Preso Político
1
Quiseram
pôr-me inteiro numa ficha.
O dia e a
noite são iguais por dentro.
Não há papel
que conte a minha vida
mais que
estes versos de punhal à cinta.
A barba
cresce, e cresce a voz armada
descendo
pelos muros tão tranquila;
tão
tranquila que já nem desespera
de ser
apenas voz, não uma guerra.
Quiseram
pôr-me inteiro numa ficha.
Não há papel
que conte a minha vida.
Mais que
estes versos, esta mão estendida
por sobre os
muros só de medo e pedra.
2
Quando
saíres, amigo, não me esqueças.
Fico à
espera da tua novidade.
Olha bem que
farás da liberdade:
quando
saíres, amigo, não me esqueças.
Quero mais
fazimento que promessas.
São de prata
os enganos da cidade
com que
outros sujeitam a vontade.
Não me
esqueças, amigo, não me esqueças.
(Fernando
Assis Pacheco nasceu faz hoje 79 anos)
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