A PAZ
Se eu te
pedisse a paz, o que me darias
pequeno
insecto da memória de quem sou
ninho e
alimento? Se eu te pedisse a paz,
a pedra do
silêncio cobrindo-me de pó,
a voz limpa
dos frutos, o que me darias
respiração
pausada de outro corpo
sob o meu
corpo?
Perdoa-me
ser tão só, e falar-te ainda
do meu
exílio. Perdoa-me se não te peço
a paz.
Apenas pergunto: o que me darias
em troca se
ta pedisse? O sol? A sabedoria?
Um cavalo de
olhos verdes? Um campo de batalha
para nele
gravar o teu nome junto ao meu?
Ou apenas
uma faca de fogo, intranquila,
no centro do
coração?
Nada te
peço, nada. Visito, simplesmente,
o teu corpo
de cinza. Falo de mim,
entrego-te o
meu destino. E a morte vivo
só de
perguntar-te: o que me darias
se te
pedisse a paz
e soubesses
de como a quero construída
com as
matérias vivas da liberdade?
(poeta
louletano que hoje faz 75 anos)
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