sexta-feira, julho 29, 2016

Pela madrugada

Pela madrugada
escuto o cálido conforto
do silêncio da morada.
E tu não sabes
como me sinto parte dele…
Torcida em palavras
mudas,
aveludadas de ternura,
desespero
neste tempo de lentidão
por outras tantas
que sei
não serão nunca articuladas.
E tu não sabes
da fome
que eu tenho delas…
No calor que a sombra me imola
espero,
quase desafiando as estrelas,
por uma noite só minha
por inteiro.
E tu não sabes
da cor desses sonhos
nem da violência
que me dilacera o peito
quando afiro a verdade…
tão nua, tão crua.
E suspiro tão baixinho
para não te acordar
e te lembrar
que só eu sei
que não sabes quase nada de mim.


(poetisa portuense que hoje faz 58 anos)

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