Canto do
Verbo em busca da forma
Eu presido a
todos os enganos
os do céu os
da terra há tantos anos
que nem o
tempo os lembra
Antes do mar
fui voo
Antes do sal
fui mar e sede antes da água fresca
Antes do
verso eu fui a poesia
Eu sou antes
de Deus e do universo
Estando
antes eu nunca fui ontem
e sendo a
tudo preso nunca fui refém
nem de mim
mesmo porque a minha fome
não tem
distância horizonte não tem nome
Sempre que
me contam sou inumerável
sempre que
me caçam sou invulnerável
Eu nunca
estou no pé e nunca estou no passo
a minha
dimensão é outra sou o compasso cósmico
a que
palpitam todas as galáxias
e a que se
geram flores nos ramos das acácias
Não fui
planeado nem projecto
Não sou
vontade
Nas letras
de prisão lêem-me liberdade
não a minha
a tua a deles ou a de todos
Eu sou a
liberdade do desejo
Do desejo
dos lodos e das aves dos rios
dos homens e
mulheres
de todo o
espaço de todas as coisas
de todos os
seres
Por isso eu
presido a todos os enganos
os do céu os
da terra há tantos anos
que nem o
tempo os lembra
Sou a razão
de todas as derrotas
o coração da
mágoa as mãos do desespero
Eu sempre
estou e permaneço e espero
desde o caos
e canto o refazer do desejo
na sua
liberdade como lábios no beijo
Em mim tudo
recomeça grão a grão ponto a ponto peça a peça
mão a mão
sol a sol segundo a segundo
porque
comigo recomeça o mundo
até que tudo
seja o que não vejo
até que o
mundo seja o do desejo
(poeta
moçambicano que hoje faria 69 anos)
2 comentários:
Poema belo e cheio de força. Não conhecia o poeta, obrigada!
A forma do conteúdo.
Um grande poema1
Abraço
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