Páginas

segunda-feira, fevereiro 29, 2016

A Visão

Mirei-me na profundeza
dos teus olhos
negros
e desejei-me Senhor
do tempo

Vi-me alado nas tuas crinas
e o mar de desejos
por onde cavalgávamos
transformava cúmplice a branca espuma
em dossel carmin

José Carlos Souza Santos 

(poeta sergipiano)

domingo, fevereiro 28, 2016

Os domingos

Todas as funções da alma estão perfeitas neste domingo.
O tempo inunda a sala, os quadros, a fruteira.
Não há um crédito desmedido de esperança
Nem a verdade dos supremos desconsolos –
Simplesmente a tarde transparente,
Os vidros fáceis das horas preguiçosas,
Adolescência das cores, preciosas andorinhas.

Na tarde – lembro – uma árvore parada,
A alma caminhava para os montes,
Onde o verde das distâncias invencidas
Inventava o mistério de morrer pela beleza.
Domingo – lembro – era o instante das pausas,
O pouso dos tristes, o porto do insofrido.
Na tarde, uma valsa; na ponte, um trem de carga;
No mar, a desilusão dos que longe se buscaram;
No declive da encosta, onde a vista não vai,
Os laranjais de infindáveis doçuras geométricas;
Na alma, os azuis dos que se afastam,
O cristal intocado, a rosa que destoa.
Dos meus domingos sempre fiz um claustro.
As pétalas caíam no dorso das campinas,
A noite aclarava os sofrimentos,
As crianças nasciam, os mortos se esqueciam mortos,
Os ásperos se calavam, os suicidas se matavam.
Eu, prisioneiro, lia poemas nos parques,
Procurando palavras que espelhassem os domingos.
E uma esperança que não tenho.


(escritor mineiro nascido faz hoje 94 anos)

sábado, fevereiro 27, 2016

Meditação Anciã

Aqui eu fui feliz aqui fui terra
aqui fui tudo quanto em mim se encerra
aqui me senti bem aqui o vento veio
aqui gostei de gente e tive mãe
em cada árvore e até em cada folha
aqui enchi o peito e mesmo até desfeito
eu fui aquele que da vida vil se orgulha
Aqui fiquei em tudo aquilo em que passei
um avião um riso uns olhos uma luz
eu fui aqui aquilo tudo até a que me opus


(Ruy Belo faria hoje 83 anos)

sexta-feira, fevereiro 26, 2016

A Possibilidade de uma Ilha

Minha vida, minha vida, minha muito ancestral
Mal cumprido o meu primeiro voto
Repudiado o meu primeiro amor,
Precisei do teu retorno.

Precisei de conhecer
O que a vida tem de melhor,
Quando dois corpos brincam com a felicidade
E se unem e renascem sem fim.

Dominado por uma dependência total,
Sei o estremecimento do ser
A hesitação em desaparecer,
O sol que incide de través

E o amor, onde tudo é fácil,
Onde tudo é dado no momento;
Existe no meio do tempo
A possibilidade de uma ilha.


(Michel Houellebecq faz hoje 58 anos)

quinta-feira, fevereiro 25, 2016

Poemas da negra - I

Não sei por que espírito antigo
Ficamos assim impossíveis...
A Lua chapeia os mangues
Donde sai um favor de silêncio
E de maré.
És uma sombra que apalpo
Que nem um cortejo de castas rainhas.
Meus olhos vadiam nas lágrimas.
Te vejo coberta de estrelas,
Coberta de estrelas,
Meu amor!
Tua calma agrava o silêncio dos
Mangues


(poeta paulista falecido a 25 de Fevereiro de 1945)

quarta-feira, fevereiro 24, 2016

Do Tempo ao Coração

E volto a murmurar    Do cântico de amor
gerado na Suméria      às novas europutas
Do muito que me dás ao muito que não dou
mas que sempre conservo entre as coisas mais puras

