Última carta
Sobre o leito de morte do poeta, foi
encontrado esse papel cheio de letras
trêmulas e manchado de lágrimas.
Por que não
me vens ver? Estou doente...
É possível
que morra com o luar...
Anda, lá
fora, um vento, tristemente,
as ilusões
das rosas a esfolhar.
E, aqui
dentro, na alcova penumbrada,
onde
arquejo, sozinho, sem sequer
a invisível
presença abençoada
de um
pensamento meigo de mulher,
há o
desconsolo imenso, a imensa dor
de alguém
que vai morrer sem seu amor...
De quando em
quando,
o coração,
que sinto
cada vez
mais cansado, se arrastando,
marcando o
tempo, recontando as horas,
pergunta-me,
num sopro quase extinto,
quando é que
virás...
Volta
depressa, sim?... Se te demoras,
já não me
encontrarás...
Ouço, longe,
a gemer de harpas eólias...
É de
febre... Começo a delirar...
Desabrocham,
no parque, as magnólias...
Vem surgindo
o luar...
E, como a
luz do luar que vem nascendo,
eu vou aos
poucos, meu amor, morrendo...
(poeta
paraense nascido faz hoje 106 anos)
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