Veio Tudo de
Longe
Veio tudo de
longe para ser 
uma só
coisa, nupcial e magnífica. 
Caminho e
tenda. O mar. Livros. A indizível 
matéria da
dor. Ternura 
cercada e
repartida, pouco 
a pouco, à
mesa rápida 
dos lábios,
clandestina voz baixa 
das mãos
juntas. Sobreviventes 
de invernos,
dúvidas, denúncias. 
E o teu
sorriso honrado. A oferta 
duplicada e
vulcânica 
dos seios.
Esta noite que nos pôs 
à prova.
Sobre o vento e o repouso 
do vento. E
a música ainda cheia 
de muitos
outros quartos. Sim, a importância 
do teu
rosto: alvo claro deste mês 
desmedido
que nós somos. 
Veio tudo de
longe para ser 
uma só
coisa, sagrada e partilhável. 
O banho
comum gradual e abundante 
dos
sentidos. As faces que só tenho 
entre o
convívio doce dos teus dedos 
sempre em
férias. E a chave 
do desejo.
Erecta dureza doadora 
do óleo e da
viagem 
aos lugares
da origem 
e do êxtase.
Resposta 
da terra
contra a terra. 
E a surpresa
ensina e desvenda 
as partes
mais antigas da alegria 
dupla,
densa, nadadora, nossa.
(poeta
português nascido em Lourenço Marques a 20 de Dezembro de 1927 e falecido em
Espanha em 1975, de acidente de viação)
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