com 10 milhões de membros.
É verdade que a ciência não é de “esquerda” nem de “direita”, pois deve preocupar-se com a procura da verdade. Mas permanecer cego às provas avassaladoras e aproveitar acções criminosas de outrem para tentar negar o óbvio (como tem sido a utilização do chamado Climategate, que apenas revelou que os cientistas são humanos e às vezes erram mas não confirmou qualquer censura de dados como se quis fazer crer) é uma atitude troglodita, reaccionária e típica da extrema direita política.
A humanidade já não está dividida entre conservadores e liberais, reaccionários e progressistas, embora ambos os lados sejam influenciados pela antigas políticas. Hoje, as linhas de combate são traçadas entre expansionistas e restricionistas; aqueles que acreditam que não devia haver impedimentos e aqueles que acreditam que temos de viver dentro de limites. As ferozes batalhas que temos visto até agora entre verdes e negacionistas das alterações climáticas, os activistas da segurança rodoviária e os monstros da velocidade, os genuínos grupos de base e os impostores patrocinados pelas corporações, são apenas o início. Esta guerra tornar-se-á muito mais feia à medida que as pessoas escoiceiam contra os limites que a decência exige.
Uma útil reflexão do escritor, académico, jornalista e activista George Monbiot nas vésperas do encerramento da cimeira de Copenhaga e quando negacionistas de quadrantes políticos opostos continuam a fechar os olhos ao óbvio. Uns, como Sarah Palin, Rush Limbaugh, Glenn Beck e afins, por ignorância e porque obedecem à voz dos lóbis do petróleo e do carvão. Os outros, não sendo ignorantes, vivem há várias décadas numa cegueira ideológica que os faz confundir ciência com o oportunismo de indivíduos como Al Gore e uma mão cheia de burocratas; afadigam-se, por isso, a defender teses com quase uma década, dando todo o crédito a alguns dos poucos cientistas que negam as alterações climáticas, incluindo quem já não se encontra por cá, e desprezando as dezenas, senão mesmo centenas de milhares que pensam exactamente o contrário, como o demonstra a posição oficial da AAAS, a maior organização mundial de cientistas que, por si só, conta com 10 milhões de membros.
É verdade que a ciência não é de “esquerda” nem de “direita”, pois deve preocupar-se com a procura da verdade. Mas permanecer cego às provas avassaladoras e aproveitar acções criminosas de outrem para tentar negar o óbvio (como tem sido a utilização do chamado Climategate, que apenas revelou que os cientistas são humanos e às vezes erram mas não confirmou qualquer censura de dados como se quis fazer crer) é uma atitude troglodita, reaccionária e típica da extrema direita política.
quarta-feira, dezembro 16, 2009
O pássaro cativo
Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar ?
É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender ;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
"Não quero o teu alpiste !
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti !
Não quero a tua esplêndida gaiola !
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi ...
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas ...
Solta-me ao vento e ao sol !
Com que direito à escravidão me obrigas ?
Quero saudar as pompas do arrebol !
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas !
Por que me prendes ? Solta-me covarde !
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade ...
Quero voar ! voar ! ... "
Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão ...
Olavo Bilac
Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar ?
É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender ;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
"Não quero o teu alpiste !
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti !
Não quero a tua esplêndida gaiola !
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi ...
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas ...
Solta-me ao vento e ao sol !
Com que direito à escravidão me obrigas ?
Quero saudar as pompas do arrebol !
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas !
Por que me prendes ? Solta-me covarde !
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade ...
Quero voar ! voar ! ... "
Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão ...
Olavo Bilac
terça-feira, dezembro 15, 2009
domingo, dezembro 13, 2009
Na contra-mão
Uma prece dolorida no rosto taciturno.
Convenhamos! tudo parece mentira...
Um nó de marinheiro que paira na laringe
engasgando o forte desejo de chorar...
A conjectura de palavras submersas
em tonéis de dores escabrosas... mais uma vez...
Enquanto estiver aqui, andarei na contra-mão.
Amarei a quem não me ama, sorrirei para não morrer.
