O poeta é o
portador
O poeta é o
portador. Carrega tudo,
Mas ele
mesmo é a carga e o encarregado,
Tal, na
aldeia dos sãos, é o surdo-mudo,
Cheio deles
e de si, triste pasmado.
A força do
Sentido o faz escudo
Do fogo que
não pode ser roubado
Enquanto
ofereça o coração agudo
À guerra em
que nasceu para soldado.
Sua coragem
na palavra o espera,
Aguardado
silêncio pensativo,
Como a hora
que a torre negra dera
Além da
meia-noite e antes da hora
Prima, que a
madrugada álgida chora,
Lágrima a
tempo, átono som cativo.
(Vitorino
Nemésio nasceu faz hoje 113 anos)
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