Burnt Norton
– I
O tempo
presente e o tempo passado
Estão ambos
talvez presentes no tempo futuro,
E o tempo
futuro contido no tempo passado.
Se todo o
tempo é eternamente presente
Todo o tempo
é irredimível.
O que podia
ter sido é uma abstracção
Permanecendo
possibilidade perpétua
Apenas num
mundo de especulação.
O que podia
ter sido e o que foi
Tendem para
um só fim, que é sempre presente.
Ecoam passos
na memória
Ao longo do
corredor que não seguimos
Em direcção
à porta que nunca abrimos
Para o
roseiral. As minhas palavres ecoam
Assim, no
teu espirito.
Mas para quê
Perturbar a
poeira numa taça de folhas de rosa
Não sei.
Outros ecos
Habitam o
jardim. Vamos segui-los?
Depressa,
disse a ave, procura-os, procura-os,
Na volta do
caminho. Através do primeiro portão,
No nosso
primeiro mundo, seguiremos
O chamariz
do tordo? No nosso primeiro mundo.
Ali estavam
eles, dignos, invisíveis,
Movendo-se
sem pressão, sobre as folhas mortas,
No calor do
outono, através do ar vibrante,
E a ave
chamou, em resposta à
Música não
ouvida dissimulada nos arbustos,
E o olhar
oculto cruzou o espaço, pois as rosas
Tinham o ar
de flores que são olhadas.
Ali estavam
como nossos convidados, recebidos e recebendo.
Assim nos
movemos com eles, em cerimonioso cortejo,
Ao longo da
alameda deserta, no círculo de buxo,
Para
espreitar o lago vazio.
Lago seco,
cimento seco, contornos castanhos,
E o lago
encheu-se com água feita de luz do sol,
E os lótus
elevaram-se, devagar, devagar,
A superfície
cintilava no coração da luz,
E eles
estavam atrás de nós, reflectidos no lago.
Depois uma
nuvem passou, e o lago ficou vazio.
Vai, disse a
ave, pois as folhas estavam cheias de crianças,
Escondendo-se
excitadamente, contendo o riso.
Vai, vai,
vai, disse a ave: o género humano
Não pode
suportar muita realidade.
O tempo
passado e o tempo futuro
O que podia
ter sido e o que foi
Tendem para
um só fim, que é sempre presente.
(T.S. Eliot
faleceu a 4 de Janeiro de 1965)
Tradução de
Maria Amélia Neto
1 comentário:
Um grande, grande poema!
Abraço
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