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terça-feira, maio 31, 2016

Coreografia

deitamos os mortos
nas mais distantes colinas
bem longe de casa

para daqui ver o quanto
se equilibram no horizonte

(escritor paranaense falecido faz hoje 6 anos

segunda-feira, maio 30, 2016

Donos…

Eu não sou dono de nada.
Meus filhos
não serão donos de nada.

 Eu não sou dono de nada
 porque hoje
alguns são donos de tudo.
Meus filhos
não serão donos de nada
porque amanhã
ninguém será dono de nada.
Todos serão donos de tudo.


(Mário lago faleceu faz hoje 14 anos)

domingo, maio 29, 2016

Pressentimento

Tenho o pressentimento de que viverei pouco.
Esta minha cabeça, semelhante ao crisol,
Purifica e consome.
Mas sem nenhuma queixa, sem nenhum sinal de horror,
Quero para o meu fim que em uma tarde sem nuvens,
Sob o límpido sol,
Nasça de um grande jasmim uma serpente branca
Que doce, docemente, me pique o coração.

(poetisa argentina nascida faz hoje 124 anos)

sábado, maio 28, 2016

Um homem não chora

Acreditava naquela história
do homem que nunca chora.

Eu julgava-me um homem.

Na adolescência
meus filmes de aventuras
punham-me muito longe de ser cobarde
na arrogante criancice do herói de ferro.

Agora tremo.
E agora choro.

Como um homem treme.
Como chora um homem!


(José Craveirinha nasceu faz hoje 94 anos)

sexta-feira, maio 27, 2016

Dois Epigramas

O sábio das coisas simples
olhou em torno e disse:
não há profundidade
sem superfície

É preciso dizer bom dia
quando o dia anoitece
ser exacto todo o dia
envelhece


(poeta moimentense nascido a 27 de Maio de 1912)

quinta-feira, maio 26, 2016

Bacante

Ergue nas mãos a taça transbordante
do vinho capitoso; em desalinho,
desata a cabeleira luxuriante
sobre o seu corpo nu, de rosa e arminho.

Um perfume oriental, sensualizam-te,
vai-se impregnando no ar, devagarinho . . .
E, lasciva e pagã, dança a bacante
embriagada de música e de vinho!

Torcendo os rins em lânguidos meneios
derrama sobre os pequeninos seios
a sua taça de cristal boêmia.

E há na volúpia estranha dos seus passos
e nas serpentes brancas dos seus braços
a eterna sedução da eterna fêmea!


(poetisa paulista nascida faz hoje 134 anos)

quarta-feira, maio 25, 2016

... Lá …

Como o vento
à noite,
no telhado
esse lamento do mal que não tem cura;

"... nada
do que foi teu será
nada te pertence já...
nenhuma coisa passada te é futura..."

Escutas:

Pássaros da noite em soltas alvoradas
ou fantasmas loucos
de roxas madrugadas.
Transidas de escuros medos
de solidões
de lutas
de finitas paixões
e de segredos...
as fadas chegam,
do lembrar:

"...Nada é eterno teu...
só esse luto!...
O futuro perdeste-o no passado
Lá, no caminho sagrado
passou-te ao lado e
morreu..."

Escutas;
De longes e ocultas fundas grutas...
que há em ti
desabitadas
veladas vêm discretas
as vozes secretas
das boas fadas do antigo lar:

"...Não esse luto!...
Lá, nessa glória inteira da lembrança
do teu paraíso longínquo de criança,
é teu o absoluto..."


(poetisa espinhense que hoje faz 85 anos)

terça-feira, maio 24, 2016

Reclame

se o mundo não vai bem
a seus olhos, use lentes
...ou transforme o mundo.

ótica olho vivo
agradece a preferência.


(poeta carioca que hoje faz 65 anos)

segunda-feira, maio 23, 2016


Jewel faz hoje 42 anos
Estrelas fixas

Quando já da vida
a alma tenha, com o corpo, partido,
e durma na sepultura
nessa noite, mais larga que as outras,
meus olhos, que em recordação
do infinito eterno das coisas,
guardarão somente, como de um sonho,
a suave luz de teus olhares profundos,
ao ir decompondo-se
entre o escuro fosso,
verão, no ignorado da morte,
teus olhos...destacando-se entre as sombras.


