Criança
Desconhecida
Criança
desconhecida e suja brincando à minha porta,
Não te
pergunto se me trazes um recado dos símbolos.
Acho-te
graça por nunca te ter visto antes,
E
naturalmente se pudesses estar limpa eras outra criança,
Nem aqui
vinhas.
Brinca na
poeira, brinca!
Aprecio a
tua presença só com os olhos.
Vale mais a
pena ver uma cousa sempre pela primeira vez que conhecê-la,
Porque
conhecer é como nunca ter visto pela primeira vez,
E nunca ter
visto pela primeira vez é só ter ouvido contar.
O modo como
esta criança está suja é diferente do modo como as outras estão sujas.
Brinca!
pegando numa pedra que te cabe na mão,
Sabes que te
cabe na mão.
Qual é a
filosofia que chega a uma certeza maior?
Nenhuma, e
nenhuma pode vir brincar nunca à minha porta.
Alberto Caeiro
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