Recado
ouve-me
que o dia te
seja limpo e
a cada
esquina de luz possas recolher
alimento
suficiente para a tua morte
vai até onde
ninguém te possa falar
ou
reconhecer - vai por esse campo
de crateras
extintas - vai por essa porta
de água tão
vasta quanto a noite
deixa a
árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas
aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se
na vertigem do voo - deixa
que o outono
traga os pássaros e as abelhas
para
pernoitarem na doçura
do teu breve
coração - ouve-me
que o dia te
seja limpo
e para lá da
pele constrói o arco de sal
a morada
eterna - o mar por onde fugirá
o etéreo
visitante desta noite
não esqueças
o navio carregado de lumes
de desejos
em poeira - não esqueças o ouro
o marfim -
os sessenta comprimidos letais
ao
pequeno-almoço
(poeta
coimbrão que hoje faria 66 anos)
1 comentário:
Um grande Poeta, estranhamente pouco reconhecido.
Abraço
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