De uma genebra a mais num bar de Amsterdão
a não perder o pé numa praia da Grécia
De tantas       tantas mãos          que nos passam pelas mãos
a tão poucas que são as que nunca se esquecem

De ter visto o começo e o fim da Via Ápia
De ter atravessado o muro de Berlim
De outros muros que não aparecem no mapa
De outros muros que só aparecem aqui

ao barro deste céu que te modela os ombros
ao sopro deste céu que te solta o cabelo
ao riso deste céu que vem ao nosso encontro
quando sabe que nós não precisamos dele

Da pertinaz presença          E da longevidade
do corvo         do chacal            do louco          do eunuco
ao rouxinol que morre em plena madrugada
à rosa que adormece em caules de um minuto

Do que foi noutro tempo a saúde no campo
à lepra que nos rói a paisagem bucólica
Do tempo          ao coração minado pelo cancro
Dos rins             ao infinito incubado na cólera

Do tempo ao coração            mas com pausa na pele
como «Roma by night» entre dois aviões
como passar o Verão numa vogal aberta
como dizer que não         que já não somos dois

Dos rins ao infinito       A este       que não outro
Ao que rola dos rins    Ao que vai rebentar-te
na câmara blindada e nocturna do útero
E nos transfere o fim para um pouco mais tarde

Da curva de entretanto       à entrada do poço
De soletrar em mim       a ler       nas tuas mãos
como é rápido       e lento      e recto       e sinuoso
o percurso que vai do tempo ao coração.


(David Mourão-Ferreira nasceu faz hoje 89 anos)

terça-feira, fevereiro 23, 2016

A magnólia

A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor.
.
Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária, e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.

A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,

um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.


(poetisa lisboeta falecida faz hoje 27 anos)

segunda-feira, fevereiro 22, 2016

Nos Teus Gestos

Nos teus gestos há animais em liberdade
e o brilho doce que só têm as cerejas.
É neles que adormeço, e dos teus dedos
retiro a luz azul dos arquipélagos.

Os teus gestos são letras, sílabas, poemas.
Os teus gestos são páginas inteiras. São
a tua boca a namorar na minha boca,
o cio dos séculos a saudar o tempo.

São os teus gestos que me acordam. Gestos
que vestem o silêncio fundo das ravinas
e assinalam a água dos desertos.

Os teus gestos são música. São lume.
São a respiração do teu olhar. A seara
de espigas que ondula no meu corpo.


(Joaquim Pessoa faz hoje 68 anos)

domingo, fevereiro 21, 2016

Diz-me a Verdade acerca do Amor

Há quem diga que o amor é um rapazinho,
E quem diga que ele é um pássaro;
Há quem diga que faz o mundo girar,
E quem diga que é um absurdo,
E quando perguntei ao meu vizinho,
Que tinha ar de quem sabia,
A sua mulher zangou-se mesmo muito,
E disse que isso não servia para nada.

Será parecido com uns pijamas,
Ou com o presunto num hotel de abstinência?
O seu odor faz lembrar o dos lamas,
Ou tem um cheiro agradável?
É áspero ao tacto como uma sebe espinhosa
Ou é fofo como um edredão de penas?
É cortante ou muito polido nos seus bordos?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Os nossos livros de história fazem-lhe referências
Em curtas notas crípticas,
É um assunto de conversa muito vulgar
Nos transatlânticos;
Descobri que o assunto era mencionado
Em relatos de suicidas,
E até o vi escrevinhado
Nas costas dos guias ferroviários.

Uiva como um cão de Alsácia esfomeado,
Ou ribomba como uma banda militar?
Poderá alguém fazer uma imitação perfeita
Com um serrote ou um Steinway de concerto?
O seu canto é estrondoso nas festas?
Ou gosta apenas de música clássica?
Interrompe-se quando queremos estar sossegados?
Ah! diz-me a verdade acerca do amor.

Espreitei a casa de verão,
E não estava lá,
Tentei o Tamisa em Maidenhead
E o ar tonificante de Brighton,
Não sei o que cantava o melro,
Ou o que a tulipa dizia;
Mas não estava na capoeira,
Nem debaixo da cama.

