O tímpano e
a pupila
Num dos
pratos o mar, no outro um rio, agora 
que o tempo
se desossa, 
que as
pedras 
que piso se
me enterram na memória e os caminhos 
se me aguçam
na alma como lâminas, o pão 
molhado nas
feridas, 
o pão 
ele próprio
já também uma ferida, agora 
que o tempo,
que já tanto 
compararam a
um rio, mais 
não é do que
uma leve exsudação nos muros, 
nas mãos,
agora 
que o céu se
encrespa e que pedaços 
de mundo
arremessados 
com toda a
força aos olhos revolteiam 
na treva
antes de se extinguirem, 
mais magro
do que a neve 
caminho, a
alma aberta como uma ferida, 
ao longo da
memória, onde se fundem 
o tímpano e
a pupila. 
(Luís Miguel
Nava faria hoje 56 anos)
1 comentário:
Que poema mais dolorido!
Excelente domingo e boa votação!
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