(poeta colombiano falecido a 23 de maio de 1886)

domingo, maio 22, 2016

semeadura

erva
de
tua
faina
semente
vertida
Se
esvaindo
na
seara
de
meus
pastos.

Lúcia Serra 

(poetisa mineira que hoje faz 61 anos)

sábado, maio 21, 2016

Luz, Câmara, Ação

O poeta cria o sonho
compensando o que lhe falta
com o muito que lhe sobra.


(escritora paraense que hoje faz 83 anos)

sexta-feira, maio 20, 2016

Poema sobre a recusa

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.


(Maria Teresa Horta faz hoje 79 anos)

quinta-feira, maio 19, 2016


Joey Ramone faria hoje 65 anos. Faleceu de linfoma aos 50.
Epígrafe

A sala do castelo é deserta e espelhada.

Tenho medo de Mim. Quem sou? De onde cheguei?...
Aqui, tudo já foi... Em sombra estilizada,
A cor morreu - e até o ar é uma ruína...
Vem de Outro tempo a luz que me ilumina -
Um som opaco me dilui em Rei...


(Mário de Sá-Carneiro nasceu a 19 de Maio de 1890)

quarta-feira, maio 18, 2016


Ian Curtis faleceu faz hoje 36 anos
Escada

De transformar-se o amador na coisa amada
transformam-se o pescador em peixe o capitão
em arma em piano o pianista em desastre
o equilibrista o arquiteto desaparecido
quem sabe converteu-se em luz no livre
alto vão da escada
e como ela em espiral
transformam-se em madrugada a namorada
em ácido o químico em mágica o mágico em livro
o bibliotecário em poeta o poema o poema em água
e por virtude de muito imaginar hoje sou você
graça - de ver em mim a parte desejada.


(poeta carioca que hoje faz 55 anos)

terça-feira, maio 17, 2016

Canção Punitiva

Atarda-me o olhar naquela escarpa
(Distância intranquila de sombra
Ou penas de pássaros acamadas?)
Pena de mim mesmo enquanto lembro
No pálido ar, homem obscuro,
A sua imagem, inacessível.
Desconheço o azul de mulher tão lívida.
O coração é uma pequenina pedra rosa.
As minhas lágrimas são de metal.


(poeta espinhense que hoje faz 68 anos)

segunda-feira, maio 16, 2016

Crepúsculo

A tarde e o silêncio...
Janelas fechadas,
vidraças coloridas
no crepúsculo vermelho, pérola e violeta.
Gritos roucos de buzina,
apitos longínquos de fábricas,
murmúrio de vozes,
aéreo murmúrio indeciso.
Os grilos começam a trilar.
Calaram-se as cigarras
nas árvores pesadas...
Outra vez
a tarde e o silêncio...

Nas ruas compridas
dança a poeira dourada do crepúsculo.
Quando virás? Ainda voltarás?
Ah! ninguém sabe como é lindo o crepúsculo
quando há lágrimas nos olhos!

A tarde e o silêncio...
Dança a poeira nas ruas compridas.
A noite cai sobre as árvores pesadas...


(poeta carioca nascido a 16 de Maio de 1893)

domingo, maio 15, 2016

Os Instantes Superiores da Alma

Os instantes Superiores da Alma
Acontecem-lhe - na solidão -
Quando o amigo - e a ocasião Terrena
Se retiram para muito longe -

Ou quando - Ela Própria - subiu
A um plano tão alto
Para Reconhecer menos
Do que a sua Omnipotência -

Essa Abolição Mortal
É rara - mas tão bela
Como Aparição - sujeita
A um Ar Absoluto -

Revelação da Eternidade
Aos seus favoritos - bem poucos -
A Gigantesca substância
Da Imortalidade


(poetisa estado-unidense falecida a 15 de Maio de 1886) 

Tradução de Nuno Júdice

sábado, maio 14, 2016


Frank Sinatra faleceu faz hoje 18 anos
A zanga  

A palavra que disse em raiva
pesa menos que uma semente de salsa,
mas por ela passa a estrada
que leva à minha sepultura,
naquele talhão comprado
nas encostas salgadas de Truro
onde os pinheiros dominam a baía.
Estou já meio-morto que chegue,
desviado da minha própria natureza
e da minha força de viver.
Se pudesse chorar, chorava.
Mas sou velho demais para ser
a criança de alguém.
Liebchen,
com quem me vou zangar
senão nos murmúrios do amor,
essa chama áspera e irregular?