Serei uma pessoa boa, um paradoxo,
inerte em controvérsias inóspitas.
Enquanto estiver aqui, correrei à frente do tempo...
Sairei em expedições infindáveis,
tentarei ser feliz novamente, mesmo que pela última vez.
Enquanto estiver aqui viverei...
No dorso curvado, um sinal de submissão,
Uma amostra de humildade a mim mesmo;
alucinada tentativa de achar razão...
As veias oculares inflam os olhos,
avermelhando o branco normal, descolando a retina...
As lágrimas?
As lágrimas não caem mais, nada mais escorre pela face.
A sudorese fria pela pressão baixa deixa o corpo mole,
aumenta a depressão e o desejo de fim...
Este talvez seja o grande legado do poeta à loucura
de estar vivo, e, o fardo de se estar...
Fábio Fontes*
*poeta brasileiro
Uma prece dolorida no rosto taciturno.
Convenhamos! tudo parece mentira...
Um nó de marinheiro que paira na laringe
engasgando o forte desejo de chorar...
A conjectura de palavras submersas
em tonéis de dores escabrosas... mais uma vez...
Enquanto estiver aqui, andarei na contra-mão.
Amarei a quem não me ama, sorrirei para não morrer.
Serei uma pessoa boa, um paradoxo,
inerte em controvérsias inóspitas.
Enquanto estiver aqui, correrei à frente do tempo...
Sairei em expedições infindáveis,
tentarei ser feliz novamente, mesmo que pela última vez.
Enquanto estiver aqui viverei...
No dorso curvado, um sinal de submissão,
Uma amostra de humildade a mim mesmo;
alucinada tentativa de achar razão...
As veias oculares inflam os olhos,
avermelhando o branco normal, descolando a retina...
As lágrimas?
As lágrimas não caem mais, nada mais escorre pela face.
A sudorese fria pela pressão baixa deixa o corpo mole,
aumenta a depressão e o desejo de fim...
Este talvez seja o grande legado do poeta à loucura
de estar vivo, e, o fardo de se estar...
Fábio Fontes*
*poeta brasileiro
sábado, dezembro 12, 2009
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Adélia Prado
Posta dedicada à minha companheira, com quem casei faz hoje 33 anos
sexta-feira, dezembro 11, 2009
A perfeição das coisas
O vento - finalmente no fogo do dia - o vento do mundo
neste lugar aberto
escreve a inclinação dos jovens álamos na última colina
contra o céu para sempre novo e antigo.
As mãos do vento escrevem em verso ramos e folhas, pontos e traços,
a sombra da luz; encurvam para a esquerda e em cima
as hastes longas e breves: as vogais aéreas
da paisagem terrestre que teríamos esquecido.
É subitamente que o vês claramente visto
repetindo a imagem do tempo:
é uma caligrafia de acaso.
Mas é uma caligrafia minuciosa nítida;
inquieta e exacta;
ofuscante como a incriada perfeição das coisas.
Numa outra folha ou margem ou luz ou lugar do mundo
és tu agora. Levantas o vestido leve; os teus dedos
enrodilham-no, subindo-o numa onda irrepetível e
contudo, repetida vezes sem conta.
As tuas mãos enquanto quase quase danças - embora
apenas andes sobre o imortal chão da casa -
sobem o pano
de algodão, apanham a bainha, colhem asas do escasso mar
que te cobria e
levam-nas até à linha irrevogável das ancas
como se fossem prender o vestido à levíssima ondulação
do mundo andante.
É como se uma onda no corpo abrisse lenta e fulminante
a incalculável praia ao esplendor em que cada coisa se diz
como se cantasse o nome do sem nome.
A curvatura daquelas hastes e a onda vertical que o teu gesto inventa
escrevem então a infindável passagem entre os separados mundos
e a isso só podemos chamar alegria.
Manuel Gusmão, in Teatros do Tempo
O vento - finalmente no fogo do dia - o vento do mundo
neste lugar aberto
escreve a inclinação dos jovens álamos na última colina
contra o céu para sempre novo e antigo.
