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sábado, fevereiro 28, 2009

Tarólogos, astrólogos e mitólogos Parece que os portugueses, empresas e particulares, andam deprimidos. E vai daí, o canal público de televisão resolveu pedir perspectivas sobre o futuro a uma taróloga. A jovem Bandarra, manuseando as cartas, previu que o ano de 2009 ia ser mau. Ela até era bonita e simpática, mas eu, que sou velho, gordo e feio, não preciso de cartas nenhumas para prever o mesmo. Chega-me o saber de experiência feito que a recuperação das crises económicas começa onde as mesmas se iniciaram. Por maioria de razão, a primeira crise global apenas regredirá após o caldo de cultura onde começou ter sido devidamente “purificado”. E como o FED prevê o início da recuperação para os finais de 2009, a mesma só chegará a estas bandas lá para os idos de 2010. Do esforço desenvolvido pela televisão pública para divulgar a ciência da “adivinhação do futuro”, ficam-nos, pelo menos, algumas certezas caseiras: É homem e sofre de impotência? Vá ao congresso de medicinas alternativas de Montalegre e emborque uns cálices (ou copos de três, dependendo da minhoca) de uma bagaceira que lá existe chamada “levanta o pau”. Mas não se esqueça de levar uma túnica para vestir e alguém para o conduzir de regresso, pois o tamanho do “coiso” não lhe permitirá vestir calças nem chegar aos pedais da viatura. É mulher e sofre de frigidez? Vá ali à “santa da ladeira”, mas lembre-se de levar uma cesta de pensos “salva cuecas”. É que para lá não se vai a não ser levada, mas no regresso “vem-se” a toda a hora, mesmo sozinha. Sofre de lombrigas, lumbago, erisipela, dor de rins, falta de ar, flatulências, arrotos, mau olhado, espinhela caída, pé de atleta, joanetes, dor de dentes, hemorróidas, tosse, espirros frequentes, comichões, queda de cabelo? O professor Karamba resolve todos os seus problemas. Considera que os seus impostos estão a ser mal empregues na pasmaceira do canal público de televisão? Leia um bom livro ou oiça um bom disco, porque queixar-se ao paquete não resolve nada e a concorrência ainda é pior.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: - mais nada. Cecília Meireles* *poeta brasileira

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Lata não lhe falta A criminosa de guerra Tzipi Livni prometeu ao também criminoso de guerra Benjamin Netanyahu, primeiro ministro indigitado do criminoso estado racista e anti-semita chamado Israel, que lhe daria todo o apoio nas manobras contra o Irão e que “iria utilizar os seus muitos contactos nos Estados Unidos, na Europa e no Mundo Árabe, bem como a sua experiência e a de outros membros do Kadima, para conseguir o apoio da comunidade internacional contra o Irão”. A mesma criminosa avisou de que Israel lançaria um novo ataque genocida contra a Faixa de Gaza se o alegado fornecimento de armas do Irão ao Hamas continuasse. Imagem: À esquerda, soldados nazis controlam judeus; à direita, soldados sionistas controlam palestinos

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Soneto de Quarta-Feira de Cinzas Por seres quem me foste, grave e pura Em tão doce surpresa conquistada Por seres uma branca criatura De uma brancura de manhã raiada. Por seres de uma rara formosura Malgrado a vida dura e atormentada Por seres mais que a simples aventura E menos que a constante namorada Porque te vi nascer de mim sozinha Como a noturna flor desabrochada A uma fala de amor, talvez perjura. Por não te possuir, tendo-te minha Por só quereres tudo e eu dar-te nada Hei-de lembrar-te sempre com ternura. Vinicius de Moraes

terça-feira, fevereiro 24, 2009

É Carnaval Depois de ler, ontem, a “homilia” das segundas-feiras do “sacristão de serviço” ao Diário de Notícias, na qual bolçava impropérios sobre a escola pública a propósito do lançamento de um livro de um outro "padre falhado", Mário Pinto de seu nome, como ele professor catedrático da universidade do opus dei, tive uma enorme surpresa, digna da quadra que estamos a viver. Ao procurar no Google por “Mário Pinto” e “Universidade Católica”, fui logo direccionado para uma página intitulada Máquina dos peidos. Não percebi o motivo da façanha, pois não consegui refazer o percurso de novo. Deve ser uma daquelas ligações que aparecem só por momentos, mas que me deu um grande gozo, lá isso deu. Quem souber os números dos telemóveis de JCN e MP pode lá ir e enviar-lhes uma “sinfonia” da “orquestra de peidos”. Parece que é grátis, pelo menos para quem envia.

