How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
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segunda-feira, fevereiro 29, 2016
domingo, fevereiro 28, 2016
Os domingos
Todas as
funções da alma estão perfeitas neste domingo.
O tempo
inunda a sala, os quadros, a fruteira.
Não há um
crédito desmedido de esperança
Nem a
verdade dos supremos desconsolos –
Simplesmente
a tarde transparente,
Os vidros
fáceis das horas preguiçosas,
Adolescência
das cores, preciosas andorinhas.
Na tarde –
lembro – uma árvore parada,
A alma
caminhava para os montes,
Onde o verde
das distâncias invencidas
Inventava o
mistério de morrer pela beleza.
Domingo –
lembro – era o instante das pausas,
O pouso dos
tristes, o porto do insofrido.
Na tarde,
uma valsa; na ponte, um trem de carga;
No mar, a
desilusão dos que longe se buscaram;
No declive
da encosta, onde a vista não vai,
Os laranjais
de infindáveis doçuras geométricas;
Na alma, os
azuis dos que se afastam,
O cristal
intocado, a rosa que destoa.
Dos meus
domingos sempre fiz um claustro.
As pétalas
caíam no dorso das campinas,
A noite
aclarava os sofrimentos,
As crianças
nasciam, os mortos se esqueciam mortos,
Os ásperos
se calavam, os suicidas se matavam.
Eu,
prisioneiro, lia poemas nos parques,
Procurando
palavras que espelhassem os domingos.
E uma
esperança que não tenho.
(escritor
mineiro nascido faz hoje 94 anos)
sábado, fevereiro 27, 2016
Meditação
Anciã
Aqui eu fui
feliz aqui fui terra
aqui fui
tudo quanto em mim se encerra
aqui me
senti bem aqui o vento veio
aqui gostei
de gente e tive mãe
em cada
árvore e até em cada folha
aqui enchi o
peito e mesmo até desfeito
eu fui
aquele que da vida vil se orgulha
Aqui fiquei
em tudo aquilo em que passei
um avião um
riso uns olhos uma luz
eu fui aqui
aquilo tudo até a que me opus
(Ruy Belo
faria hoje 83 anos)
sexta-feira, fevereiro 26, 2016
A
Possibilidade de uma Ilha
Minha vida,
minha vida, minha muito ancestral
Mal cumprido
o meu primeiro voto
Repudiado o
meu primeiro amor,
Precisei do
teu retorno.
Precisei de
conhecer
O que a vida
tem de melhor,
Quando dois
corpos brincam com a felicidade
E se unem e
renascem sem fim.
Dominado por
uma dependência total,
Sei o
estremecimento do ser
A hesitação
em desaparecer,
O sol que
incide de través
E o amor,
onde tudo é fácil,
Onde tudo é
dado no momento;
Existe no
meio do tempo
A
possibilidade de uma ilha.
(Michel
Houellebecq faz hoje 58 anos)
quinta-feira, fevereiro 25, 2016
Poemas da
negra - I
Não sei por
que espírito antigo
Ficamos
assim impossíveis...
A Lua
chapeia os mangues
Donde sai um
favor de silêncio
E de maré.
És uma
sombra que apalpo
Que nem um
cortejo de castas rainhas.
Meus olhos
vadiam nas lágrimas.
Te vejo
coberta de estrelas,
Coberta de
estrelas,
Meu amor!
