Acontecimento
Tu choravas
e eu ia apagando
com os meus
beijos os rastos das tuas lágrimas
- riscos na
areia mole e quente do teu rosto.
Choravas
como quem se procura.
E eu
descobria mundos, inventava nomes,
enquanto ia
espremendo com as mãos
o meu sangue
todo no teu sangue.
Não sei se o
mundo existia e nós existíamos realmente.
Sei que tudo
estava suspenso,
esperando
não sei que grave acontecimento,
e que
milhares de insectos paravam e zumbiam nos
meus
sentidos.
Só a minha
boca era uma abelha inquieta
percorrendo
e picando o teu corpo de beijos.
Depois só
dei pela manhã,
a manhã
atrevida
entrando
devagar, muito devagar e acordando-me.
Desviei os
meus olhos para ti:
ao longo do
teu corpo morriam as estrelas.
A noite
partira. E, lentamente,
o sol rompeu
no céu da tua boca.
(poeta
fundanense que hoje faz 86 anos)
Sem comentários:
Enviar um comentário