Definição
Quem esquece
o amor, e o dissipa, saberá
que
sentimento corrompe, ou apenas se o coração
se encontra
no vazio da memória? O vento
não percorre
a tarde com o seu canto alucinado,
que só os
loucos pressentem, para que tu
o ignores;
nem a sabedoria melancólica das árvores
te oferece
uma sombra para que lhe
fujas com um
riso ágil de quem crê
na
superfície da vida. Esses são alguns limites
que a
natureza põe a quem resiste à convicção
da noite. O
caminho está aberto, porém,
para quem se
decida a reconhecê-los; e os próprios
passos
encontram a direcção fácil nos sulcos
que o poema
abriu na erva gasta da linguagem. Então,
entra nesse
campo; não receies o horizonte
que a
tempestade habita, à tarde, nem o vulto inquieto
cujos braços
te chamam. Apropria-te do calor
seco dos
vestíbulos. Bebe o licor
das conchas
residuais do sexo. Assim, os teus lábios
imprimem nos
meus uma marca de sangue, manchando
o verso.
Ambos cedemos à promiscuidade do poente,
ignorando as
nuvens e os astros. O amor
é esse
contacto sem espaço,
o quarto
fechado das sensações,
a respiração
que a terra ouve
pelos
ouvidos da treva.
(Nuno Júdice
faz hoje 66 anos)
1 comentário:
Definição perfeita.
Abraço
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