How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
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quinta-feira, dezembro 31, 2015
quarta-feira, dezembro 30, 2015
BIRTH OF A
SOLDIER
No ecrã, um
soldado inglês
a contar
cadáveres numa aldeia da Bósnia.
Ele chora
sob o elmo azul. Ao observá-lo de mais perto,
vejo como os
seus maxilares se contraem,
um lobo que
mostra os dentes,
a careta da
sua última saudação à humanidade.
(escritor
alemão falecido faz hoje 20 anos)
Tradução de
Luís Costa
terça-feira, dezembro 29, 2015
Ovo Nuclear
este
reencontro com o Silêncio na procura de mim mesmo
esta busca
de Paz em cada ave
em cada
movimento
como uma
janela entreaberta
este centro
que
evolui com a
paisagem
esta Viagem
ao país do meu rosto
a minha janela fotográfica
este cigarro
que acendo
e
que
procura
o
Ovo
(poetisa
coimbrã que hoje faz 70 anos)
segunda-feira, dezembro 28, 2015
AGORA (NAO)
PROFESSO
Agora não
professo
nem sussurro
ao vento
os segredos
que reinvento,
remo na
transumância dos dias.
O sonho,
esse discípulo
da noite
dissipada,
inspira-me à
peregrinação.
Agora não
tenho fronteiras,
mas quando o
exílio da memória
me retém o
espelho dos dias
ao sentido
original das coisas
regresso,
porque é necessário
ser
contemporâneo do tempo.
Agora, sim,
professo:
viver e
abraçar os rumores
do presente.
(poeta
moçambicano que hoje faz 53 anos)
domingo, dezembro 27, 2015
A MORTE NAS
ILHAS (AFORTUNADAS?)
Se eu fosse
água que milagre celebraria?
Nem sou
sequer ainda a sua evaporação.
Não ė nas
ilhas que os sonhos rebentam?
Eu vi as
ninfas emergindo das águas
fartas de
ilhas querendo invadir as caravelas:
quilhas
afiadas no esmeril da areia.
A que
trajecto pertenço? Todas as ilhas
são sementes
de agonia. Nelas crescem fortalezas
aonde
assomam às areias heróis que são
crianças
mortas: quartos esquecidos duma casa.
A derrota
são os canhões silenciosos pela aurora.
Nem a
existência de um rei é um estandarte.
(poeta
amarantino nascido a 27 de Dezembro de 1923)
sábado, dezembro 26, 2015
Já?
já tentaste
praticar o bem
fazendo mal?
já tentaste
praticar o mal
fazendo bem?
já tentaste
praticar o bem
fazendo bem?
já tentaste
praticar o mal
fazendo mal?
já tentaste
praticar o bem
não fazendo
nada?
já tentaste
praticar o mal
fazendo
tudo?
já tentaste
praticar tudo
não fazendo
nada?
e o
contrário, já tentaste?
já?
seja qual
for a tua resposta,
não sei que
te diga.
(escritor
portuense que hoje faz 78 anos)
sexta-feira, dezembro 25, 2015
Quando um
Homem Quiser
Tu que
dormes à noite na calçada do relento
numa cama de
chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens
o Natal da solidão, do sofrimento
és meu
irmão, amigo, és meu irmão
E tu que
dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de
raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o
Natal da solidão sem um queixume
és meu
irmão, amigo, és meu irmão
Natal é em
Dezembro
mas em Maio
pode ser
Natal é em
Setembro
é quando um
homem quiser
Natal é
quando nasce
uma vida a
amanhecer
Natal é
sempre o fruto
que há no
ventre da mulher
Tu que
inventas ternura e brinquedos para dar
tu que
inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao
teu filho por não os poderes comprar
és meu
irmão, amigo, és meu irmão
E tu que vês
na montra a tua fome que eu não sei
fatias de
tristeza em cada alegre bolo-rei
pões um
sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu
irmão, amigo, és meu irmão
Ary dos Santos
quinta-feira, dezembro 24, 2015
quarta-feira, dezembro 23, 2015
terça-feira, dezembro 22, 2015
Canto na
noite
Na noite
escura, de um luar partido,
eu mudo o
horizonte a cada passo,
eu
cambaleio, caio, e me refaço
ao som de um
canto lindo, sem saber
que o canto
me envolveu em firme laço,
o canto me
mostrou o meu viver.
