Anjo dos
Abismos
Quero chegar
diante de ti
não como o
vulto familiar que doura o teu sossego,
não como a
imagem do sonho
que se perde
na bruma,
mas como o
fantasma de dentro de ti mesmo.
Quero chegar
diante de ti,
e olharás
minha longa cabeleira,
minhas faces
esvoaçantes,
meus olhos
incolores
e
adivinharás que atravessei
os limites
do eterno.
Ó esta noite
todas as luzes estarão veladas pelo sono,
todos os
silêncios serão devorados pela eternidade,
todas as
chagas ressurgirão das dores,
todos os olhos
estarão desmesuradamente abertos
mas não
poderemos sentir
a Sua
presença
porque então
passamos à pátria das essências.
Esta noite
chegarei diante de ti,
nossas almas
se confundirão na grande viagem,
nossos olhos
se alongarão ao paraíso dos símbolos
onde nasce o
grande mar das almas moribundas.
Chegarei
sobre a tranqüilidade dos teus cânticos
e te
assombrarás com este vulto notívago de morto
que se
suspende milagrosamente além dos tempos
e que conduz
as asas multicores
no
derradeiro vôo das espécies.
Ó sim sou eu
por sobre as nebulosas,
fantasma que
povoa quatro mundos,
imagem
perdida e mais tarde encontrada
no limitado
céu da poesia.
(poeta
paraense nascido faz hoje 95 anos)
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