segunda-feira, outubro 27, 2014

Ode Pagã

Viver!  - O corpo nu, a saltar, a correr,
Numa praia deserta… Ou rolando, na areia,
Rolando, até ao mar… Que importa o que a alma anseia?
- Isto sim, é viver!

O paraíso é nosso e está na terra. Nós,
É que temos o olhar velado de incerteza;
E julgamos ouvir a voz da natureza,
Ouvindo a nossa voz.

Ilusões! A cultura, o amor, a poesia…
Não igualam, sequer, um dia à beira-mar,
Vivido plenamente, - a sorver, a beijar
O vento e a maresia!

Viver, é estar assim: a fronte ao céu erguida,
Os membros livres, as narinas dilatadas;
Com toda a natureza, em espírito, as mãos dadas…
- O resto, não é Vida!

Que venha pois, a brisa, e me trespasse a pele,
Para melhor poder compreendê-la e amá-la!
Que a voz do mar me chame e, ouvindo a sua fala,
Eu vá e seja dele!

Que o sol penetre bem na minha carne e a deixe
Queimada, para sempre; as ondas, uma a uma,
Rebentem no meu corpo! E eu fique, ébrio de espuma,
Contente como um peixe!


(poeta português falecido faz hoje 65 anos)

1 comentário:

jrd disse...

Na poesia, o mar pode ser um Deus.

Abraço