How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
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quarta-feira, dezembro 31, 2014
A Lua e a
rosa
No silêncio
estrelado
a Lua se
dava à rosa
e o aroma da
noite
enchia -
sedenta boca -
o paladar do
espírito,
que
adormecendo sua angústia
se abria ao
céu nocturno
de Deus e
sua Mãe toda...
Toda cabelos
tranquilos,
a Lua,
tranquila e só,
acariciava a
Terra
com seus
cabelos de rosa
silvestre,
branca, escondida...
A Terra,
desde suas rochas,
soprou suas
entranhas
fundidas de
amor, seu aroma ...
Entre os
arbustos, seu ninho,
era outra
lua a rosa,
toda cabelos
enrolados
no berço,
sua corola;
as
cabeleiras enroladas
da Lua e da
rosa
e no cadinho
da noite
fundidas
numa só...
No silêncio
estrelado
a Lua se
dava à rosa
enquanto a
rosa se dava
à Lua,
quieta e só.
(Miguel de
Unamuno faleceu a 31 de Dezembro de 1936)
terça-feira, dezembro 30, 2014
segunda-feira, dezembro 29, 2014
domingo, dezembro 28, 2014
Pelo dever
PELO DEVER
de resistir
e caminhar
pelos
destroços da nossa utopia,
eis-nos aqui
de novo, acocorados,
aqui onde o
tempo pára
e as coisas
mudam.
E PARA QUE O
NOSSO SONHO RENASÇA
com a
levitação do vento e do grão,
eis-nos aqui
de novo,
passivos
como os espelhos,
no tear da
nossa existência.
ESTE SEMPRE
SERÁ
O nosso
amanhecer.
E a nossa
perseverança
é como a da
erva daninha
que
lentamente desponta na pedra nua.
(poeta
moçambicano que hoje faz 52 anos)
sábado, dezembro 27, 2014
sexta-feira, dezembro 26, 2014
A Encomenda
do Silêncio
Já reparaste
que tens o mundo inteiro
dentro da
tua cabeça
e esse mundo
em brutal compressão dentro da tua cabeça
é o teu
mundo
e já
reparaste que eu tenho o mundo inteiro
dentro da
minha cabeça
e esse mundo
em brutal compressão dentro da minha cabeça
é o meu
mundo
o qual neste
momento não te está a entrar pelos olhos
mas através
dos nomes
pois o que
tu tens dentro da tua cabeça
e o que eu
tenho dentro da minha cabeça
são os nomes
do mundo em brutal compressão
como um
filtro ou coador
de forma que
nem és tu que conheces o mundo
nem sou eu
que conheço o mundo
mas os nomes
que tu conheces é que conhecem o mundo
e os nomes
que eu conheço é que conhecem o mundo
o qual entra
em ti e o qual entra em mim
através dos
nomes que já tem
de forma que
o que entra pelos meus olhos não pode
entrar pelos
teus olhos
mas só pela
tua cabeça através
dos nomes
dados pela minha cabeça
àquilo que
entrou pelos meus olhos já com nomes
e do mesmo
modo
o que entra
pelos teus olhos não pode
entrar pelos
meus olhos
mas só pela
minha cabeça através
dos nomes
dados pela tua cabeça
àquilo que
entrou pelos teus olhos já com nomes
e assim o
que tu vês
já está
normalmente dentro de ti antes de tu o veres
e assim o
que eu vejo
já está
normalmente dentro de mim antes de eu o ver
e tudo
quanto tu possas ver para aquém ou para além dos nomes
é indizível
e fica dentro de ti
e tudo
quanto eu possa ver para aquém ou para além dos nomes
é indizível
e fica dentro de mim
e é assim
que vamos construindo a nós mesmos pela segunda vez
tu a ti e eu
a mim...
construindo
urna consciência irrepetível e intransmissível
cada vez
mais intensa e em si
tu em ti eu
em mim
no entanto
continuando a falar um com o outro
tu comigo e
eu contigo
cada um
tentando
dizer ao outro
como é o
mundo inteiro que tem dentro da cabeça
e porque é e
para que é
tu o teu
mundo que tens dentro da tua cabeça
eu o meu
mundo que tenho dentro da minha cabeça
até que
morra um de nós
e depois o
outro...
