Atado ao
leito deste hospício em ruínas
Para Claudio Willer
Apliquem-me,
por Zeus,
uma Grécia
na veia!
A vida anda
tão feia, tão disparatada,
que só uma
renovada visão helênica
me pode
servir de instância
capaz de
transcender tamanha ignorância.
Esbarro a
cada passo como um asno,
uma anta, um
suíno, e nos olhos
do menino
antevejo o assassino.
A estupidez
é um incêndio atado
pelos tolos,
que faz arder
a secura do
Ser, erguendo rolos
de basófia
em meio a escombros
crepitantes,
enquanto ignorantes
dão de
ombros e indiferentes
riem a
plenos dentes.
Vai-se o
esmalte civilizatório
e já estão a
queimar os móveis
do
escritório; rangem as juntas,
desabam
telhas, desconjuntam-se os caixilhos,
o edifício
social dança nos trilhos,
vem tudo
abaixo num estrondo colossal
sem que se
altere o sono do boçal.
E eu, atado
ao leito deste hospício
em ruínas —
embora não esteja convencido
de que tenha
(jamais!) enlouquecido —,
vejo descer
sobre mim a noite definitiva,
que, em
trajes de enfermeira,
rodeada por
uma comitiva zombeteira,
acende o
candelabro, no qual ficam a luzir
o escárnio,
o crime, o descalabro.
(poeta
carioca que hoje faz 79 anos)
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