As mãos do vento escrevem em verso ramos e folhas, pontos e traços,
a sombra da luz; encurvam para a esquerda e em cima
as hastes longas e breves: as vogais aéreas
da paisagem terrestre que teríamos esquecido.
É subitamente que o vês claramente visto
repetindo a imagem do tempo:
é uma caligrafia de acaso.
Mas é uma caligrafia minuciosa nítida;
inquieta e exacta;
ofuscante como a incriada perfeição das coisas.
Numa outra folha ou margem ou luz ou lugar do mundo
és tu agora. Levantas o vestido leve; os teus dedos
enrodilham-no, subindo-o numa onda irrepetível e
contudo, repetida vezes sem conta.
As tuas mãos enquanto quase quase danças - embora
apenas andes sobre o imortal chão da casa -
sobem o pano
de algodão, apanham a bainha, colhem asas do escasso mar
que te cobria e
levam-nas até à linha irrevogável das ancas
como se fossem prender o vestido à levíssima ondulação
do mundo andante.
É como se uma onda no corpo abrisse lenta e fulminante
a incalculável praia ao esplendor em que cada coisa se diz
como se cantasse o nome do sem nome.
A curvatura daquelas hastes e a onda vertical que o teu gesto inventa
escrevem então a infindável passagem entre os separados mundos
e a isso só podemos chamar alegria.
Manuel Gusmão, in Teatros do Tempo
quinta-feira, dezembro 10, 2009
Lá como cá
Un hombre, al pasar frente al Congreso de los Diputados, escucha un tremendo griterío que sale desde la sala:
"Ladrón, mentiroso, comisionista, difamador, chorizo, sinvergüenza, flojo de mierda, imbécil, timador, cabrón, corrupto, vendido, golfo, aprovechado, cara dura, falso, chupón, inútil, pesetero, estafador, vago de mierda, saqueador, gilipollas, bobo, oportunista, embaucador, tramposo, hijo de la gran puta,...........".
El hombre asustado le pregunta al guardia de la entrada:
- Señor, ¿qué pasa dentro?, ¿se están peleando?
- No, responde el guardia, ¡yo creo que están pasando lista!
Nota : pasar lista significa fazer a chamada
Un hombre, al pasar frente al Congreso de los Diputados, escucha un tremendo griterío que sale desde la sala:
"Ladrón, mentiroso, comisionista, difamador, chorizo, sinvergüenza, flojo de mierda, imbécil, timador, cabrón, corrupto, vendido, golfo, aprovechado, cara dura, falso, chupón, inútil, pesetero, estafador, vago de mierda, saqueador, gilipollas, bobo, oportunista, embaucador, tramposo, hijo de la gran puta,...........".
El hombre asustado le pregunta al guardia de la entrada:
- Señor, ¿qué pasa dentro?, ¿se están peleando?
- No, responde el guardia, ¡yo creo que están pasando lista!
Nota : pasar lista significa fazer a chamada
quarta-feira, dezembro 09, 2009
Mas há a Vida
Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.
Clarice Lispector
Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.
Clarice Lispector
terça-feira, dezembro 08, 2009
segunda-feira, dezembro 07, 2009
Epígrafe
De palavras não sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pré-feitos blocos de cimento.
De palavras não sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso a consistência
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.
De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro quando as digo.
Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
- expressão da multidão que está comigo.
José Carlos Ary dos Santos
De palavras não sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pré-feitos blocos de cimento.
De palavras não sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso a consistência
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.
De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro quando as digo.
Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
- expressão da multidão que está comigo.
José Carlos Ary dos Santos
domingo, dezembro 06, 2009
Insegura segurança
Excesso de segurança aumenta a insegurança. E o inseguro crônico é insaciável - quanto mais pensa e inventa modos de se salvar, mais se aproxima do abismo.
É que os seguros todos não asseguram tudo. Sempre há, debaixo da cama, no vão da escada, atrás da porta, na curva da estrada, na rua de cima, na casa ao lado, no fim da linha, virando à direita, virando à esquerda, subindo por aqui, descendo por ali... sempre há perigos à espreita.