domingo, fevereiro 22, 2009

Crítica e Auto-Crítica Assim como o homem carrega o peso do próprio corpo sem o sentir, mas sente o de qualquer outro corpo que quer mover, também não nota os próprios defeitos e vícios, mas só os dos outros. Entretanto, cada um tem no seu próximo um espelho, no qual vê claramente os próprios vícios, defeitos, maus hábitos e repugnâncias de todo o tipo. Porém, na maioria das vezes, faz como o cão, que ladra diante do espelho por não saber que se vê a si mesmo, crendo ver outro cão. Quem critica os outros trabalha em prol da sua própria melhoria. Portanto, quem tem a inclinação e o hábito de submeter secretamente a conduta dos outros, e em geral também as suas acções e omissões, a uma atenta e severa crítica, trabalha na verdade em prol da própria melhoria e do próprio aperfeiçoamento, pois possui o suficiente de justiça, ou de orgulho e vaidade, para evitar o que amiúde censura com tanto rigor. Arthur Schopenhauer - in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida' Retirado do Citador

sábado, fevereiro 21, 2009

Compulsão à citação Há pessoas que precisam apoiar-se em citações o tempo todo. Alguns trazem esse hábito do berço... O pai citador transmite ao descendente essa mania - filho de peixe, peixinho é. Citações de provérbios, ou citações mais requintadas. Quando não lembra a citação, o citador sofre, sabendo, porém, como dizia Oscar Wilde, que "as nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros"... O citador vive entre aspas, coleciona as palavras alheias com reverência. Não teme a recriminação daqueles que, citando algum pensador, repetem: "Quem cita os outros jamais desenvolve suas próprias ideias". E daí? Mais vale uma citação na mão do que repetir, sem saber, e de modo menos genial, o pensamento que outros já formularam com exatidão. Quem cita pensa também. Citando com a consciência alerta, pensarei ao lado de grandes pensadores. Por exemplo, ao lado de Leonardo da Vinci, que escreveu: "Quem pouco pensa, muito erra." Não seria o caso de admitir que quem cita muito... muito acerta? E tem mais. O citador compulsivo nunca está sozinho. Dentro dele dialogam centenas de pessoas, com frases redondas, aforismos intrigantes. O citador é um solitário acompanhadíssimo. Dizia isso com outras palavras, sem desconfiar que se referia ao citador, o poeta Carlos Drummond de Andrade: "A solidão gera inúmeros companheiros em nós mesmos." Solitário, ensimesmado, o citador adora dicionários de citações. Passa horas em convívio intenso com centenas de pessoas que disseram algo relevante, mais ou menos inteiradas do poder de suas palavras. Montaigne mencionava os "doutores pela ciência alheia", mas talvez seja de fato impossível chegar ao "doutorado" de outro modo. Só Deus prescinde de citações, e todas as que Ele faz são citações por Ele mesmo inventadas! A mania de citar, à medida que aprofunda suas raízes na mente do citador, transforma o citador num pensador original. Seu talento consiste em aplicar em contextos diferentes as frases que nasceram em diferentes lugares e tempos. "Por toda a minha vida eu vou te amar" perderá suas aspas na declaração de amor que o citador fizer com a paixão que o primeiro poeta jamais teve. Citar é aceitar que alguém foi feliz em dizer algo que eu não disse antes. Mas é também aceitar outro fato. Ao citar tantos outros, poderei talvez, distraidamente, criar minhas próprias frases. Frases que, no futuro, outro citador compulsivo salvará do esquecimento. Gabriel Perissé Publicado no jornal digital Correio da Cidadania

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Seios Permeio aos dedos bem cedo teus seios - anseios sem medos sem credo receios... Que veio! Que enredo! aos seios tão ledos tão cheios eu cedo! Cauneto* *poeta paranaense

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

O sorriso enigmático do espião
Os seus concidadãos estão em choque por causa de Ali al-Jarrah, um aparentemente pacato cidadão e homem de família libanês que trabalhava como administrador de uma escola e era um acérrimo defensor da causa Palestina. Preso há vários meses, terá confessado aos investigadores policiais a sua face oculta de espião de Israel, numa carreira espectacular pela sua duração de 25 anos e pelas suas características, atendendo às artimanhas que utilizava para enviar aos israelitas as fotografias e os relatórios sobre os grupos palestinos e libaneses cujos passos vigiava, recebendo, em troca, cerca de USD 300.000. Qualquer cidadão que trai os seus a troco de dinheiro, é um traste. Quem tem duas mulheres e vários filhos em locais diferentes e trai os seus em favor do pior inimigo, durante 25 nos e por um prato de lentilhas (mil dólares por mês, em média) é um triste traste. Toda a história aqui.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Os caimões

