O Homem e o
Mar
Homem livre,
o oceano é um espelho fulgente
Que tu
sempre hás-de amar. No seu dorso agitado,
Como em puro
cristal, contemplas, retratado,
Teu íntimo
sentir, teu coração ardente.
Gostas de te
banhar na tua própria imagem.
Dás-lhe
beijo até, e, às vezes, teus gemidos
Nem sentes,
ao escutar os gritos doloridos,
As queixas
que ele diz em mística linguagem.
Vós sois,
ambos os dois, discretos tenebrosos;
Homem,
ninguém sondou teus negros paroxismos,
Ó mar,
ninguém conhece os teus fundos abismos;
Os segredos
guardais, avaros, receosos!
E há séculos
mil, séculos inumeráveis,
Que os dois
vos combateis n'uma luta selvagem,
De tal modo
gostais n'uma luta selvagem,
Eternos
lutadores ó irmãos implacáveis!
(Charles
Baudelaire faleceu a 31 de Agosto de
1867)
Tradução de
Delfim Guimarães
1 comentário:
Tem sido sempre um combate desigual mas fascinante.
Abraço
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