DIFICULDADES
DE UM HOMEM DE ESTADO
Rogar que
rogarei? 
Toda a carne
é como erva: incluindo 
Os
Companheiros do Banho, os cavaleiros do Império Britânico, os oficiais, 
ó oficiais,
da Legião de Honra, 
A Ordem da
Águia Negra (1ª e 2ª classes), 
E a Ordem do
Sol-Nascente. 
Rogar rogar
que rogarei? 
A primeira
coisa a fazer é organizar as comissões 
Os conselhos
consultivos, as comissões permanentes, as comissões
                                                          especiais e as sub-comissões.
Um mesmo
secretário serve para várias. 
Que rogarei?
Artur
Eduardo Cirilo da Silva é nomeado telefonista 
Com um
vencimento de cento e vinte escudos por semana, elevável,
por fracções anuais
de vinte e
cinco escudos,
A duzentos
escudos por semana; com uma gratificação
de cento e cinquenta escudos pelo
Natal
E direito
por ano a uma semana de férias. 
Foi nomeada
uma comissão que nomeará a comissão de engenheiros 
Para o
estudo do Abastecimento de Aguas. 
Está nomeada
a comissão 
Da
Construção Civil, para tratar sobretudo da reconstrução das
fortificações. 
É nomeada
uma comissão 
Para
discutir com a comissão designada pelos Volscos 
Os termos da
paz perpétua: os frecheiros, alfagemes e ferreiros 
Nomearam uma
comissão conjunta para protestar contra a redução das
encomendas. 
Entretanto
os guardas jogam aos dados na escadaria 
E as rãs (ó
Mantuano) coaxam nos pântanos. 
Pirilampos
cintilam contra o vago relampejar de brancura 
Que rogarei?
Mãe ó mãe. 
Eis a
galeria dos retratos de família, bustos enegrecidos, parecendo
todos notavelmente romanos,
Notavelmente
iguais uns aos outros, iluminados sucessivamente pelo
cintilar 
De um suado
portador de archote, que boceja. 
Oh quem se
escondesse... Escondesse por baixo... Lá onde o pé da
pomba pousou e se firmou por um instante
pomba pousou e se firmou por um instante
Um instante
imóvel, repouso meridiano, sob os mais altos ramos da mais
vasta árvore do meio-dia
Sob as penas
do peito agitadas pela aragem post-meridiana 
Lá onde o
ciclamen abre as suas asas, onde a clematite pende do lintel 
Ó mãe (não
entre estes bustos, tão correctamente votivos) 
Eu cansada
cabeça entre estas cabeças 
Pescoços
fortes para suportá-las 
Narizes
fortes para cortar o vento 
Mãe 
Não
estaremos nós, alguma vez, agora quase, juntos, 
Se as
imolações, oblações, impetrações, 
Agora são
cumpridas 
Não
estaremos nós 
Oh quem se
escondesse na Uma do meio-dia, na crocitante noite
silenciosa. 
Vem com o
deslizar das asas do morcego, o pequeno cintilar do pirilampo
ou vagalume 
Erguendo-se
e tombando, de poeira coroados, os pequenos seres, 
Os pequenos
seres trilam pela poeira, pela noite, 
Ó mãe 
Que rogarei?
Exigimos uma
comissão, uma comissão representativa, uma comissão de
inquérito 
DEMISSÃO
DEMISSÃO DEMISSÃO 
(T.S.Eliot
faleceu a 4 de Janeiro de 1965)
(Tradução de
Jorge de Sena)
2 comentários:
Demissão, já!...
e não se poderá exterminá-los?
grato por dares a conhecer este extraordinário poema!
abraço
Excelente!
Continua a ser assim.
Abraço
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