O que espanta no processo que levou à condenação do advogado inglês David Mills não são os quatro anos e meios de prisão que, certamente, não cumprirá, nem o facto de ser advogado de Sílvio Berlusconi, que se vangloriou o ano passado do seu historial com a justiça, dizendo:“eu sou o detentor do recorde mundial de processos em toda a história da humanidade – e também na de outros seres que vivem noutros planetas”. Afinal, advogados corruptos existem aos montes e a lábia do comendador é sobejamente conhecida. Aliás, ele não pôde ser julgado no mesmo processo (em que era arguido) porque fez aprovar legislação que garante a imunidade dos titulares dos cargos políticos em exercício de funções. O que, realmente, surpreende, é o modo como tudo começou, a turbulência que já provocou na política inglesa e a confirmação de que a corrupção e o poder andam de mãos dadas em todo o lado. O caso remonta ao ano 2000, quando Tessa Jowell e o marido, David Mills, pediram um empréstimo avultado contra uma segunda hipoteca de uma das suas casas, investindo os proventos num fundo especulativo sedeado num offshore e pagando o empréstimo no mês seguinte com uns míseros USD 600.000,00 que David recebeu como prenda, valor alegadamente esportulado por Berlusconi como suborno pelo facto do inglês lhe ter salvo o pelo em dois julgamentos, mentindo aos juízes. A transacção veio a público em 2004, altura em que Tessa Powell, actual Ministra para o Jogos Olímpicos no Governo de Tiago Castanho, era secretária de Estado da Cultura, Comunicação e Desporto no consulado do Toneca Pinóquio. Apesar de Tessa Jowell ter assinado os documentos do empréstimo e da amortização, alegou sofrer da Sindrome do BPN e ter “bases razoáveis para acreditar que se tinha tratado de uma prenda”, o que foi suficiente para o então primeiro ministro. Pelo sim pelo não, em 2006 pôs termos ao seu casamento de 27 anos com David Mills, trocando, aparentemente, um marido por um lugar no governo. Politiquices! Existe um outro processo em que o advogado inglês é acusado de ter ajudado Berlusconi em manobras de evasão fiscal e lavagem de dinheiro, o qual está suspenso devido à tal lei da imunidade. A Ministério Público lá do sítio contestou a legitimidade da lei, assunto que se encontra para decisão no Tribunal Constitucional. Por mera coincidência, há uma vaga para juiz do Tribunal Constitucional e Berlusconi está a pensar nomear para ela o seu advogado pessoal. O pobre homem até diz que não quer ser juiz, já que a advocacia é que lhe dá pica, mas não há nada como uns milhões para uma sinecura que possa fazer legitimar a lei do dono. A novela (ou a falta dela) segue dentro de momentos.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Os servos de ontem e de hoje Giordano Bruno, jovem e irreverente teólogo e filósofo italiano, foi queimado na fogueira da inquisição há 409 anos, por defender, entre outras “heresias”, que o universo seria infinito e povoado por milhares de sistemas solares. Da vasta obra que publicou na sua curta vida, há um livro de 1584 intitulado De Infinito, Universo e Mondi (Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos), escrito em forma de carta ao Cavaleiro Michel de Castelnau, então embaixador da França em Inglaterra, cujo preâmbulo mantém, ainda hoje, toda a pertinência: Se eu, ilustríssimo Cavaleiro, manejasse um arado, apascentasse um rebanho, cultivasse uma horta, remendasse uma veste, ninguém me daria atenção, poucos me observariam, raras pessoas me censurariam e eu poderia facilmente agradar a todos. Mas, por ser eu delineador do campo da natureza, por estar preocupado com o alimento da alma, interessado pela cultura do espírito e dedicado à actividade do intelecto, eis que os visados me ameaçam, os observados me assaltam, os atingidos me mordem, os desmascarados me devoram. E não é só um, não são poucos, são muitos, são quase todos. Se quiserdes saber por que isto acontece, digo-vos que o motivo é que tudo me desagrada, detesto o vulgo, a multidão não me contenta. Somente uma coisa me fascina: aquela em virtude da qual me sinto livre na sujeição, contente no sofrimento, rico na indigência e vivo na morte. Aquela em virtude da qual não invejo os que são servos na liberdade, sofrem no prazer, são pobres nas riquezas e mortos em vida, porque trazem no próprio corpo os grilhões que os prendem, no espírito o inferno que os oprime, na alma o erro que os debilita, na mente o letargo que os mata. Não há, por isso, magnanimidade que os liberte nem longanimidade que os eleve, nem esplendor que os abrilhante, nem ciência que os avive. Qualquer semelhança entre os servos de há 425 anos e os opinantes “de referência” dos nossos dias não é pura coincidência.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Diarreia mental Na sua habitual “homilia rasca ” das segundas-feiras no Dário de Notícias, o sacristão contabilista de serviço insurge-se, hoje, contra as censuras feitas por algumas figuras públicas, entre as quais Mário Soares, ao seu chefe mor. Devo dizer que não morro de amores por Mário Soares, em quem apenas votei uma vez, na segunda volta das presidenciais de 1986, realizadas há precisamente 23 anos, por considerar ser o meu dever face às alternativas então em confronto. Mas isso não me impede de o respeitar e de reconhecer que, apesar da sua fraca queda para os números e do seu estilo algo trapalhão, Mário Soares tem uma estatura intelectual e humanista a que João César das Neves nunca poderá aspirar, por mais que acredite em milagres de uma pastora analfabeta ou de um papa polaco. Mário Soares, que sempre se assumiu como ateu - chegando a afirmar “sou ateu, graças a Deus” - é o actual presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, e não é por ter chamado cardeal ao arcebispo Marcel Lefèvre que deixa de, muito provavelmente, perceber bem mais de religião do que o JCN, que apenas deve ter estudado a doutrina católica pelo velho Catecismo de Pio X, que era o que vigorava quando ele era catraio; pelo que escreve, nunca terá sequer manuseado o actual Catecismo ou então não percebeu patavina. Contrariamente ao que afirma JCN, não é o Williamson quem tem de ser criticado, pois o que ele afirma é tão cretino que apenas merece comiseração ou mofa, não contestação. Quem deve ser criticado é quem tem reputação de pessoa altamente inteligente e, em cada cavadela, tira um balde de minhocas. Foi isso que Mário Soares fez, ainda que com uma enorme benevolência, a meu ver.

