Esse nome
Esse nome,
Poesia! Esse nome, esse nome...
Esse rito,
esse mito, o chacal das angústias
Essa arma de
fogo que repele e que explode,
Que o peito
te alimenta e te come e te come!
O deserto a
florir. O oceano a sangrar.
Tanta ave a
subir das ruínas ardentes.
As pedras
removidas. Os Templos abalados.
Os segredos
dos deuses no fumo desvelados.
As promessas
abertas. Os sacrários abertos.
Decifrados
nos mortos insolúveis sinais.
Os retratos
da água, quebrados. Mais os selos,
De todos os
mistérios. Nos ventos abissais
A puríssima
voz dos homens imortais.
E esse nome,
Poesia? . .. Esse amante, onde o escondes?
Esse mágico
arauto. O sangue do teu corpo.
O labirinto.
O guia, da cega caminhada,
O terror, o
terror, dos homossexuais,
Que gera e
lhes destrói os dias geniais.
E esse nome,
Poesia?!... Nas montanhas, nos cais,
As multidões
de artistas, velhos adolescentes,
Fitam o arco
de oiro. As fluidas espirais,
Do chicote
que rasga coerências incoerentes.
Doidas andam
nos céus as máquinas e os olhos
Pensamentos
sem crânios.
Azuis
fosforescências de azuis mediterrâneos.
Um atroz
sofrimento aos homens prometido.
Diz seu
nome, Poesia! Outeiros e balidos
De cordeiros
dormidos lhe auguram a chegada.
Diz-lhe que
venha, sem o fel do fim:
- Vem,
Irmão, como a água.
Não
provoques a chaga,
Nem estrela,
nem cometa.
Vem consumado,
enfim,
Como um dia
virás
Para o
último Poeta.
Natércia Freire
(poetisa
benaventense nascida a 28 de Outubro de 1920)
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