momento de
poesia
Se escrevo
ou leio ou desenho ou pinto
logo me
sinto tão atrasado
no que devo
à eternidade,
que começo a
empurrar p’ra diante o tempo
e empurro-o,
empurro-o à bruta
como empurra
um atrasado
até que
cansado me julgo satisfeito.
(Tão gémeos
são
a
fadiga e a satisfação!)
Em troca, se
vou por aí
sou tão
inteligente a ver tudo o que não é comigo,
compreendo
tão bem o que não me diz respeito,
sinto-me tão
chefe do que está fora de mim,
dou
conselhos tão bíblicos aos aflitos de uma aflição
que não a minha,
que,
sinceramente, não sei qual é melhor:
se estar
sozinho em casa a dar à manivela da vida,
se ir por ai
e ser Rei de tudo o que não é meu.
(Almada
Negreiros nasceu faz hoje 123 anos)
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