domingo, fevereiro 15, 2009

Apaguem o nome do meu avô… ...em Yad Vashem Jean-Moise Braitberg, escritor e jornalista francês de ascendência judia, cujo avô, Moshe Brajtberg, foi assassinado nas câmara de gás de Treblinka, escreveu uma carta ao Presidente de Israel, publicada no Jornal Le Monde em 29 de Janeiro de 2009, na qual pede que o nome do avô e de outros familiares seja retirado do Yad Vashem, o Memorial construído em Jerusalém em homenagem às vítimas judias do nazismo e em cujo exterior se encontra uma alameda de árvores, cada uma dedicada a um benfeitor dos judeus, entre as quais uma com o nome de Aristides Sousa Mendes. Senhor Presidente do Estado de Israel, Escrevo-lhe para que intervenha junto de quem de direito, a fim de que seja retirado do Memorial de Yad Vashem, dedicado à memória das vítimas judias do nazismo, o nome do meu avô, Moshe Brajtberg, gaseado em Treblinka em 1943, assim como os dos outros membros da minha família mortos no decurso da deportação em diferentes campos nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Rogo-lhe que atenda o meu pedido, senhor presidente, porque o que se passou em Gaza e, de um modo geral, o destino dado ao povo árabe da Palestina desde há sessenta anos, a meu ver desqualifica Israel como centro da memória do mal feito aos judeus, e portanto, a toda a humanidade. Repare que vivi, desde a minha infância, rodeado de sobreviventes dos campos da morte. Vi os números tatuados nos braços, ouvi os relatos das torturas; conheci os lutos impossíveis e partilhei os seus pesadelos. Era preciso, ensinaram-me, que estes crimes jamais recomecem; que jamais um homem, considerando-se superior pela sua pertença a uma etnia ou a uma religião, despreze outro ou o atropele nos seus direitos mais elementares, que são uma vida digna em segurança, a ausência de entraves, e a esperança, por mais longínqua que seja, dum futuro de serenidade e de prosperidade. Ora, senhor presidente, vejo que, apesar das várias dezenas de resoluções tomadas pela comunidade internacional, mau grado a evidência gritante da injustiça cometida contra o povo palestino desde 1948, apesar das esperanças nascidas em Oslo e apesar do reconhecimento do direito dos judeus israelitas a viver em paz e segurança, muitas vezes reafirmado pela Autoridade palestina, as únicas respostas dadas pelos sucessivos governos do seu país têm sido a violência, o sangue derramado, o encarceramento, os controlos incessantes, a colonização, as espoliações. Dir-me-á, senhor presidente, que é legítimo, para o seu país, defender-se contra os que lançam foguetes sobre Israel, ou contra os suicidas que arrastam com eles numerosas vidas israelitas inocentes. A isto responder-lhe-ei que o meu sentimento de humanidade não muda conforme a nacionalidade das vítimas. Pelo contrário, senhor presidente, o senhor dirige os destinos de um país que não só diz representar os judeus no seu conjunto, mas também a memória dos que foram vítimas do nazismo. É isso que me diz respeito e que me é insuportável. Mantendo no Memorial de Yad Vashem, no coração do Estado judeu, o nome dos meus parentes próximos, o seu Estado retém a minha memória familiar prisioneira detrás do arame farpado do sionismo, para a tornar refém de uma auto-proclamada autoridade moral que comete todos os dias a abominação que é a denegação de justiça. Portanto, faça o favor de retirar o nome do meu avô do santuário dedicado à crueldade feita aos judeus, a fim de que ele não mais justifique a que é feita aos palestinos. Queira aceitar, senhor presidente, o testemunho da minha respeitosa consideração. Jean-Moise Braitberg Imagem: À esquerda, judeus sob o jugo nazi; à direita, palestinos de Gaza sob a tirania sionista.