(poeta estado-unidense falecido faz hoje 10 anos)

sexta-feira, maio 13, 2016


Melanie Thornton faria hoje 49 anos. Faleceu aos 34.

Ritchie Valens faria hoje 75 anos. Faleceu com 18.
Vermeer de delft  

É a manhã no copo:
Tempo de decifrar o mapa
Com seus amarelos e azuis,
De abrir as cortinas - o sol frio nasce
Nos ladrilhos silenciosos -,
De ler uma carta perturbadora
Que veio pela galera da China:
Até que a lição do cravo
Através dos seus cristais
Restitui a inocência.


(poeta mineiro nascido faz hoje 115 anos)

quinta-feira, maio 12, 2016


Ian Dury nasceu faz hoje 74 anos
Agora Mesmo

Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
Está gente a morrer e nós também

Está gente a despedir-se sem saber que para
Sempre
Este som já passou Este gesto também
Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante
Tu próprio te despedes de ti próprio
Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
Já estás diferente neste verso e vais com ele

Os amantes agarram-se desesperadamente
Eis como se beijam e mordem e por vezes choram
Mais do que ninguém eles sabem que estão a despedir-se

A Terra gira e nós também A Terra morre e nós
Também
Não é possível parar o turbilhão
Há um ciclone invisível em cada instante
Os pássaros voam sobre a própria despedida
As folhas vão-se e nós
Também
Não é vento É movimento fluir do tempo amor e morte
Agora mesmo e para todo o sempre
Amen


(Manuel Alegre faz hoje 80 anos)
Respiro e Vejo

Respiro e vejo. A noite e cada sol
vão rompendo de mim a todo o instante,
tarde e manhã que são tecido tempo,
chuva e colheita. O céu, repouso e vento.

Vergel de aves. Vou entre viveiros,
a caçar com o olhar, passarinhagem
dos pequeninos sóis e das estrelas
que emigram neste céu de goiabeiras.

mas sigo a jardinagem, podo o tempo,
o desgosto do espaço, a sombra e o fogo,
as florações da luz e da cegueira.

E, no dia, suspensa cachoeira,
neste jogo sagrado, vivo e vejo
o que veio em meus olhos desenhado.


(escritor paulista que hoje faz 85 anos)

quarta-feira, maio 11, 2016


Bob Marley faleceu faz hoje 35 anos
Joconda

Essa que deve ser silenciosa
como um perfume embriagante e raro,
doce - como a tristeza vagarosa,
alegre - como o azul do céu mais claro

Essa que é tolo Amor, sendo incerteza,
toda luz e mistério e graça e alma,
forma florida e vaga da Beleza
num sorriso tino, e triste e calma

Essa que eu adivinho e, vaga, ondeia
pela minha emoção, na minha ideia,
no meu Amor, na minha Arte e em mim;

talvez seja - quem sabe? a refletida
infinita saudade de outra vida
mais perfeita do que esta e de onde eu vim!


(poeta amarantino nascido a 11 de Maio de 1889)

terça-feira, maio 10, 2016

O Poema Ensina a Cair

O poema ensina a cair
sobre os vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede

até à queda vinda
da lenta volúpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.


(Luiza Neto Jorge nasceu faz hoje 77 anos)

segunda-feira, maio 09, 2016

Filosofia

Hora de comer - comer!
Hora de dormir - dormir!
Hora de vadiar - vadiar!

Hora de trabalhar?
- Pernas pro ar que ninguém é de ferro!


(poeta pernambucano nascido faz hoje 121 anos)

domingo, maio 08, 2016

Das cerejas

Das cerejas
eu lembro que eram doces.
Eram rubis de brinco
nas orelhas
e serviam de troca
boca a boca
no entretém guloso
dos namorados.


(poeta flaviense nascido faz hoje 103 anos)

sábado, maio 07, 2016

Desejo Indomável

Como corre a gazela
pela sombra dos bosques,
enlouquecida pelo próprio perfume,
assim corro eu, enlouquecido,
nesta noite do coração de maio
aquecida pela brisa do Sul.

Perdi o caminho
e erro ao acaso.
Quero o que não tenho,
e tenho o que não quero.

