Chego onde
sou estrangeiro
Nada é tão
precário quanto viver
Nada quanto
ser é tão passageiro
É quase como
gelo derreter
E para o
vento ser ligeiro
Chego onde
sou estrangeiro
Um dia
passas a margem
De onde vens
mas onde vais então
Amanhã que
importa que importa ontem
Muda o cardo
e o coração
Tudo é sem
rima nem perdão
Passa na tua
têmpora teu dedo
Toca a
infância como os olhos veem
Baixa as
lâmpadas mais cedo
A noite por
mais tempo nos convém
É o dia
claro envelhecendo
As árvores são
belas no outono
Mas da
criança o que é sucedido
Eu me olho e
me assombro
Deste
viajante desconhecido
Seu rosto e
seu pé desvestido
Pouco a
pouco te fazes silêncio
Mas não
rápido o bastante
Para não
sentires tua dessemelhança
E sobre o
tu-mesmo de antes
Cair a
poeira do tempo
É demorado
envelhecer enfim
A areia nos
foge entre os dedos
É como uma
água fria em torvelim
É como a
vergonha num crescendo
Um couro
duro corroendo
É demorado
ser um homem uma coisa
É demorado
renunciar totalmente
E sentes tu
as metamorfoses
Que se
passam internamente
Dobrar
nossos joelhos lentamente
Ó mar amargo
ó mar profundo
Qual é a
hora da preamar
Quanto é
preciso de anos-segundos
Ao homem
para o homem abjurar
Por que por
que esse gracejar
Nada é tão
precário como viver
Nada quanto
ser é tão passageiro
É quase como
gelo derreter
E para o
vento ser ligeiro
Chego onde
sou estrangeiro
(Louis
Aragon nasceu a 3 de Outubro de 1897)
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