sábado, fevereiro 14, 2009

Ficaram-me as penas O pássaro fugiu, ficaram-me as penas da sua asa, nas mãos encantadas. Mas, que é a vida, afinal? Um vôo, apenas. Uma lembrança e outros pequenos nadas. Passou o vento mau, entre açucenas, deixou-me só corolas arrancadas... Despedem-se de mim glorias terrenas. Fica-me aos pés a poeira das estradas. A água correu veloz, fica-me a espuma. Só o tempo não me deixa coisa alguma até que da própria alma me despoje! Desfolhados os últimos segredos, quero agarrar a vida, que me foge, vão-se-me as horas pelos vãos dos dedos. Cassiano Ricardo* *poeta brasileiro

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Forte concorrência Nas vésperas de lançar a sua última acção de venda da banha da cobra, a que chamou “Fórum Portugal Verdade”, a líder do PSD viu aparecer, de uma penada, nada menos do que 30 fortíssimos concorrentes ao seu disputadíssimo lugar. Na verdade, foi anunciado no passado dia 9 que uma equipa de arqueólogos egípcios tinha descoberto um túmulo faraónico de há aproximadamente 4300 anos, contendo 30 múmias. O túmulo foi encontrado na zona de Gisr al Modir, a oeste da pirâmide de degraus de Saqqara, construída para o faraó Zhoser pelo arquitecto e médico Imhotep. Como sabe toda a gente com alguma informação sobre a antiga civilização egípcia, Imhotep, para além de óptimo arquitecto era um excelente médico e mumificador, que deixou a sua arte muito bem entregue aos seguidores, nada que se compare com o primeiro ministro de Portugal entre 1985 e 1995, que iniciou nas lides políticas Manuela Ferreira Leite. A dama que se cuide!

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Bicentenário

No dia em que se celebra o segundo centenário do nascimento do Grande Cientista, considero que não faria sentido, como leigo, escrever sobre ele, quando há tantos especialistas a darem o seu testemunho; não querendo, no entanto, deixar passar em claro o evento, remeto para “quem sabe da poda”, através de uma agradável coluna publicada hoje no jornal The New York Times, da autoria da cientista inglesa Olivia Judson, autora do celebérrimo “Consultório Sexual da Dra. Tatiana para toda a Criação”. Imagem: Estátua de Charles Darwin, no Museu de História Natural de Londres, fotografada por César Garcia

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Uma excrescência do fascismo
Em 11 de Fevereiro de 1929, cumprem-se hoje 80 anos, nasceu um novo estado, parido pelo Tratado de Latrão, que foi assinado pelo ditador fascista Benito Mussolini, então chefe do Governo italiano, e pelo cardeal Pietro Gasparri, secretário de Estado da Santa Sé. Para os meus correligionários de mente aberta, deixo aqui uma reflexão sobre o assunto, da autoria do Professor espanhol Luis Ángel Aguilar Montero, que advoga o encerramento do Vaticano, a venda das suas riquezas e a entregue do dinheiro aos pobres. Parece-me uma ideia a aprofundar, não só porque a Sé, que dizem Santa, podia muito bem existir sem o minúsculo estado, mas também porque se extinguiria essa espécie bizarra chamada Núncio Apostólico, que mais não é do que um representante religioso em estados pretensamente laicos, com as prerrogativas dos membros do Corpo Diplomático.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Obscurantismo e (falta de) inteligência Diz-se que Bento XVI é um homem muito inteligente, mas não parece, tal o rol de decisões altamente questionáveis que tem tomado ao longo do seu ainda curto papado. Agora foi a vez de abrir as portas a uns trogloditas que parecem viver no século XIX e de promover ao episcopado um austríaco de uma indigência mental de meter medo ao susto. Quanto aos primeiros, excluídos da Igreja em 1988 por terem sido ilegitimamente sagrados bispos pelo ultra-reaccionário arcebispo francês Marcel Lefebvre, criador e mentor da FSSPX, não é a negação, por parte de um deles, da existência de câmaras de gás nos campos de concentração nazis, aquilo que mais me preocupa. Negar a existência do holocausto é revelador de uma indigência moral esdrúxula e uma enorme estupidez, mas a estupidez ainda não paga impostos. E não é menos cretino punir como crime a negação do holocausto, como fazem alguns países europeus. Por mim, não sei se foram seis milhões de judeus (ou mais ou menos umas centenas de milhares). Foram vários milhões, dizimados nas câmaras de gás, assassinados a tiro, enforcados ou simplesmente deixados morrer de fome ou doença. Que foram acompanhados na sua sorte por vários outros milhões (fala-se em 5 milhões, que são normalmente esquecidos) de ciganos, comunistas, homossexuais, deficientes, etc, tudo pelo simples facto de não pertencerem à raça perfeita idealizada pelos nazis. O que me preocupa é que o mesmo Grande Inquisidor que silenciou e continua a silenciar centenas de teólogos que lutam por uma Igreja mais aberta à sociedade e irmanada com os mais desfavorecidos decida abrir as portas a indivíduos que não reconhecem a validade do Concílio Vaticano II, não admitem a liberdade religiosa, tratam com desprezo os crentes de outras confissões (sejam cristãos, judeus ou muçulmanos) e os não crentes, consideram que a liturgia deve ser sempre celebrada em latim e acham que as mulheres não devem usar calças nem frequentar as universidades. Basta dar uma espreitadela aos vários sítios da tal Fraternidade ou passar os olhos por algumas das cartas de Richard Williamson. Para cúmulo, dizem que Bento XVI não estava a par do negacionismo de Williamson. Como diz que disse? Então um papa que lança um canal próprio no YouTube não tem um gabinete de imprensa que o mantenha informado do que se vai passando? Ou será que o seu magistério pastoral se situa ao nível da participação de Dias Loureiro na administração do BPN? Como uma desgraça nunca vem só, poucos dias depois um padre austríaco, Gerhard Maria Wagner de seu nome, foi nomeado bispo auxiliar de Linz. Pois este cavalheiro tem uma noção muito peculiar de algumas realidades. Em 2001 tinha condenado os livros do Harry Potter, de JK Rowlings, por “espalharem o satanismo”. E em 2005 afirmou que a destruição de Nova Orleãs pelo furacão Katrina era uma “punição divina” pela atitude libertina da cidade relativamente à promiscuidade sexual e à homossexualidade. “Não é, seguramente, por mero acidente que as cinco clínicas de Nova Orleãs que praticavam o aborto, assim como os clubes nocturnos, foram destruídos”, escreveu; e acrescentou: “não foi apenas uma velha cidade que ficou submersa, mas a cidade dos sonhos das pessoas, com os melhores bordéis e as mais bonitas prostitutas”. Palavras de que quem, certamente, sabe daquilo que fala!

