quarta-feira, abril 01, 2015

Galerias

Nas vastas galerias de sombras
passam os detritos. As ondas.

Um barco navega: fantasma
com ferrugem nos cascos
com caveiras no mastro
com salsugem nas quilhas.

Nas baixas galerias das vias,
o lodo concentra-se em pilhas,
um sapo deglute a mosca,
seu peixe de água salobra.

Nas sujas galerias do esgoto,
um crime carrega seu corpo,
um trem trafega sem rumo,
um lodo concentra seu sumo.

Nas vastas galerias de sombras,
o pesadelo pesado do povo
pesa seu sono de chumbo,
dorme em seu leito de escombros.


(poeta paulista nascido faz hoje 82 anos)

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