Na noite
escura, agora, eu ouço o canto,
adormecendo
ao som de doce voz.
Na noite
escura, junto a mim, no entanto,
ainda não te
encontro.
(poeta
pernambucano que hoje faz 68 anos)
segunda-feira, dezembro 21, 2015
Pecios de
sombra
Hablaban con
bocas de sombra,
susurraban
sucesos mágicos,
historias de
herrumbre y de musgo
(no sabían
que estaban muertos,
y yo no
quería apenarlos).
Fui
reconstruyendo sonidos
que en el
sueño significaban
para
interpretarlos despierto
y
atribuirlos a unos labios.
(Quería
conocer el nombre
de quienes
me hablaban en sueños:
la rosa no
olería igual
si su nombre
no .fuese rosa.)
Rescaté,
lúcido y sonámbulo,
los
vestigios que la marea
llevó a mi
playa de despierto;
con ellos
construiría un puente
desde el
soñar hasta el velar:
así tendrían
consistencia
las palabras
impronunciables
que yo
escuché cuando dormía,
fantasmal
materia de sueño.
(poeta
madrileno falecido faz hoje 13 anos)
domingo, dezembro 20, 2015
Veio Tudo de
Longe
Veio tudo de
longe para ser
uma só
coisa, nupcial e magnífica.
Caminho e
tenda. O mar. Livros. A indizível
matéria da
dor. Ternura
cercada e
repartida, pouco
a pouco, à
mesa rápida
dos lábios,
clandestina voz baixa
das mãos
juntas. Sobreviventes
de invernos,
dúvidas, denúncias.
E o teu
sorriso honrado. A oferta
duplicada e
vulcânica
dos seios.
Esta noite que nos pôs
à prova.
Sobre o vento e o repouso
do vento. E
a música ainda cheia
de muitos
outros quartos. Sim, a importância
do teu
rosto: alvo claro deste mês
desmedido
que nós somos.
Veio tudo de
longe para ser
uma só
coisa, sagrada e partilhável.
O banho
comum gradual e abundante
dos
sentidos. As faces que só tenho
entre o
convívio doce dos teus dedos
sempre em
férias. E a chave
do desejo.
Erecta dureza doadora
do óleo e da
viagem
aos lugares
da origem
e do êxtase.
Resposta
da terra
contra a terra.
E a surpresa
ensina e desvenda
as partes
mais antigas da alegria
dupla,
densa, nadadora, nossa.
(poeta
português nascido em Lourenço Marques a 20 de Dezembro de 1927 e falecido em
Espanha em 1975, de acidente de viação)
sábado, dezembro 19, 2015
Mesa dos
sonhos
Ao lado do
homem vou crescendo
Defendo-me
da morte quando dou
Meu corpo ao
seu desejo violento
E lhe devoro
o corpo lentamente
Mesa dos
sonhos no meu corpo vivem
Todas as
formas e começam
Todas as
vidas
Ao lado do
homem vou crescendo
E defendo-me
da morte povoando
de novos
sonhos a vida.
(Alexandre
O'Neill nasceu faz hoje 91 anos)
O apanhador
de desperdícios
Uso a
palavra para compor meus silêncios.
Não gosto
das palavras
fatigadas de
informar.
Dou mais
respeito
às que vivem
de barriga no chão
tipo água
pedra sapo.
Entendo bem
o sotaque das águas
Dou respeito
às coisas desimportantes
e aos seres
desimportantes.
Prezo
insetos mais que aviões.
Prezo a
velocidade
das
tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
um atraso de nascença.
Eu fui
aparelhado
para gostar
de passarinhos.
Tenho
abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal
é maior do que o mundo.