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Chamamento rouba da gaivota ao vôo a musicalidade e na cidade faz a partitura de tuas dores criatura com mãos de todos os andores encharcadas de suor, de mil licores constrói a nova poesia guarda a solidão da praça vazia no bolso do casaco e com pés e direitos feridos, abre estradas amadas, demais amadas, marcadas como versos na rocha rouba aos olhos todos os rancores que os senhores não abaterão teu brio teu amanhã será depois de amanhã e não ficarás na outra margem do rio. Carvalho Neto* *poeta brasileiro

domingo, fevereiro 08, 2009

Prioridades Na Televisão Pública, o jornal das 13H00 começou com futebol, 16 minutos de futebol, logo no início. Foram 9 minutos para o Porto - Benfica, com directos e entrevistas a treinadores, jornalistas e outros “especialistas”, seguidos de mais 3 minutos para Sporting – Braga e, ainda, mais 4 minutos para outras insignificâncias. Eu até gosto de ver um bom jogo de futebol, mas o que é demais, enoja. Há fogos incontroláveis na Austrália, com temperaturas a atingirem 48 graus numa das principais cidade e mais de 700 casas ardidas e 84 mortos nos seus arredores? Tomem lá futebol! Há milhares de jovens a beberem “shots” em excesso e a porem em causa todo o futuro de um país? A bola é que está a dar! Cai um avião na Amazónia e morrem algumas dezenas de pessoas? O Quique Flores repreende o Reyes publicamente e isso não se faz! Houve uma manifestação em Badajoz contra a instalação de uma refinaria que vai pôr em causa parte da agricultura da Estremadura e da Andaluzia e reduzir a escombros os projectos para o maior lago artificial da Europa? O Cristian Rodrigues marca golos do caraças! O Amorim quer despedir mais de 200 trabalhadores? O Porto joga sempre à zona e não vai alterar o tipo de jogo por causa do Swazo! Uma empresa portuguesa criou um novo tipo de tecido que é quente quando faz frio e é frio quando está calor? O Liedson não joga! Há 5 minhotas que todos os dias atravessam a fronteira para desempenharem cargos de chefia numa grande empresa galega? Sai uma entrevista ao Maniche! A Administração da RTP e a Direcção de Programas não batem bem da bola e não fazem a mínima ideia do que deve ser um serviço público? Dêem-lhes mais bola e o Tony Carreia, que eles ficam extasiados! E assim se acabou uma hora de pretenso serviço público que terá custada um balúrdio aos contribuintes? Chamem a polícia, gaita!