Fará esgares extraordinários?
Enjoa sempre num baloiço?
Passa todo o seu tempo nas corridas?
Ou a tocar violino em pedaços de cordel?
Tem ideias próprias sobre o dinheiro?
Pensa ser o patriotismo suficiente?
As suas histórias são vulgares mas divertidas?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Chega sem avisar no instante
Em que meto o dedo no nariz?
Virá bater-me à porta de manhã,
Ou pisar-me os pés no autocarro?
Virá como uma súbita mudança de tempo?
O seu acolhimento será rude ou delicado?
Virá alterar toda a minha vida?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.


(W.H. Auden nasceu a 21 de Fevereiro de 1907)

sábado, fevereiro 20, 2016

Teimosia

Tantas palavras te digo
incansável te procurei
e no silêncio da muralha te ocultas
às vezes voo
poiso no dorso do teu camelo
canto para ti, o rouxinol da manhã

 e só o Sol deixas entrar em ti
queres-te pleno independente sábio
na esteira da noite te acolhes
sem Lua sem nada
e a mulher em mim teima
o impossível na tua descrença

vergando-nos o tempo
gelados dilacerados famintos


(poetisa montemorense que hoje faz 54 anos)
Perder

Perder é começar. A minha vida
foi movimento em cerne opaco e frígido...
E quando sei que este momento eterno
em mim percorre sulcos, veias, sonhos,
outro momento abraça-me o porvir -
e desconheço a margem onde navegar,
onde aportar o peso do caminho.

Perder é começar. Por isso a ténue sombra
desenha no sigilo os abismais instantes
onde existiu, uma vez, qualquer destino exacto.


(poeta albicastrense que hoje faz 80 anos)

sexta-feira, fevereiro 19, 2016

Amostra sem valor

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.


(Rómulo Vasco da Gama de Carvalho faleceu faz hoje 19 anos)

quinta-feira, fevereiro 18, 2016

A mudança

Mudo todas as horas.
E o tempo, sem demora,
muda mais do que fia.

Mudo mas permaneço
bem longe das mudanças.
Como uma flor, floresço.
Sou pétala e esperança.

Mudo e sou sempre o mesmo,
igual a um tiro a esmo.
Como um rio que corre.

Sem sair de onde estou,
de tanto mudar sou
o que vive e o que morre.


(poeta alagoano nascido faz hoje 92 anos)

quarta-feira, fevereiro 17, 2016

Reencarnação

Quando, no eterno, fúnebre quadrante,
Meu momento final soar, cair;
Quando tu vieres, lacrimosa amante,
Todo de roxos lírios me cobrir;

Nesse supremo, nesse infindo instante,
A que constelações irei subir?
Em que estrela fantástica e radiante
Irei de novo ser e amar e rir?...

Que formas outras, nessas outras vidas,
Florindo sob estranhos firmamentos,
Irá o meu espírito sofrer?

Cansado das angústias doloridas
Da existência de agora - que tormentos
Irei de novo em outros mundos ter?


(poeta pernambucano nascido faz hoje 118 anos)

terça-feira, fevereiro 16, 2016

Fatalidade

Não sei tecer
senão espumas,
nuvens
e brumas.
Coisas breves,
leves,
que o vento desfaz.

Como prender-te
em teia tão frágil?


(Luísa Dacosta nasceu faz hoje 89 anos)
Mutação

Esse amor
que me empurra
pra vida,
ainda é o mesmo
que me construiu.
Então, porque o tempo
agindo, impassível,
transforma o mundo
e parece mudar
as formas de amar?
sentimento vivo,
essência de vida,
mudou, fora de mim,
ou mudei eu?


(poeta catarinense que hoje faz 63 anos)

segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Maquinomem

O homem esposou a máquina
e gerou um híbrido estranho:
um cronômetro no peito
e um dínamo no crânio.
As hemácias de seu sangue
são redondos algarismos.