Sou um
apanhador de desperdícios:
Amo os
restos
como as boas
moscas.
Queria que a
minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu
não sou da informática:
eu sou da
invencionática.
Só uso a
palavra para compor meus silêncios.
(poeta
mato-grossense nascido faz hoje 99 anos)
sexta-feira, dezembro 18, 2015
A un suicida
en una piscina
No mueras
más
Oye una
sinfonía para banda
Volverás a
amarte cuando escuches
Diez
trombones
Con su añil
claridad
Entre la
noche
No mueras
Entreteje
con su añil claridad
Por lo que
Dios más ame
Sal de las
aguas
Sécate
Contémplate
en el espejo
En el cual
te ahogabas
Quédate en
el tercer planeta
Tan sólo
conocido
Por tener
unos seres bellísimos
Que emiten
sonidos con el cuello
Esa unión
entre el cuerpo
Y los
ensueños
Y con
máquinas ingenuas
Que se
llevan a los labios
O acarician
con las manos
Arte
purísimo
Llamado
música
No mueras
más
Con su añil
claridad.
(poeta
peruano que hoje faria hoje 74 anos)
quinta-feira, dezembro 17, 2015
Nada além
Sinto nas
narinas a aridez do campo
e na alma a
solidão
das almas
inda puras.
Ouço o grito
plangente das aves
palmilhando
a palha seca
e a agonia
muda dos seres já perdidos
aguardando,
inocentes,
o marco
cruel da extinção.
E me
pergunto:
O que faço
aqui?
Vim
destinado para ver o fim?
Ou apenas
cruzo,
de raspão,
pela eternidade,
sem qualquer
motivo?
Sendo nada
além do que
um passante
distraído,
que nada
mais tem a fazer,
senão orar e
pedir perdão
pela
inutilidade de viver.
(escritor
gaúcho que hoje faz 80 anos de idade)
quarta-feira, dezembro 16, 2015
Barcos
"Nha
terra é quel piquinino
É São
Vicente é que di meu"
Nas praias
Da minha
infância
Morrem
barcos
Desmantelados.
Fantasmas
De
pescadores
Contrabandistas
Desaparecidos
Em qualquer
vaga
Nem eu sei
onde.
E eu sou a
mesma
Tenho dez
anos
Brinco na
areia
Empunho os
remos...
Canto e
sorrio...
A embarcação
Para o mar!
É para o
mar!...
E o pobre
barco
O barco
triste
Cansado e
frio
Não se
moveu...
(poetisa
cabo-verdiana nascida faz hoje 88 anos)
terça-feira, dezembro 15, 2015
Mapa
Ao norte, a
torre clara, a praça, o eterno encontro,
A
confidência muda com teu rosto por jamais.
A leste, o
mar, o verde, a onda, a espuma,
Esse
fantasma longe, barco e bruma,
O cais para
a partida mais definitiva
A urna
distancia percorrida em sonho:
Perfume da
lonjura, a cidade santa.
O oeste, a
casa grande, o corredor, a cama:
Esse carinho
intenso de silêncio e banho.
A terra a
oeste, essa ternura de pianos e janelas abertas
A rua em que
passavas, o abano das sacadas: o morro e o
cemitério
e as glicínias.
Ao sul, o
amor, toda a esperança, o circo, o papagaio, a
nuvem:
esse varal de vento,
No sul iluminado
o pensamento no sonho em que te sonho
Ao sul, a
praia, o alento, essa atalaia ao teu país
Mapa azul da
infância:
O jardim de
rosas e mistério: o espelho.
O nunca além
do muro, além do sonho o nunca
E as
avenidas que percorro aclamado e feliz.
Antes o sol
no seu mais novo raio,
O acordar
cotidiano para o ensaio do céu,
Preto e
branco e girando: andorinha e terral.
Depois a
noite de cristal e tria,
A noite das
estrelas e das súbitas sanfonas afastadas,
Tontura de
esperanças: essa mistura de beijos e de danças
pela estrada
Numa eterna
chegada ao condado do Amor.