Tua calma
agrava o silêncio dos
Mangues
(poeta
paulista falecido a 25 de Fevereiro de 1945)
quarta-feira, fevereiro 24, 2016
Do Tempo ao
Coração
E volto a
murmurar Do cântico de amor
gerado na
Suméria às novas europutas
Do muito que
me dás ao muito que não dou
mas que
sempre conservo entre as coisas mais puras
De uma
genebra a mais num bar de Amsterdão
a não perder
o pé numa praia da Grécia
De
tantas tantas mãos que nos passam pelas mãos
a tão poucas
que são as que nunca se esquecem
De ter visto
o começo e o fim da Via Ápia
De ter
atravessado o muro de Berlim
De outros
muros que não aparecem no mapa
De outros
muros que só aparecem aqui
ao barro
deste céu que te modela os ombros
ao sopro
deste céu que te solta o cabelo
ao riso
deste céu que vem ao nosso encontro
quando sabe
que nós não precisamos dele
Da pertinaz
presença E da longevidade
do
corvo do chacal do louco do eunuco
ao rouxinol
que morre em plena madrugada
à rosa que
adormece em caules de um minuto
Do que foi
noutro tempo a saúde no campo
à lepra que
nos rói a paisagem bucólica
Do
tempo ao coração minado pelo
cancro
Dos
rins ao infinito incubado na
cólera
Do tempo ao
coração mas com pausa na pele
como «Roma
by night» entre dois aviões
como passar
o Verão numa vogal aberta
como dizer
que não que já não somos dois
Dos rins ao
infinito A este que não outro
Ao que rola
dos rins Ao que vai rebentar-te
na câmara
blindada e nocturna do útero
E nos
transfere o fim para um pouco mais tarde
Da curva de
entretanto à entrada do poço
De soletrar
em mim a ler nas tuas mãos
como é
rápido e lento e recto e sinuoso
o percurso
que vai do tempo ao coração.
(David
Mourão-Ferreira nasceu faz hoje 89 anos)
terça-feira, fevereiro 23, 2016
A magnólia
A exaltação
do mínimo,
e o
magnífico relâmpago
do
acontecimento mestre
restituem-me
a forma
o meu
resplendor.
.
Um diminuto
berço me recolhe
onde a
palavra se elide
na matéria -
na metáfora -
necessária, e
leve, a cada um
onde se ecoa
e resvala.
A magnólia,
o som que se
desenvolve nela
quando
pronunciada,
é um
exaltado aroma
perdido na
tempestade,
um mínimo
ente magnífico
desfolhando
relâmpagos
sobre mim.
(poetisa
lisboeta falecida faz hoje 27 anos)
segunda-feira, fevereiro 22, 2016
Nos Teus
Gestos
Nos teus
gestos há animais em liberdade
e o brilho
doce que só têm as cerejas.
É neles que
adormeço, e dos teus dedos
retiro a luz
azul dos arquipélagos.
Os teus
gestos são letras, sílabas, poemas.
Os teus
gestos são páginas inteiras. São
a tua boca a
namorar na minha boca,
o cio dos
séculos a saudar o tempo.
São os teus
gestos que me acordam. Gestos
que vestem o
silêncio fundo das ravinas
e assinalam
a água dos desertos.
Os teus
gestos são música. São lume.
São a
respiração do teu olhar. A seara
de espigas
que ondula no meu corpo.
(Joaquim
Pessoa faz hoje 68 anos)
domingo, fevereiro 21, 2016
Diz-me a
Verdade acerca do Amor
Há quem diga
que o amor é um rapazinho,
E quem diga
que ele é um pássaro;
Há quem diga
que faz o mundo girar,
E quem diga
que é um absurdo,
E quando
perguntei ao meu vizinho,
Que tinha ar
de quem sabia,
A sua mulher
zangou-se mesmo muito,
E disse que
isso não servia para nada.
Será
parecido com uns pijamas,
Ou com o
presunto num hotel de abstinência?
O seu odor
faz lembrar o dos lamas,
Ou tem um
cheiro agradável?
É áspero ao
tacto como uma sebe espinhosa
Ou é fofo
como um edredão de penas?
É cortante
ou muito polido nos seus bordos?
Ah, diz-me a
verdade acerca do amor.
Os nossos
livros de história fazem-lhe referências
Em curtas
notas crípticas,
É um assunto
de conversa muito vulgar
Nos
transatlânticos;
Descobri que
o assunto era mencionado
Em relatos
de suicidas,
E até o vi
escrevinhado
Nas costas
dos guias ferroviários.
Uiva como um
cão de Alsácia esfomeado,
Ou ribomba
como uma banda militar?
Poderá
alguém fazer uma imitação perfeita
Com um
serrote ou um Steinway de concerto?
O seu canto
é estrondoso nas festas?
Ou gosta
apenas de música clássica?