Crescem cactos estatísticos
em seus abstratos jardins.

Exato planejamento,
a vida do maquinomem.
Trepidam as engrenagens
no esforço das realizações.

Em seu íntimo ignorado,
há uma estranha prisioneira,
cujos gritos estremecem
a metálica estrutura;
há reflexos flamejantes
de uma luz imponderável
que perturbam a frieza
do blindado maquinomem.


(poetisa paranaense falecida faz hoje 12 anos)
Antropomorfismo

A LUZ sinuosa salta sobre os troncos duros.
De ramo em ramo as folhas todas se lambem,
línguas tremulas, breves, céleres batendo!

Escorre mel do ar...

As mãos do vento baixam sobre o corpo moreno da terra áspera, excitante.

No silencio morno, fatigado, vertiginoso,
caem gotas pesadas de resina pelo chão...


(poeta carioca falecido faz hoje 81 anos)

domingo, fevereiro 14, 2016

Estar no Mundo

Ao corpo colados a silenciosas
colunas de sal pavimentados eis os muros
paralelos eis as rápidas deformações da
linguagem (cálido ascetismo)
de quem arde por dentro - estar no mundo
é teu caminho estar na cólera
lavrada
e sobre si mesma dobrada e a guerra
mastigar a morte seca a subalimentada
explosão do corpo deformações suicídio
quotidiano - tal a poesia
se reflecte na luz a erosão do poema
o apodrece e movimenta - cinza mineral
entre restos de música e pão –


(poeta louletano que hoje faz 78 anos)
Os crentes 

Não inquiriram para onde seguiam.
E atravessaram serranias íngremes,
tabuleiros estéreis e chapadas rasas
na marcha cadenciada pelo toar das ladainhas
e pelo passo tardo do profeta...
TOCAIA

Dentre as frinchas,
dentre os esconderijos,
dentre as moitas esparsas, aprumados
no alto dos muramentos rudes,
ou em despenhos ao viés das vertentes
- apareceram os jagunços,
num repentino deflagrar de tiros.
Toda a expedição caiu, de ponta a ponta,
debaixo das trincheiras do Cambaio.


(poeta paulista que hoje faz 85 anos)

sábado, fevereiro 13, 2016

 Tempo de esquecer

Sabes que sou como um rio abandonado
no sedento leito do esquecimento,
e a tua vã lembrança tão unido
como a água ao seu céu refletido;

Sabes que sou como o tempo desfolhado
na mão final do que foi perdido
e, como um horizonte proibido,
me envolves o sonho vigilante;

Sabes que sou como o ar, destinado
ao voo de tuas aves, som ferido
surdidor rouxinol e enamorado:

Sobre este coração crepuscular
e por turvas marés assaltado,
tornas-te nuvem voando para o esquecimento.


(poeta colombianos falecido faz hoje 31 anos)
El futuro

Y sé muy bien que no estarás.
No estarás en la calle,
en el murmullo que brota de noche
de los postes de alumbrado,
ni en el gesto de elegir el menú,
ni en la sonrisa que alivia
los completos de los subtes,
ni en los libros prestados
ni en el hasta mañana.

No estarás en mis sueños,
en el destino original
de mis palabras,
ni en una cifra telefónica estarás
o en el color de un par de guantes
o una blusa.
Me enojaré amor mío,
sin que sea por ti,
y compraré bombones
pero no para ti,
me pararé en la esquina
a la que no vendrás,
y diré las palabras que se dicen
y comeré las cosas que se comen
y soñaré las cosas que se sueñan
y sé muy bien que no estarás,
ni aquí adentro, la cárcel
donde aún te retengo,
ni allí fuera, este río de calles
y de puentes.
No estarás para nada,
no serás ni recuerdo,
y cuando piense en ti
pensaré un pensamiento
que oscuramente
trata de acordarse de ti.


