O que espanta no processo que levou à condenação do advogado inglês David Mills não são os quatro anos e meios de prisão que, certamente, não cumprirá, nem o facto de ser advogado de Sílvio Berlusconi, que se vangloriou o ano passado do seu historial com a justiça, dizendo:“eu sou o detentor do recorde mundial de processos em toda a história da humanidade – e também na de outros seres que vivem noutros planetas”. Afinal, advogados corruptos existem aos montes e a lábia do comendador é sobejamente conhecida. Aliás, ele não pôde ser julgado no mesmo processo (em que era arguido) porque fez aprovar legislação que garante a imunidade dos titulares dos cargos políticos em exercício de funções.
O que, realmente, surpreende, é o modo como tudo começou, a turbulência que já provocou na política inglesa e a confirmação de que a corrupção e o poder andam de mãos dadas em todo o lado.
O caso remonta ao ano 2000, quando Tessa Jowell e o marido, David Mills, pediram um empréstimo avultado contra uma segunda hipoteca de uma das suas casas, investindo os proventos num fundo especulativo sedeado num offshore e pagando o empréstimo no mês seguinte com uns míseros USD 600.000,00 que David recebeu como prenda, valor alegadamente esportulado por Berlusconi como suborno pelo facto do inglês lhe ter salvo o pelo em dois julgamentos, mentindo aos juízes.
A transacção veio a público em 2004, altura em que Tessa Powell, actual Ministra para o Jogos Olímpicos no Governo de Tiago Castanho, era secretária de Estado da Cultura, Comunicação e Desporto no consulado do Toneca Pinóquio.
Apesar de Tessa Jowell ter assinado os documentos do empréstimo e da amortização, alegou sofrer da Sindrome do BPN e ter “bases razoáveis para acreditar que se tinha tratado de uma prenda”, o que foi suficiente para o então primeiro ministro. Pelo sim pelo não, em 2006 pôs termos ao seu casamento de 27 anos com David Mills, trocando, aparentemente, um marido por um lugar no governo. Politiquices!
Existe um outro processo em que o advogado inglês é acusado de ter ajudado Berlusconi em manobras de evasão fiscal e lavagem de dinheiro, o qual está suspenso devido à tal lei da imunidade. A Ministério Público lá do sítio contestou a legitimidade da lei, assunto que se encontra para decisão no Tribunal Constitucional. Por mera coincidência, há uma vaga para juiz do Tribunal Constitucional e Berlusconi está a pensar nomear para ela o seu advogado pessoal. O pobre homem até diz que não quer ser juiz, já que a advocacia é que lhe dá pica, mas não há nada como uns milhões para uma sinecura que possa fazer legitimar a lei do dono.
A novela (ou a falta dela) segue dentro de momentos.
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