sábado, fevereiro 07, 2009

(dis)Semelhanças - I
À esquerda, crianças judias num campo de concentração nazi e, à direita, crianças de Gaza num campo de concentração sionista.
Apelo Oiçam, por favor, antes que seja demasiado tarde! Durante os últimos quarenta anos a história provou que o conflito Israelo-Palestino não pode ser resolvido pela força. Todo o esforço, todos os meios e recursos de imaginação e reflexão possíveis, devem , agora, ser utilizados para encontrar um novo caminho. Uma nova iniciativa que mitigue o medo e o sofrimento, reconheça a injustiça que foi feita e conduza à segurança de Israelitas e Palestinos, de igual forma. Uma iniciativa que exija a todos as partes uma responsabilidade comum: assegurar direitos e dignidade iguais a ambos os povos e assegurar o direito de cada pessoa a ultrapassar o passado e a aspirar a um futuro. Este apelo, cujo primeiro signatário é o reputado músico e maestro Daniel Barenboim, foi subscrito por dezenas de intelectuais de todo o mundo (cineastas de primeiro plano, escritores galardoados com o Nobel da literatura, compositores, filósofos, cantores, actores, etc) e divulgado esta semana num diário de Jerusalém. A lista completa dos subscritores pode ser encontrada aqui.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Convivências…Cunbibências! Acabei de ouvir que o Porto é sócio honorário do Benfica. Parece que a “coisa” vem desde a inauguração do antigo campo de Contumil, em 1950, com a presença de Sexa., o Presidente da (des)República) e de Sexa., o Presidente do (des)Conselho e da inauguração do antigo campo de Carnide, em 1952, com a presença dos mesmos Sexas. Pró pintinho e pró orelhas, o amor está no ar, penso eu de que!
Fruto e Canto É a polpa da claridade e o sonho oscilante do som que pousam fundo em nós. Como visões imaginárias vindas da inexistência do longe real. Violados os obscuros universos - o fruto e o canto - só nos restam o frio da luz e a resignação dos mortos. Carvalho Filho* - in Poemas Terminais, 1999 *poeta brasileiro

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Gestão pública e gestão privada Os nossos aprendizes neo-liberais defensores do “menos estado, melhor estado”, costumam alicerçar a sua curteza de vistas no argumento de que o estado não está vocacionado para gerir determinado tipo de negócios. Vai daí, privatizem-se a posse da terra e os recursos naturais, a actividade financeira, a saúde, a educação, a justiça, a água e até o ar que respirámos: Repartam-se os ganhos pelos privados que exploram aquilo quer devia ser público e se houver prejuízos, socializem-se os prejuízos fazendo-os pagar a todos os contribuintes. É o chamado “socialismo limão” em todo o seu esplendor: os contribuintes suportam os custos se as coisas correrem mal, mas os accionistas e os executivos ficam com os benefícios quando as coisas correm bem. Para esses vendedores da banha da cobra, que tal uma leitura atenta da coluna que o economista liberal e prémio Nobel da Economia 2008, Paul Krugman, publicou no The New York Times do passado dia 2, significativamente intitulada Resgates para Trapalhões?

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

(dis)Semelhanças À esquerda, crianças judias num campo de concentração nazi e, à direita, crianças de Gaza num campo de concentração sionista
Para poder morrer Para poder morrer Guardo insultos e agulhas Entre as sedas do luto. Para poder morrer Desarmo as armadilhas Me estendo entre as paredes Derruídas. Para poder morrer Visto as cambraias E apascento os olhos Para novas vidas. Para poder morrer apetecida Me cubro de promessas Da memória. Porque assim é preciso Para que tu vivas. Hilda Hilst* *poetisa brasileira falecida há 5 anos

