Seria o Amor
Português
Muitas vezes
te esperei, perdi a conta,
longas
manhãs te esperei tremendo
no patamar
dos olhos. Que me importa
que batam à
porta, façam chegar
jornais, ou
cartas, de amizade um pouco
- tanto pó
sobre os móveis tua ausência.
Se não és
tu, que me pode importar?
Alguém bate,
insiste através da madeira,
que me
importa que batam à porta,
a solidão é
uma espinha
insidiosamente
alojada na garganta.
Um pássaro
morto no jardim com neve.
Nada me
importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por
exemplo, no sedoso
cabelo
poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo:
destruir o silêncio.
Abrir certas
eclusas, chover em certos campos.
Importa
saber da importância
que há na
simplicidade final do amor.
Comunicar
esse amor. Fertilizá-lo.
«Que me
importa que batam à porta...»
Sair de trás
da própria porta, buscar
no amor a
reconciliação com o mundo.
Longas
manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem
que esperei longas manhãs
e lhes perdi
a conta, pois é como se
no dia em
que eu abrir a porta
do teu amor
tudo seja novo,
um homem uma
mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis
circunstâncias da vida.
Que me
importa, agora que me importas,
que batam,
se não és tu, à porta?
(Fernando
Assis Pacheco nasceu faz hoje 77 anos)
1 comentário:
A sua poesia perdura no patamar da memória.
Abraço
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