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É preciso
urgente cortar os excedentes.
Nada de
adiposidades.
Estamos em
crise.
Os adjetivos
que me perdoem,
os
substantivos são mais esbeltos,
e a Nova Era
recomenda que sejamos seletos.
Há uma pena
de andorinha voando à toa.
Há um
redemoinho que nos afunda a proa.
Há uma onda
marejada que não se escoa.
É preciso
pôr um bêbado no timão do barco.
Que saiba das
marés pelo trago das estrelas,
que saiba
afundar levantando um brinde,
e mesmo nos
destroços saber-se príncipe
salvo do
rescaldo para o cetro da palavra:
La parole
est morte. Vive la parole!
Há uma
paixão em cada esquina torta.
Há um resto
de angústia celebrando a morta.
Há um boi no
labirinto procurando a porta.
É preciso
correr atrás da utopia que se fez distante
para que ela
volte a habitar os dias mais comuns,
e faça que o
sonho se pareça ao sonho,
mesmo sob o
manto pessimista da névoa,
afiando o
sabre na pedra que restou da cachoeira.
Ah, nuvens
vermelhas, derramai vossa chuva de fogo!
Há um canto
entravado na garganta.
Há um sufoco
que já não me espanta.
Há um
espelho que já não me encanta.
É preciso
fugir do tempo perdido.
O que ficou
pra trás encantou-se com a serpente,
e todos os
dias buscamos novos corredores:
aléias
renovadas para as pegadas recentes.
Salvemos
aqui a parelha dos pés que suporta a canga
nesse
itinerário do agora recolhendo ontens.
Há um
solitário na mesa de um bar.
Há um
suicida na voragem do mar.
Há um
reclamante do verbo amar.
É preciso,
finalmente, se apaixonar todos os dias.
Experimentar
o gesto no corpo da amada.
Imprimir no
toque a tatuagem serena
para que
fique perene quando for saudade:
A vida se
amplia num flash de coisas pequeninas,
e o que
ficar são ecos de melodia transitória.
Há um desejo
que me faz cantor.
Há uma
paixão saída da sua cor.
Há um amor
na contramão da dor.
(poeta
amazonense falecido faz hoje 5 anos)
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