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Idiotice vergonhosa Os Estados Unidos ficaram em polvorosa quando um relatório do Auditor de Contas do Estado de Nova Iorque revelou que os executivos de Wall Street, responsáveis pelo caos em que se encontra a economia mundial e beneficiários de centenas de milhares de milhões de dólares do dinheiro dos contribuintes, tinham oferecido a si mesmos quase 20 mil milhões de dólares em bónus. Desde programas de televisão a colunas nos jornais, passando pela venda de camisolas com a frase “eu odeio Wall Street”, os clamores da revolta são mais do que muitos. “Isso é o cúmulo da irresponsabilidade”, disse o Presidente Obama. “É vergonhoso. Parte daquilo de que necessitamos é que as pessoas de Wall Street que estão a pedir ajuda mostrem alguma contenção, mostrem alguma disciplina e mostrem algum sentido de responsabilidade”. “Tempos virão em que eles obterão ganhos e tempos virão para eles terem bónus. Mas, agora, não é esse tempo. E esta é a mensagem que tenho a intenção de lhes enviar directamente, e espero que o Secretário Geithner a envie a eles. Por sua vez, a senadora democrata do Missouri, Claire McCaskill, fez um diagnóstico ainda mais cru dos “Senhores do Universo” sem vergonha e sem senso: “Essas pessoas são uns idiotas” O caso mais aberrante é o da Merril Lynch que, numa manobra pouco usual, decidiu pagar, ainda em Dezembro, mais de 4 mil milhões de dólares em bónus, num trimestre em que teve perdas de 21 mil milhões. Jon Stewart, no “The Daily Show”, passou um vídeo do CEO da Merril Lynch a defender os bónus como forma de manter “as melhores pessoas”. No fim, Jon Stewart gritou: “vocês não tem ‘melhores pessoas’! Vocês perderam 27 mil milhões de dólares. Vocês vivem num Mundo à Parte”? Não se infira disto que eu sou contra os bónus de desempenho, pois não sou. Mas tudo tem um limite e muito mais quando não há lucros. Na minha opinião, os bónus exagerados são um erro crasso, porque levam à assumpção temerária de riscos muito elevados. E o erro passa a ser indesculpável quando são atribuídos em função dos objectivos de curto prazo, com menosprezo dos objectivos de médio/longo prazo, pois os executivos dedicam-se a “comprar crescimento” em vez de se concentrarem em “construir crescimento”. Não será por acaso que, cá no burgo, o grupo financeiro (grandinho) que mais tem sofrido com a crise é aquele que, até há poucos anos, reservava 10% dos resultados para bónus ao conselho de administração.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Perplexidades A nossa justiça anda extremamente mediatizada, pelo que não percebo a decisão tomada por Cândida Almeida (e autorizada por Pinto Ribeiro) de ir à RTP1 falar com a Judite de Sousa sobre o caso Freeport (ou Fripor, em inglês técnico). A Sra. até é simpática e disse algumas coisas interessantes. Não tendo a cara de pau da Maria José Morgado, também não tem o mesmo poder de encaixe, mas teve sorte porque a Judite, desta vez, decidiu bater a bolinha baixa. Enquanto o Ministério Público e os Juízes fizerem finca pé numa presença constante nos media, a justiça apenas anda a reboque dos (maus) jornalistas. Marinho e Pinto (gosto imenso do e, pois dá uma sensação de compadrio) arrotou umas postas de pescada numa cerimónia qualquer e disse que são inadmissíveis as buscas aos escritórios dos advogados, tudo gente honesta. O bastonário falou com a prosápia de um extra-terrestre acabado de chegar da nebulosa de Andrómeda, perfeitamente consciente da sua superioridade intelectual e moral relativamente aos pobres terráqueos. Só assim se compreende que nunca tenha ouvido falar de um tal Vale e Azevedo (outros vez o e - serão familiares?) e de outros que tais. Na mesma cerimónia, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça disse que o sigilo profissional era um entrave ao poder judicial. Mas não disse quem iria autorizar o acesso às contas dos Juízes, incluindo as dele e dos seus pares. Eu, no lugar dele, também andava chateado com os bancos. Então não é que os malandros conseguem guardar segredo das contas dos clientes, coisa que o sistema judicial não consegue fazer? Como não estou no lugar dele, acho muito bem a existência do sigilo bancário, pois os nossos bancos são muito mais confiáveis do que o nosso sistema de justiça.

domingo, fevereiro 01, 2009

Choque Hoje estava preparado para escrever sobre outro assunto mas, face a uma notícia do telejornal das 13H00 da RTP1, não posso deixar de manifestar a minha estupefacção, aqui e agora. Eu já sabia que o neo-colonialismo dos países do Norte os levava ao aliciamento de especialistas do Sul, principalmente na área dos cuidados de saúde onde, anualmente, milhares de médicos e enfermeiros são “sangrados” às antigas colónias da África e da América Latina. Pois a tal notícia deu conta de uma campanha de aliciamento de médicos da América Latina e de língua castelhana para virem colmatar as faltas do nosso Serviço Nacional de Saúde, deficiência essa da exclusiva responsabilidade da Ordem dos Médicos e dos Ministérios quem têm tutelado o ensino superior em Portugal, ao permitir que a primeira estabeleça o inexplicável numerus clasus e o segundo ao não limitar o acesso à medicina aos que revelem aptidão para a profissão. Ao longo dos anos, a milhares de jovens tem sido negado o acesso ao curso de Medicina, com base nas premissas de médias absurdas e dos limites impostos pela Ordem, tendo como corolário o acesso ao curso de alunos com altas classificações mas sem qualquer aptidão, muitos dos quais desistem pelo caminho ou se transformam em médicos cujo único fito é ganhar dinheiro à custa das saúde dos cidadãos. Sempre pensei que, em algumas profissões, era necessário um exame vocacional, e medicina e enfermagem são duas delas. Eu, por exemplo, nunca conseguiria ser um bom médico ou um bom enfermeiro, apenas um medíocre em qualquer dos papeis. A única diferença para muitos desses pseudo-profissionais, é que consegui reconhecê-lo antes de tentar a profissão. Mas conheço muita pessoas que dariam óptimos médicos, mas não conseguiram entrar no curso porque tiveram, apenas, uma média de 18 valores, quando o exigido passava pelos 19. Quem me conhece sabe que eu sei do que falo.