O problema é justamente este! Norte, sul, leste, oeste... em todos os cantos há falsos amigos, ameaças, cupins e traças, suspeitos, interesseiros, oportunistas e nazistas, assaltantes, farsantes, ladrões, vilões, espertalhões, psicopatas e piratas!
Quanto mais cadeados, mais assustados ficamos com os especialistas em desencadear nossos segredos.
Quanto mais cofres, mais alarmados ficamos com os arrombadores de nossas riquezas.
Quanto mais engenhosa a senha que nos protege, mais convidativa ela é para os decifradores da nossa intimidade.
Pois aí reside o perigo maior, contra o qual não existe nenhuma defesa.
Quanto mais seguros, mais inseguros, mais vulneráveis, mais temerosos de que a segurança não segure o bastante. E a verdade mais certa é que a segurança sempre deixa uma pequena, ou grande, margem de riscos imprevisíveis.
De tanto querer segurar, prever, prevenir, a insegurança gera novos problemas, novos perigos, novos pavores, novas desconfianças, novas insônias.
O cinto de segurança pode prender o motorista no carro em chamas.
O seguro contra incêndio pode deflagrar para sempre o fogo do medo.
O remédio que previne demais pode provocar novas e incuráveis doenças.
Evitar a dor a qualquer custo pode levar a torturantes torturas.
As chaves e trancas podem me impedir de fugir a tempo.
A segurança sufocante torna o segurado cada vez mais taciturno, obrigando-o a fazer terapia para não se sentir ainda mais inseguro, para não cair na depressão (e cairá!), para não se ver oprimido pelos muros que levantou com tanta ansiedade.
A insegurança providencia novos seguros e os novos seguros produzem novas incertezas, mil e uma invasões.
Não é superstição, nem cisma tola, é filosofia de vida arraigada, que com o tempo chega aos limites da morte.
Seguro contra a vida insegura, esta vida que nos dá rasteiras, que nos apronta surpresas o tempo inteiro.
Seguro contra o mundo imperfeito, contra a sociedade traiçoeira, contra tudo e contra todos!
Gabriel Perissé*
*professor e escritor
Publicado no jornal digital Correio da Cidadania
Excesso de segurança aumenta a insegurança. E o inseguro crônico é insaciável - quanto mais pensa e inventa modos de se salvar, mais se aproxima do abismo.
É que os seguros todos não asseguram tudo. Sempre há, debaixo da cama, no vão da escada, atrás da porta, na curva da estrada, na rua de cima, na casa ao lado, no fim da linha, virando à direita, virando à esquerda, subindo por aqui, descendo por ali... sempre há perigos à espreita.
O problema é justamente este! Norte, sul, leste, oeste... em todos os cantos há falsos amigos, ameaças, cupins e traças, suspeitos, interesseiros, oportunistas e nazistas, assaltantes, farsantes, ladrões, vilões, espertalhões, psicopatas e piratas!
Quanto mais cadeados, mais assustados ficamos com os especialistas em desencadear nossos segredos.
Quanto mais cofres, mais alarmados ficamos com os arrombadores de nossas riquezas.
Quanto mais engenhosa a senha que nos protege, mais convidativa ela é para os decifradores da nossa intimidade.
Pois aí reside o perigo maior, contra o qual não existe nenhuma defesa.
Quanto mais seguros, mais inseguros, mais vulneráveis, mais temerosos de que a segurança não segure o bastante. E a verdade mais certa é que a segurança sempre deixa uma pequena, ou grande, margem de riscos imprevisíveis.
De tanto querer segurar, prever, prevenir, a insegurança gera novos problemas, novos perigos, novos pavores, novas desconfianças, novas insônias.
O cinto de segurança pode prender o motorista no carro em chamas.
O seguro contra incêndio pode deflagrar para sempre o fogo do medo.
O remédio que previne demais pode provocar novas e incuráveis doenças.
Evitar a dor a qualquer custo pode levar a torturantes torturas.
As chaves e trancas podem me impedir de fugir a tempo.
A segurança sufocante torna o segurado cada vez mais taciturno, obrigando-o a fazer terapia para não se sentir ainda mais inseguro, para não cair na depressão (e cairá!), para não se ver oprimido pelos muros que levantou com tanta ansiedade.