Interrompe-se
quando queremos estar sossegados?
Ah! diz-me a
verdade acerca do amor.
Espreitei a
casa de verão,
E não estava
lá,
Tentei o
Tamisa em Maidenhead
E o ar
tonificante de Brighton,
Não sei o
que cantava o melro,
Ou o que a
tulipa dizia;
Mas não
estava na capoeira,
Nem debaixo
da cama.
Fará esgares
extraordinários?
Enjoa sempre
num baloiço?
Passa todo o
seu tempo nas corridas?
Ou a tocar
violino em pedaços de cordel?
Tem ideias
próprias sobre o dinheiro?
Pensa ser o
patriotismo suficiente?
As suas
histórias são vulgares mas divertidas?
Ah, diz-me a
verdade acerca do amor.
Chega sem
avisar no instante
Em que meto
o dedo no nariz?
Virá
bater-me à porta de manhã,
Ou pisar-me
os pés no autocarro?
Virá como
uma súbita mudança de tempo?
O seu
acolhimento será rude ou delicado?
Virá alterar
toda a minha vida?
Ah, diz-me a
verdade acerca do amor.
(W.H. Auden
nasceu a 21 de Fevereiro de 1907)
sábado, fevereiro 20, 2016
Teimosia
Tantas
palavras te digo
incansável
te procurei
e no
silêncio da muralha te ocultas
às vezes voo
poiso no
dorso do teu camelo
canto para
ti, o rouxinol da manhã
e só o Sol deixas entrar em ti
queres-te
pleno independente sábio
na esteira
da noite te acolhes
sem Lua sem
nada
e a mulher
em mim teima
o impossível
na tua descrença
vergando-nos
o tempo
gelados
dilacerados famintos
(poetisa
montemorense que hoje faz 54 anos)
Perder
Perder é
começar. A minha vida
foi
movimento em cerne opaco e frígido...
E quando sei
que este momento eterno
em mim
percorre sulcos, veias, sonhos,
outro
momento abraça-me o porvir -
e desconheço
a margem onde navegar,
onde aportar
o peso do caminho.
Perder é
começar. Por isso a ténue sombra
desenha no
sigilo os abismais instantes
onde
existiu, uma vez, qualquer destino exacto.
(poeta
albicastrense que hoje faz 80 anos)
sexta-feira, fevereiro 19, 2016
Amostra sem
valor
Eu sei que o
meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem
o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se
entretém
e se julga
intangível.
Eu sei que a
Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o
Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o
respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num
total que tende para infinito.
Eu sei que
as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo
o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta
insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou
eu, com nebulosas e tudo.
(Rómulo
Vasco da Gama de Carvalho faleceu faz hoje 19 anos)
quinta-feira, fevereiro 18, 2016
A mudança
Mudo todas
as horas.
E o tempo,
sem demora,
muda mais do
que fia.
Mudo mas
permaneço
bem longe
das mudanças.
Como uma
flor, floresço.
Sou pétala e
esperança.
Mudo e sou
sempre o mesmo,
igual a um
tiro a esmo.
Como um rio
que corre.
Sem sair de
onde estou,
de tanto
mudar sou
o que vive e
o que morre.
(poeta
alagoano nascido faz hoje 92 anos)
quarta-feira, fevereiro 17, 2016
Reencarnação
Quando, no
eterno, fúnebre quadrante,
Meu momento
final soar, cair;
Quando tu
vieres, lacrimosa amante,
Todo de
roxos lírios me cobrir;
Nesse
supremo, nesse infindo instante,
A que
constelações irei subir?
Em que
estrela fantástica e radiante
Irei de novo
ser e amar e rir?...
Que formas
outras, nessas outras vidas,
Florindo sob
estranhos firmamentos,
Irá o meu
espírito sofrer?
Cansado das
angústias doloridas
Da
existência de agora - que tormentos
Irei de novo
em outros mundos ter?
(poeta
pernambucano nascido faz hoje 118 anos)
terça-feira, fevereiro 16, 2016
segunda-feira, fevereiro 15, 2016
Maquinomem
O homem
esposou a máquina
e gerou um
híbrido estranho:
um
cronômetro no peito
e um dínamo
no crânio.