(escritor argentino falecido faz hoje 32 anos)

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Limite

A mulher está perfeita.
Seu corpo

Morto enverga o sorriso de completude,
A ilusão de necessidade

Grega voga pelos veios da sua toga,
Seus pés

Nus parecem dizer:
Já caminhamos tanto, acabou.

Cada criança morta, enrodilhada, cobra branca,
Uma para cada pequena

Tigela de leite vazia.
Ela recolheu-as todas

Em seu corpo, como pétalas
Da rosa que se encerra, quando o jardim

Enrija e aromas sangram
Da fenda doce, funda, da flor noturna.

A lua não tem porque estar triste
Espectadora de touca

De osso; ela está acostumada.
Suas crateras trincam, fissura.


(poetisa estado-unidense falecida faz hoje 53 anos) 

Tradução de Luiz Carlos de Brito Rezende

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Privatizado

Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário.
E agora, não contentes, querem privatizar o conhecimento, a sabedoria,
o pensamento, que só à humanidade pertence.


(Bertold Brecht nasceu faz hoje 118 anos)
Para quê chorar

Para quê chorar
Se as suas mãos são limpas
A sua culpa inocente
E a mudez das suas vozes
Bandeiras desfraldadas?

Chorar só porque levam
A esperança amachucada
Na sua mala de contratados;
Chorar só porque sangram os seus pés
Na lonjura dos caminhos;
Chorar só porque eles choram
Como choram os meninos sem pão
- Não, não vale a pena chorar!

Para quê chorar
Se na sua mala de contratados
Levam também os farrapos das suas afrontas?


(poeta cabo-verdiano que hoje faz 81 anos)
No lugar do medo

Todos os dias aqui tu te observas
E ainda está oculta (aqui) a tua semente

Comum será a tua raiz
                                     comum
ao olor da fêmea que atua no teu leito

Sê criativo o dia todo
Te empenha o dia todo cauteloso
                                                   voa
mesmo hesitante sobre o teu malogro

Quer sigas o fogo, quer sigas a água
sê só do fogo ou só da água
(pois que não há caminho
e a lei
é o inesperado)

Ainda oculta (aqui) a tua semente
                                                    Está


(poeta paraense falecido faz hoje 7 anos)

segunda-feira, fevereiro 08, 2016

Vai-te, Poesia!

Vai-te, Poesia!

Deixa-me ver a vida
exacta e intolerável
neste planeta feito de carne humana a chorar
onde um anjo me arrasta todas as noites para casa pelos cabelos
com bandeiras de lume nos olhos,
para fabricar sonhos
carregados de dinamite de lágrimas.

Vai-te, Poesia!

Não quero cantar.
Quero gritar!


(José Gomes Ferreira faleceu faz hoje 31 anos)
Chegaram as Estrelas

As estrelas chegaram úmidas
E suas frias pétalas pousaram
No meu rosto seco.
As estrelas chegaram trêmulas.
Pareciam flores que o vento esfolhara,
Da noturna árvore.

Murado e exausto,
Que consolo encontro nas estrelas
Que chegaram de repente!
Falaram-me de suas viagens,
Das regiões nuas que atravessaram,
Das fontes que cantam pelos espaços,
Das vozes que se ascendem em caminhos nunca vistos,
Na figura de Aglaia adormecida no céu,
E no sorriso de infância que na sua face flutua.
As estrelas chegaram loucas dos seus infinitos silêncios.
E falavam incessantemente.
Foi o orvalho de suas asas
Que molhou meus olhos!


(poeta carioca falecido faz hoje 51 anos)

domingo, fevereiro 07, 2016

Restaurante

Leva-me outra vez para a mesma mesa
onde fico de costas para a janela
onde o tempo me esquece
onde nada me toca
o teu gesto protege
o teu corpo separa
a água que me dás
interrompe a memória

Só à porta da rua
o tempo reaparece.


(Yvette Centeno faz hoje 76 anos)

sábado, fevereiro 06, 2016

Gary Moore faleceu faz hoje 5 anos