Poema do
alegre desespero
Compreende-se
que lá para o ano três mil e tal
ninguém se
lembre de certo Fernão barbudo
que plantava
couves em Oliveira do Hospital,
ou da minha
virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um
retrato toda vestida de veludo
sentada num
canapé junto de um vaso com flores.
Compreende-se.
E até mesmo
que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto
Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos
faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o
Estrabão, o Artaxerxes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o
desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de
barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que
conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o
Lácio,
e passavam a
vida inteira a fazer guerras,
e quando
batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto
tudo por aí fora,
e a Guerra
dos Cem Anos,
e a
Invencível Armada,
e as
campanhas de Napoleão,
e a bomba de
hidrogénio.
Compreende-se.
Mais império
menos império,
mais faraó
menos faraó,
será tudo um
vastíssimo cemitério,
cacos,
cinzas e pó.
Compreende-se.
Lá para o
ano três mil e tal.
E o nosso
sofrimento para que serviu afinal?
(Rómulo
Vasco da Gama de Carvalho faleceu faz hoje 17 anos)
1 comentário:
Como tinha razão Rómulo, um dos meus poetas preferidos.
E não ouviu ele dizer a Maria Luís Albuquerque que este "Governo fucará " na História nem Gaspar , numa total incoerência, afirmar que Passos é o grande reformador do país!!!
Beijinho
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