As hemácias
de seu sangue
são redondos
algarismos.
Crescem
cactos estatísticos
em seus
abstratos jardins.
Exato
planejamento,
a vida do
maquinomem.
Trepidam as
engrenagens
no esforço
das realizações.
Em seu
íntimo ignorado,
há uma
estranha prisioneira,
cujos gritos
estremecem
a metálica
estrutura;
há reflexos
flamejantes
de uma luz
imponderável
que
perturbam a frieza
do blindado
maquinomem.
(poetisa
paranaense falecida faz hoje 12 anos)
Antropomorfismo
A LUZ
sinuosa salta sobre os troncos duros.
De ramo em
ramo as folhas todas se lambem,
línguas
tremulas, breves, céleres batendo!
Escorre mel
do ar...
As mãos do
vento baixam sobre o corpo moreno da terra áspera, excitante.
No silencio
morno, fatigado, vertiginoso,
caem gotas
pesadas de resina pelo chão...
(poeta
carioca falecido faz hoje 81 anos)
domingo, fevereiro 14, 2016
Estar no
Mundo
Ao corpo
colados a silenciosas
colunas de
sal pavimentados eis os muros
paralelos
eis as rápidas deformações da
linguagem
(cálido ascetismo)
de quem arde
por dentro - estar no mundo
é teu
caminho estar na cólera
lavrada
e sobre si
mesma dobrada e a guerra
mastigar a
morte seca a subalimentada
explosão do
corpo deformações suicídio
quotidiano -
tal a poesia
se reflecte
na luz a erosão do poema
o apodrece e
movimenta - cinza mineral
entre restos
de música e pão –
(poeta
louletano que hoje faz 78 anos)
Os
crentes
Não
inquiriram para onde seguiam.
E
atravessaram serranias íngremes,
tabuleiros
estéreis e chapadas rasas
na marcha
cadenciada pelo toar das ladainhas
e pelo passo
tardo do profeta...
TOCAIA
Dentre as
frinchas,
dentre os
esconderijos,
dentre as
moitas esparsas, aprumados
no alto dos
muramentos rudes,
ou em
despenhos ao viés das vertentes
- apareceram
os jagunços,
num
repentino deflagrar de tiros.
Toda a
expedição caiu, de ponta a ponta,
debaixo das
trincheiras do Cambaio.
(poeta
paulista que hoje faz 85 anos)
sábado, fevereiro 13, 2016
Sabes que
sou como um rio abandonado
no sedento
leito do esquecimento,
e a tua vã
lembrança tão unido
como a água
ao seu céu refletido;
Sabes que
sou como o tempo desfolhado
na mão final
do que foi perdido
e, como um
horizonte proibido,
me envolves
o sonho vigilante;
Sabes que
sou como o ar, destinado
ao voo de
tuas aves, som ferido
surdidor
rouxinol e enamorado:
Sobre este
coração crepuscular
e por turvas
marés assaltado,
tornas-te nuvem
voando para o esquecimento.
(poeta colombianos
falecido faz hoje 31 anos)
sexta-feira, fevereiro 12, 2016
El futuro
Y sé muy
bien que no estarás.
No estarás
en la calle,
en el
murmullo que brota de noche
de los
postes de alumbrado,
ni en el
gesto de elegir el menú,
ni en la
sonrisa que alivia
los
completos de los subtes,
ni en los
libros prestados
ni en el
hasta mañana.
No estarás
en mis sueños,
en el
destino original
de mis
palabras,
ni en una
cifra telefónica estarás
o en el
color de un par de guantes
o una blusa.
Me enojaré
amor mío,
sin que sea
por ti,
y compraré
bombones
pero no para
ti,
me pararé en
la esquina
a la que no
vendrás,
y diré las
palabras que se dicen
y comeré las
cosas que se comen
y soñaré las
cosas que se sueñan
y sé muy
bien que no estarás,
ni aquí
adentro, la cárcel
donde aún te
retengo,
ni allí
fuera, este río de calles
y de puentes.
