A miragem
Não direi
que a tua visão desapareceu dos meus olhos sem vida 
Nem que a
tua presença se diluiu na névoa que veio. 
Busquei
inutilmente acorrentar-te a um passado de dores 
Inutilmente.
Vieste - tua
sombra sem carne me acompanha 
Como o tédio
da última volúpia. 
Vieste - e
contigo um vago desejo de uma volta inútil 
E contigo
uma vaga saudade… 
És qualquer
coisa que ficará na minha vida sem termo 
Como uma
aflição para todas as minhas alegrias. 
Tu és a
agonia de todas as posses 
És o frio de
toda a nudez 
E vã será
toda a tentativa de me libertar da tua lembrança. 
Mas quando
cessar em mim todo o desejo de vida 
E quando eu
não for mais que o cansaço da minha caminhada pela areia 
Eu sinto que
me terás como me tinhas no passado - 
Sinto que me
virás oferecer a água mentirosa 
Da miragem. 
Talvez num
ímpeto eu prefira colar a boca à areia estéril 
Num desejo
de aniquilamento. 
Mas não.
Embora sabendo que nunca alcançarei a tua imagem 
Que estará
suspensa e me prometerá água 
Embora
sabendo que tu és a que foge 
Eu me
arrastarei para os teus braços.
(Vinícius de
Moraes faleceu faz hoje 35 anos)
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