A insegurança providencia novos seguros e os novos seguros produzem novas incertezas, mil e uma invasões.
Não é superstição, nem cisma tola, é filosofia de vida arraigada, que com o tempo chega aos limites da morte.
Seguro contra a vida insegura, esta vida que nos dá rasteiras, que nos apronta surpresas o tempo inteiro.
Seguro contra o mundo imperfeito, contra a sociedade traiçoeira, contra tudo e contra todos!
Gabriel Perissé*
*professor e escritor
Publicado no jornal digital Correio da Cidadania
sábado, dezembro 05, 2009
Selvajaria
Da janela do apartamento onde me encontro para passar uma semanita, olhando para ocidente, vê-se esta monstruosidade que, há três dezenas de anos dava pelo nome de Albufeira. Depois queixam-se das falésias.
Apostila: espero que a excursão que chegou hoje do outro lado da fronteira dê corda aos calcantes enquanto o diabo esfrega um olho, que nós viemos para cá tentar descansar.
Da janela do apartamento onde me encontro para passar uma semanita, olhando para ocidente, vê-se esta monstruosidade que, há três dezenas de anos dava pelo nome de Albufeira. Depois queixam-se das falésias.
Apostila: espero que a excursão que chegou hoje do outro lado da fronteira dê corda aos calcantes enquanto o diabo esfrega um olho, que nós viemos para cá tentar descansar.
sexta-feira, dezembro 04, 2009
Recordação
E tu esperas, aguardas a única coisa
que aumentaria infinitamente a tua vida;
o poderoso, o extraordinário,
o despertar das pedras,
os abismos com que te deparas.
Nas estantes brilham
os volumes em castanho e ouro;
e tu pensas em países viajados,
em quadros, nas vestes
de mulheres encontradas e já perdidas.
E então de súbito sabes: era isso.
Ergues-te e diante de ti estão
angústia e forma e oração
de certo ano que passou.
Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"
(tradução de Maria João Costa Pereira)
E tu esperas, aguardas a única coisa
que aumentaria infinitamente a tua vida;
o poderoso, o extraordinário,
o despertar das pedras,
os abismos com que te deparas.
Nas estantes brilham
os volumes em castanho e ouro;
e tu pensas em países viajados,
em quadros, nas vestes
de mulheres encontradas e já perdidas.
E então de súbito sabes: era isso.
Ergues-te e diante de ti estão
angústia e forma e oração
de certo ano que passou.
Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"
(tradução de Maria João Costa Pereira)
LES OISEAUX DÉGUISÉS
Tous ceux qui parlent des merveilles
Leurs fables cachent des sanglots
Et les couleurs de leur oreille
Toujours à des plaintes pareilles
Donnent leurs larmes pour de l'eau
Le peintre assis devant sa toile
A-t-il jamais peint ce qu'il voit
Ce qu'il voit son histoire voile
Et ses ténèbres sont étoiles
Comme chanter change la voix
Ses secrets partout qu'il expose
Ce sont des oiseaux déguisés
Son regard embellit les choses
Et les gens prennent pour des roses
La douleur dont il est brisé
Ma vie au loin mon étrangère
Ce que je fus je l'ai quitté
Et les teintes d'aimer changèrent
Comme roussit dans les fougères
Le songe d'une nuit d'été
Automne automne long automne
Comme le cri du vitrier
De rue en rue et je chantonne
Un air dont lentement s'étonne
Celui qui ne sait plus prier
Louis Aragon
Tous ceux qui parlent des merveilles
Leurs fables cachent des sanglots
Et les couleurs de leur oreille
Toujours à des plaintes pareilles
Donnent leurs larmes pour de l'eau
Le peintre assis devant sa toile
A-t-il jamais peint ce qu'il voit
Ce qu'il voit son histoire voile
Et ses ténèbres sont étoiles
Comme chanter change la voix
Ses secrets partout qu'il expose
Ce sont des oiseaux déguisés
Son regard embellit les choses
Et les gens prennent pour des roses
La douleur dont il est brisé
Ma vie au loin mon étrangère
Ce que je fus je l'ai quitté
Et les teintes d'aimer changèrent
Comme roussit dans les fougères
Le songe d'une nuit d'été
Automne automne long automne
Comme le cri du vitrier
De rue en rue et je chantonne
Un air dont lentement s'étonne
Celui qui ne sait plus prier
Louis Aragon
quinta-feira, dezembro 03, 2009
quarta-feira, dezembro 02, 2009
A América esqueceu a paz?