No estarás
para nada,
no serás ni
recuerdo,
y cuando
piense en ti
pensaré un
pensamiento
que
oscuramente
trata de
acordarse de ti.
(escritor
argentino falecido faz hoje 32 anos)
quinta-feira, fevereiro 11, 2016
Limite
A mulher
está perfeita.
Seu corpo
Morto
enverga o sorriso de completude,
A ilusão de
necessidade
Grega voga
pelos veios da sua toga,
Seus pés
Nus parecem
dizer:
Já
caminhamos tanto, acabou.
Cada criança
morta, enrodilhada, cobra branca,
Uma para
cada pequena
Tigela de
leite vazia.
Ela
recolheu-as todas
Em seu
corpo, como pétalas
Da rosa que
se encerra, quando o jardim
Enrija e
aromas sangram
Da fenda
doce, funda, da flor noturna.
A lua não
tem porque estar triste
Espectadora
de touca
De osso; ela
está acostumada.
Suas
crateras trincam, fissura.
(poetisa
estado-unidense falecida faz hoje 53 anos)
Tradução de Luiz
Carlos de Brito Rezende
quarta-feira, fevereiro 10, 2016
Privatizado
Privatizaram
sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa
privada o seu passo em frente,
seu pão e
seu salário.
E agora, não
contentes, querem privatizar o conhecimento, a sabedoria,
o
pensamento, que só à humanidade pertence.
(Bertold
Brecht nasceu faz hoje 118 anos)
Para quê
chorar
Para quê
chorar
Se as suas
mãos são limpas
A sua culpa
inocente
E a mudez
das suas vozes
Bandeiras
desfraldadas?
Chorar só
porque levam
A esperança
amachucada
Na sua mala
de contratados;
Chorar só
porque sangram os seus pés
Na lonjura
dos caminhos;
Chorar só
porque eles choram
Como choram
os meninos sem pão
- Não, não
vale a pena chorar!
Para quê
chorar
Se na sua
mala de contratados
Levam também
os farrapos das suas afrontas?
(poeta
cabo-verdiano que hoje faz 81 anos)
terça-feira, fevereiro 09, 2016
No lugar do
medo
Todos os
dias aqui tu te observas
E ainda está
oculta (aqui) a tua semente
Comum será a
tua raiz
comum
ao olor da
fêmea que atua no teu leito
Sê criativo
o dia todo
Te empenha o
dia todo cauteloso
voa
mesmo
hesitante sobre o teu malogro
Quer sigas o
fogo, quer sigas a água
sê só do
fogo ou só da água
(pois que
não há caminho
e a lei
é o inesperado)
Ainda oculta
(aqui) a tua semente
Está
(poeta
paraense falecido faz hoje 7 anos)
segunda-feira, fevereiro 08, 2016
Vai-te, Poesia!
Vai-te,
Poesia!
Deixa-me ver
a vida
exacta e
intolerável
neste
planeta feito de carne humana a chorar
onde um anjo
me arrasta todas as noites para casa pelos cabelos
com
bandeiras de lume nos olhos,
para
fabricar sonhos
carregados
de dinamite de lágrimas.
Vai-te,
Poesia!
Não quero
cantar.
Quero
gritar!
(José Gomes
Ferreira faleceu faz hoje 31 anos)
Chegaram as
Estrelas
As estrelas
chegaram úmidas
E suas frias
pétalas pousaram
No meu rosto
seco.
As estrelas
chegaram trêmulas.
Pareciam
flores que o vento esfolhara,
Da noturna
árvore.
Murado e
exausto,
Que consolo
encontro nas estrelas
Que chegaram
de repente!
Falaram-me
de suas viagens,
Das regiões
nuas que atravessaram,
Das fontes
que cantam pelos espaços,
Das vozes
que se ascendem em caminhos nunca vistos,
Na figura de
Aglaia adormecida no céu,
E no sorriso
de infância que na sua face flutua.
As estrelas
chegaram loucas dos seus infinitos silêncios.
E falavam
incessantemente.
Foi o
orvalho de suas asas
Que molhou
meus olhos!
(poeta
carioca falecido faz hoje 51 anos)