Fala do
velho do restelo ao astronauta
Aqui, na
Terra, a fome continua,
A miséria, o
luto, e outra vez a fome.
Acendemos
cigarros em fogos de napalme
E dizemos
amor sem saber o que seja.
Mas fizemos
de ti a prova da riqueza,
E também da
pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em
ti sei lá bem que desejo
De mais alto
que nós, e melhor e mais puro.
No jornal,
de olhos tensos, soletramos
As vertigens
do espaço e maravilhas:
Oceanos
salgados que circundam
Ilhas mortas
de sede, onde não chove.
Mas o mundo,
astronauta, é boa mesa
Onde come,
brincando, só a fome,
Só a fome,
astronauta, só a fome,
E são
brinquedos as bombas de napalme.
(José Saramago
faleceu faz hoje 3 anos)
2 comentários:
Excelente poema.
Que Saramago esteja em paz !
Um abraço para si.
A sabedoria do velho Saramago.
Abraço
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