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sábado, abril 23, 2016

AUTO-RETRATO

Entre a espuma e a navalha sou legenda
O espelho neutraliza o ângulo da morte,
a barba estrangulou a metafísica
e o problema do mal é bem remoto.
Aqui sim!
Aqui resistirei à mímica,
ao dicionário e ao laboratório !
- a herança do punhal brilha de novo
- o fantasma de Abel não me intimida.
Vejo a testa crescer
entre espirais de fumo,
o olhar que não vacila,
da ruga a pré-história
e o peito rasgado
pela fúria do poema.

Aqui sim,
aqui iniciarei a espécie nova,
aqui derrotarei o homem-harpa
e pronto estou para a descoberta do sexo.
O pincel dá-me o poder do patriarca,
a navalha redua a timidez e o medo,
o palavrão rola na boca e salva o mundo.


(poeta paraense falecido faz hoje 26 anos)

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