(poeta
catarinense nascido faz hoje 93 anos
segunda-feira, dezembro 14, 2015
Quando em
tua presença falei de amores antigos
olhava-os
com a mesma visão distante de sementes
que murcharam na
terra.
Meu amor és
só tu
e não o
comparo à luz do sol que essa todas as noites
se esconde:
é antes luz
vegetal, interior, sempre idêntica
a si mesma,
peixe cego
subido do chão do oceano sobrenadando
atônito na
superfície.
(escritor
maranhense nascido faz hoje 101 anos)
domingo, dezembro 13, 2015
Dona Doida
Uma vez,
quando eu era menina, choveu grosso
com
trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se
pôde abrir as janelas,
as poças
tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe,
como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu
inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar
os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos
depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que
me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com
sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos
me repudiaram envergonhados,
meu marido
ficou triste até a morte,
eu fiquei
doida no encalço.
Só melhoro
quando chove.
(poetisa
mineira que hoje faz 80 anos)
sábado, dezembro 12, 2015
Nos Teus
Gestos
Nos teus
gestos há animais em liberdade
e o brilho
doce que só têm as cerejas.
É neles que
adormeço, e dos teus dedos
retiro a luz
azul dos arquipélagos.
Os teus
gestos são letras, sílabas, poemas.
Os teus
gestos são páginas inteiras. São
a tua boca a
namorar na minha boca,
o cio dos
séculos a saudar o tempo.
São os teus
gestos que me acordam. Gestos
que vestem o
silêncio fundo das ravinas
e assinalam
a água dos desertos.
Os teus
gestos são música. São lume.
São a
respiração do teu olhar. A seara
de espigas
que ondula no meu corpo.
Joaquim Pessoa
Posta dedicada à minha companheira, com quem casei faz hoje
38 anos
sexta-feira, dezembro 11, 2015
Revolução
Orbital
Revolução
orbital: vai-se a rosa transformando
na coisa
múltipla, amante e amada, na acção
que assim a
faz e nos acidentes mínimos – paisagens,
estações dos
dias e das noites, dos anos da história.
Ondula no
cérebro a fronteira que as margens da luz
desenham. E
a rosa é uma hélice que vibra
no ar que a
respirar obriga(s): torção dos pulmões,
do tronco e
do sexo, dos nomes e dos vocativos
que se
respondem: como um coração que deflagra
a rosa faz do
ar que te falta a terra de onde nasces
e o chão
sobre que danças.
(poeta
eborense que hoje faz 70 anos)
quinta-feira, dezembro 10, 2015
Hierarquia
o acto de
perguntar é uma confiança expectante,
a veterania
de um exemplo acaba por matá-lo,
mas pouco
disto é essencial para já:
na poesia,
enquanto dilúvio da existência, as
influências
do poeta são as veias do seu poema homicida,
veias que
carregam químicos dispostos livremente
no corpo,
mudando de lugar,
subindo aos
olhos que lêem e que tentam
colonizar
hemorragias
nos ouvidos
puramente visuais.
mas haverá
sempre alguém na audiência
que
pergunta,
que
questiona directamente o poema e o seu exemplo,
alguém que
interpela a
legitimidade
de quem redige e assina o que é, afinal, da natureza,
alguém que
pressente muros de berlim, ouvidos, narizes, ilhas,
simulacros
do dessonhado, do oculto.
e nesse
momento eu sorrio e não deixa de me ocorrer
que
pressentir nem sempre te levará
à infância
de um sentimento.
(poetisa
farense que hoje faz 31 anos)
quarta-feira, dezembro 09, 2015
Saudade
Saudade é um
pouco como fome.
Só passa
quando se come a presença.
Mas às vezes
a saudade é tão profunda
que a presença é pouco:
quer-se
absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro
para uma
unificação inteira
é um dos
sentimentos mais urgentes
que se tem
na vida.
(poetisa
brasileira de origem ucraniana, falecida a 9 de Dezembro de 1977)