(escritor
portuense que hoje faz 77 anos)
quinta-feira, dezembro 25, 2014
Natal
O
que
a palavra
Natal
quis dizer é
o que
continua
a querer
dizer: a
celebração
dum nascimento.
A celebração
porque um
nascimento é
uma
afirmação de vida, uma
afirmação de
continuidade
de vida. O
nascimento duma criança
deveria ser
sempre ocasião para
alegria,
júbilo, confiança. Mas a palavra
Natal-nascimento,
que durante gerações
simbolizou o
renascer da esperança
da salvação,
hoje tem cada vez mais uma contrapartida
excessivamente
dramática, pois hoje,
quantas são
as crianças cujo nascimento é símbolo
de esperança
e quantas são aquelas cujo nascimento
é símbolo de
miséria, decadência, abandono? Para que
nascem as
crianças hoje? Quem as faz nascer? Porque as
fazem
nascer? Para quê as fazem nascer? Para que mundo?
Para que destino?
Para que esperança? Para que lutas? Para que
sofrimentos?
A misericórdia divina precisa do apoio dos homens.
Sejamos
instrutivos para os que fazem nascer as crianças sem saberem
porquê e
impiedosos para os que as fazem nascer para o desespero
e para o
terror. Se o culto do Natal é o culto da criança salvadora da espécie,
da sociedade
e do destino dos homens, então que se cuide da criança cuidando
do mundo
para onde ela é trazida,
para o mundo
onde ela terá de
viver, para
que ela possa ser a continuada
afirmação da
vida e da esperança.
Não se pode
celebrar o símbolo
e descurar o
seu fundamento.
Ana
Hatherly
quarta-feira, dezembro 24, 2014
o eterno
retorno
me lembro
bem, eu já fui um deus
daqueles que
moviam mundos e fundos
bastava rir
para ver tudo florir
mas aqueles
que eu chamava de meus
aqueles que
deveriam ter fé
foram
virando as costas
e, sem mais
nem menos, me largaram a pé
sem
perguntas e sem respostas
eu sabia que
a sensação de estar só
como tudo
nesse mundo
um belo dia,
retornaria ao pó
e assim me
tornei um vagabundo
um inútil
pária das estrelas
um monumento
ao nada que sirva
um sinônimo
de ovelha
não de
pastor ou cristo ou shiva
o mundo era
meu, estava escrito,
no entanto,
não tomei posse
e nem deixei
o bem dito pelo maldito
mas se a luz
é sombra até que se mostre
encontrei no
breu o farol da volta
a poesia me
pegou na veia
e, com mil
poetas como escolta,
voltei à
vida com a caneta cheia!
(poeta
paranaense nascido a 24 de Dezembro de 1950)
terça-feira, dezembro 23, 2014
segunda-feira, dezembro 22, 2014
Gemo
Gemo em tom
menor
no acorde
rouco
de um
plangente violino.
Gemo a
sensação
de estar bem
leve,
a soltar
brados
de gemido
rouco.
Gemo bem
baixinho
e nesse meu
gemido
eu ponho
todo o coração.
Gemo, enfim,
na madrugada
fria
em boa
companhia.
E gemendo
continuo
trocando
êxtases,
vivendo
fôlegos,
amando
sôfrego.
Gemo.
(poeta
pernambucano que hoje faz 67 anos)
domingo, dezembro 21, 2014
Vida
A Paula Romero
Después de
todo, todo ha sido nada,
a pesar de
que un día lo fue todo.
Después de
nada, o después de todo
supe que
todo no era más que nada.
Grito
«¡Todo!», y el eco dice «¡Nada!».
Grito
«¡Nada!», y el eco dice «¡Todo!».
Ahora sé que
la nada lo era todo,
y todo era
ceniza de la nada.
No queda
nada de lo que fue nada.
(Era ilusión
lo que creía todo
y que, en
definitiva, era la nada.)
Qué más da
que la nada fuera nada
si más nada
será, después de todo,
después de
tanto todo para nada.
(poeta
madrileno falecido faz hoje 12 anos)
sábado, dezembro 20, 2014
Poesia
é a visita
do tempo nos teus olhos,
é o beijo do
mundo nas palavras
por onde
passa o rio do teu nome;
é a secreta
distância em que tocas
o princípio
leve dos meus versos;
é o amor
debruçado no silêncio
que te cerca
e que te esconde:
como num
bosque, lento, ouvimos
o coração de
uma fonte não sei onde...
