Não estou só
Não estou
só, porque o piano invisível
Está
repetindo a valsa clássica daquela noite, há muito tempo.
Não estou
só, porque há palavras que foram ditas e não morreram de todo.
Não estou
só, porque as amadas mortas ainda estão falando ao meu ouvido;
Mocinhas
vestidas de branco das cidadezinhas tranquilas estão sorrindo para mim;
Comovendo
minha estátua e o retrato em cima da mesa.
Não estou
só, porque os olhos do retrato estão perdidos no passado e no presente.
A sala é
pequena. O mundo parou. Tudo parou. Ainda assim não estou só,
Porque a
noite chora sangue no pingo da estrela,
Parado, no
rasgão da janela que dá para o mundo.
(poeta
baiano nascido faz hoje 102 anos)
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