AUTO-RETRATO
Entre a
espuma e a navalha sou legenda
O espelho
neutraliza o ângulo da morte,
a barba
estrangulou a metafísica
e o problema
do mal é bem remoto.
Aqui sim!
Aqui
resistirei à mímica,
ao
dicionário e ao laboratório !
- a herança
do punhal brilha de novo
- o fantasma
de Abel não me intimida.
Vejo a testa
crescer
entre
espirais de fumo,
o olhar que
não vacila,
da ruga a
pré-história
e o peito
rasgado
pela fúria
do poema.
Aqui sim,
aqui
iniciarei a espécie nova,
aqui
derrotarei o homem-harpa
e pronto
estou para a descoberta do sexo.
O pincel
dá-me o poder do patriarca,
a navalha
redua a timidez e o medo,
o palavrão
rola na boca e salva o mundo.
(poeta
paraense falecido faz hoje 26 anos)
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