(poeta
português nascido em Lourenço Marques a 20 de Dezembro de 1927 e falecido em
Espanha em 1975, de acidente de viação)
sexta-feira, dezembro 19, 2014
Há palavras
que nos beijam
Há palavras
que nos beijam
Como se
tivessem boca,
Palavras de
amor, de esperança,
De imenso
amor, de esperança louca.
Palavras
nuas que beijas
Quando a
noite perde o rosto,
Palavras que
se recusam
Aos muros do
teu desgosto.
De repente
coloridas
Entre
palavras sem cor,
Esperadas,
inesperadas
Como a
poesia ou o amor.
(O nome de
quem se ama
Letra a
letra revelado
No mármore
distraído,
No papel
abandonado)
Palavras que
nos transportam
Aonde a
noite é mais forte,
Ao silêncio
dos amantes
Abraçados
contra a morte.
(Alexandre
O'Neill nasceu faz hoje 90 anos)
O poeta é o
portador
O poeta é o
portador. Carrega tudo,
Mas ele
mesmo é a carga e o encarregado,
Tal, na
aldeia dos sãos, é o surdo-mudo,
Cheio deles
e de si, triste pasmado.
A força do
Sentido o faz escudo
Do fogo que
não pode ser roubado
Enquanto
ofereça o coração agudo
À guerra em
que nasceu para soldado.
Sua coragem
na palavra o espera,
Aguardado
silêncio pensativo,
Como a hora
que a torre negra dera
Além da
meia-noite e antes da hora
Prima, que a
madrugada álgida chora,
Lágrima a
tempo, átono som cativo.
(Vitorino
Nemésio nasceu faz hoje 113 anos)
quinta-feira, dezembro 18, 2014
Cantos de
Pisac – III
Astronauta,
A mil millas
del mundo que los hombres crearan
Para nunca
conducir,
Algo conoces
de esta tierra
Y algo
olvidas,
Algo conoces
de las aguas,
Y relatas
solitario a tus espacios:
En
Atlántida, cuando se hunde océano
Brillan
oxidadas las máscaras de los esclavos.
Piensa ahora
que te anudas a las tardes
Con el limo
en los ojos.
Piensa, con
un niño en el pómulo celeste:
A la vuelta
está el viento,
El paisaje
deleznable de las nieves.
No temas
nunca el mar
Que también
tiembla.
No juzgues
la carrera del Sol
Coronado por
los zorros.
Suelta tus
manos en los vuelos ajados del alambre:
En la última
esquina del tiempo,
Mendigando
en retorno, condenado,
Hallarás las
mil fases de lo eterno.
(poeta
peruano que hoje faria hoje 73 anos)
quarta-feira, dezembro 17, 2014
terça-feira, dezembro 16, 2014
segunda-feira, dezembro 15, 2014
São assim os
meus dias
Pus-me à
janela
a ver passar
os barcos
carregados
de espuma.
Navegavam
nos teus olhos verdes
com as
flâmulas agitadas
pelos ventos
alísios.
Só depois de
passarem
reparei que
estavas
tão longe de
mim
como eu
estava dos barcos
carregados
de espuma.
São assim os
meus dias à janela
enquanto
espero pelo teu regresso.
(escritor
amadorense que hoje faz 66 anos)
domingo, dezembro 14, 2014
Janelas no
Mar
- No meio do
mar, há janelas sobre janelas.
- A rede.
Adivinhação
africana
Há sobre o
mar janelas e janelas:
são redes,
são cantigas e são velas.
Panos-da-costa
vão se desdobrando
no mistério
das águas flutuando.
A floresta é
vencida pela areia
mas o mar só
se curva à lua cheia.
Anda comigo,
amada. O amor humano
pode descer
ao fundo chão do oceano.
E ressurgir
das águas e sobre elas
caminhar bem
mais leve do que as velas.
O céu morreu
nas mãos donas do espaço.
Resta a
Terra. Tão só! Dá-me teu braço.
Vem comigo.
O mar se abre à nossa dor
e os peixes
pasmarão com o nosso amor.
E no
silêncio móvel copiarão
nossos
gestos contidos de paixão.
(escritor
maranhense nascido faz hoje 100 anos)