A cama de
pregos
Tenho o
corpo varado de angústias
e não
encontro posição de repouso.
Porque aos
de minha geração
foi dado
existir numa cama de pregos,
entre o
espasmo e o grito,
antes da
primeira frase se fazer orvalho
contra as
paredes da cela.
Não há
possibilidade de fuga
para nosso
instinto.
querem que o
sexo floresça e murche
em nossas
próprias mãos;
ou que o
orgasmo seja catalogado
e obedeça
aos trâmites legais.
Não há
caminho que nos leve à amada.
Todos os
corredores conduzem ao vestíbulo,
onde uma
enfermeira nos agarra
e nos faz
preencher um questionário.
Esconderam
as fêmeas em arcas de veludo
e nos iludem
o apetite
com mulheres
da vida,
com
cineminhas mambembes
e filme de
sacanagem.
Mas isto não
nos basta,
é preciso um
espaço infinito
para nos
fazermos ao largo,
como jovens
leões que se lançam à planície.
Ah, visões
de antigos dias,
farândolas
de faunos,
virgens
consumidas,
olhos de
ciclopes aguardando as madrugadas!
Não haverá
nesta cidade uma única mulher
verdadeiramente
no cio?
Quero
agitá-la como uma bandeira
entre as
estrelas
e vê-la
tombar,
com a face
tranqüila.
Sim, deliro,
estamos
todos loucos,
à beira do
caos e do copo.
E contudo é
preciso utilizar de alguma forma
esta
convulsão incontida.
Mesmo que
tudo termine
na cama de
pregos,
seguros pela
enfermeira
e cheirando
clorofórmio.
Não, por
Deus,
não me façam
uma incisão no crânio.
Eu sei que
estou preso num palácio de espelhos
e é preciso
quebrar tudo!
(poeta
carioca que hoje faz 80 anos)
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