Uma
Recordação
Não há homem
que consiga deixar uma marca
nela. Todo o
passado se dilui num sonho
como uma rua
na manhã e só fica ela.
Se não fosse
a testa franzida por um momento
pareceria
atónita. As maçãs do rosto têm sempre
um sorriso.
Também não se acumulam os
dias
no seu
rosto, nem alteram o sorriso leve
que irradia
sobre todas as coisas. Com uma firmeza dura
faz cada
coisa como se fosse a primeira;
no entanto
vive-a até ao último momento. O seu corpo
firme abre-se,
o olhar recolhido,
a uma voz
doce e algo rouca: à voz
dum homem
cansado. E nenhum cansaço a toca.
Quando se
lhe olha para a boca, semicerra os olhos
à espera:
ninguém se arriscaria.
Muitos
homens conhecem o seu ambíguo sorriso
ou a súbita
ruga. Se homem existiu
que a soube
queixosa, humilhada de amor,
paga dia
após dia, ignorando dela
por quem
vive hoje.
Caminhando
pela rua
sorri
sozinha o sorriso mais ambíguo.
(poeta
italiano falecido faz hoje 66 anos)
Tradução de
Carlos Leite
Sem comentários:
Enviar um comentário