A imagem do meu próprio desejo
sai do meu coração
e, dançando diante de mim,
cintila uma e outra vez,
subitamente.

Quero agarrá-la, mas escapa-se.
E, já longe, chama-me outra vez
do atalho ...
Quero o que não tenho
e tenho o que não quero.


(Rabindranath Tagore nasceu a 7 de Maio de 1861) 

Tradução de Manuel Simões

sexta-feira, maio 06, 2016

Aparecimento de Cristo à Virgem

Não penses que morri por ter partido
ou que parti só por ter morrido.
Onde estive não estive e onde estou
não estive nunca. Não penses que me vês
só por me veres, ou que por não me veres
eu não existo. Nem penses que existo
se me vires, ou mesmo que existes
por me veres. Não penses que me amas
porque amas o que os teus sentidos
de mim sentem. Nem penses que me sentes
ou me amas só porque me sentiste e amaste.
Não somos nada e tudo somos sempre,
embora sempre eterna seja a eternidade
e a nossa eternidade não exista.


(poeta portuense que hoje faz 63 anos)

quinta-feira, maio 05, 2016

Madrigal

Tu és a matéria plástica de meus versos, querida...
Porque, afinal,
Eu nunca fiz meus versos propriamente a ti:
Eu sempre fiz versos de ti!


(Mário Quintana faleceu faz hoje 22 anos)
Bairro

Em teu corpo enfim repousarei
Das pedras ásperas
Que mal sei pisar?

Das guerras, dos cilícios,
Dos ecos a doerem nos ouvidos
Como pedradas.
E dos tédios que sangram?

Ah, finalmente
Ao desfolhar teu corpo desfolhado
- Mas inda fresco e belo -
A vida será minha?


(poeta aljustrelense nascido a 5 de Maio de 1923)

quarta-feira, maio 04, 2016

Caminhos Brancos

Chamaram-me e não sei que voz
era aquela que lá ao longe ouvia...
e não sei onde foi nem em que dia,
nem se era só por mim ou se por todos nós,

Nasceu a lua e a voz chamou-me
ainda outra vez. Ergui-me e caminhei.
Ouvira bem: agora era o meu nome.              
O resto ainda não sei.

Há quantos sóis, há quantas luas foi?                 
Outros ouviram e vim eu sozinho.                    
Hoje o mesmo cansaço a todos dói
mas não dou por inútil o caminho.


(Branquinho da Fonseca nasceu faz hoje 111 anos)

terça-feira, maio 03, 2016

O lugar em que temos razão

Do lugar em que temos razão
jamais crescerão
flores na primavera.

O lugar em que temos razão
está pisoteado e duro
como um pátio.

Mas dúvidas e amores
escavam o mundo
como uma toupeira, como a lavradura.
E um sussurro será ouvido no lugar
onde houve uma casa
que foi destruída.


(Yehuda Amichai nasceu faz hoje 92 anos)

segunda-feira, maio 02, 2016

Cuidado!

Cuidado aonde pisa!
pra não pisar em ninguém.

E cuidado aonde cai!
para não cair
no caminho de alguém.

Marcelo Aceti 

(poeta brasileiro que hoje faz 30 anos)

domingo, maio 01, 2016



Luis Cília - Não me peçam razões



Margem Sul - Adriano Correia de Oliveira

1º. MAIO

Há Maio em cada rosto
em cada olhar
que passa pelo asfalto da Avenida
Há Maio em cada braço
que se ergue
há Maio em cada corpo em cada vida

Há Maio em cada voz
que se levanta
há Maio em cada punho que se estende
há Maio em cada passo
que se anda
há Maio em cada cravo que se vende

Há Maio em cada verso
que se canta
há Maio em cada uma das canções
há Maio que se sente
e contagia
no sorriso feliz das multidões

Há Maio nas bandeiras
que flutuam
e mancham de vermelho
o céu de anil
Há Maio de certeza
em cada peito
que sabe respirar o ar de Abril

Mas há Maio sobretudo
no poema
que se escreve sem ler o dicionário
porque Maio há-de ser
mais do que um grito
porque Maio é ainda necessário

Canto Maio e se canto
logo existo
que o meu canto de Maio é solidário
com o canto que escuto
e em que medito
e que sai da boca do operário

Fernando Peixoto


(poeta portuense)