Os domingos
Todas as
funções da alma estão perfeitas neste domingo.
O tempo
inunda a sala, os quadros, a fruteira.
Não há um
crédito desmedido de esperança
Nem a
verdade dos supremos desconsolos –
Simplesmente
a tarde transparente,
Os vidros
fáceis das horas preguiçosas,
Adolescência
das cores, preciosas andorinhas.
Na tarde –
lembro – uma árvore parada,
A alma
caminhava para os montes,
Onde o verde
das distâncias invencidas
Inventava o
mistério de morrer pela beleza.
Domingo –
lembro – era o instante das pausas,
O pouso dos
tristes, o porto do insofrido.
Na tarde,
uma valsa; na ponte, um trem de carga;
No mar, a
desilusão dos que longe se buscaram;
No declive
da encosta, onde a vista não vai,
Os laranjais
de infindáveis doçuras geométricas;
Na alma, os
azuis dos que se afastam,
O cristal
intocado, a rosa que destoa.
Dos meus
domingos sempre fiz um claustro.
As pétalas
caíam no dorso das campinas,
A noite
aclarava os sofrimentos,
As crianças
nasciam, os mortos se esqueciam mortos,
Os ásperos
se calavam, os suicidas se matavam.
Eu,
prisioneiro, lia poemas nos parques,
Procurando
palavras que espelhassem os domingos.
E uma
esperança que não tenho.
(escritor
mineiro nascido faz hoje 94 anos)
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