Nós pensamos que somos o novo império romano, a polícia do mundo. A América não é a Roma de César, nem sequer a Roma de Augusto. Nós somos a Roma de Nero e Calígula, uma sociedade submersa em corrupção, excessos e devassidão. Quantos americanos vêem Washington como um centro de cultura e estabilidade?
Existe mesmo alguém que pense que a América tem uma política ou um governo? Nós somos um país ou um simples grupo de pessoas dirigidas por um governo detido e manejado por grupos especiais de interesses que chafurdam à vontade dentro do nosso erário público, enviam os nossos jovens para a guerra por divertimento e estão ao serviço das agendas de aliados tipo “sabor do mês”, muitas vezes ditaduras brutais mascaradas de democracias esclarecidas.
Quem escreveu isto e muito mais foi Gordon Duff, veterano fuzileiro de combate da guerra do Vietname e editor sénior do magazine Veterans Today, no dia em que o presidente estado-unidense anunciou o envio de mais 30.000 militares para o Afeganistão.
Nós pensamos que somos o novo império romano, a polícia do mundo. A América não é a Roma de César, nem sequer a Roma de Augusto. Nós somos a Roma de Nero e Calígula, uma sociedade submersa em corrupção, excessos e devassidão. Quantos americanos vêem Washington como um centro de cultura e estabilidade?
Existe mesmo alguém que pense que a América tem uma política ou um governo? Nós somos um país ou um simples grupo de pessoas dirigidas por um governo detido e manejado por grupos especiais de interesses que chafurdam à vontade dentro do nosso erário público, enviam os nossos jovens para a guerra por divertimento e estão ao serviço das agendas de aliados tipo “sabor do mês”, muitas vezes ditaduras brutais mascaradas de democracias esclarecidas.
Quem escreveu isto e muito mais foi Gordon Duff, veterano fuzileiro de combate da guerra do Vietname e editor sénior do magazine Veterans Today, no dia em que o presidente estado-unidense anunciou o envio de mais 30.000 militares para o Afeganistão.
terça-feira, dezembro 01, 2009
Estética
Formas coleantes, uma nuca distante
Pano de fundo de uma paisagem patética
Liquidez perfeita e impressões cotidianas
Nas ruas, nos carros, nas mesas.
Caminho só, passo a passo
Mão nos bolsos, cabeça no céu
Sorriso fraco, assobio distante
Intenção lenta no andar, a esperar
Como espero, sem medo e sem pressa
Mensagens sutis de um querer por querer
Mas querer somente o belo, se possível
O sonho e a visão de uma forma estética.
Se não der, volto amanhã e depois
Assobio mais baixo, a cabeça ironiza
As formas que fogem, quase sem ética (sorrio):
Às vezes são uns olhos, uma boca, umas pernas.
Fábio Afonso de Almeida*
*poeta brasileiro
Formas coleantes, uma nuca distante
Pano de fundo de uma paisagem patética
Liquidez perfeita e impressões cotidianas
Nas ruas, nos carros, nas mesas.
Caminho só, passo a passo
Mão nos bolsos, cabeça no céu
Sorriso fraco, assobio distante
Intenção lenta no andar, a esperar
Como espero, sem medo e sem pressa
Mensagens sutis de um querer por querer
Mas querer somente o belo, se possível
O sonho e a visão de uma forma estética.
Se não der, volto amanhã e depois
Assobio mais baixo, a cabeça ironiza
As formas que fogem, quase sem ética (sorrio):
Às vezes são uns olhos, uma boca, umas pernas.
Fábio Afonso de Almeida*
*poeta brasileiro
Subscrever:
Mensagens (Atom)